[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 11 de março de 2011



À rasca

Uma breve nota em véspera de manifestação pública de descontentamento. Nenhuma outra, nos últimos anos, me terá suscitado tamanhas reservas. Enfim, não resisto partilhar a minha preocupação convosco. Todavia, desde logo, confesso a maior dificuldade na sistematização das ideias, uma vez que os nebulosos e quase misteriosos promotores do protesto evidenciaram total incapacidade de redacção de um manifesto claro, escorreito, com objectivos bem definidos.

Assim sendo, terei de confirmar que, bem ao corrente do muito primarismo que revestem as atitudes de uma substancial camada de jovens portugueses, profundos desconhecedores do que seja uma participação cívica responsável, nada me surpreende que, portanto, mesmo perante tal indefinição, tantos se tenham sentido desafiados. No entanto, recuso-me a generalizar e a considerar que os potenciais participantes serão os representantes da sua geração.

Vou acompanhando o que vai aparecendo na comunicação social formal, não formal e informal acerca do evento anunciado. Parece sobressair o mandamento inequívoco segundo o qual o que interessa é estar presente, aos magotes. Quase chega a afirmar-se “não penses, nem muito nem pouco, o que interessa é estar lá”. Como se já não bastasse a indefinição dos propósitos, haverá quem esteja a jogar na participação acrítica,
na molhada e logo se vê o que vai dar…

Admitamos haver nisto tudo uma grande dose de empenho, de tipo voluntarista, à mistura com ingenuidade qb. É que, assim sendo, ficam multidões de jovens desorganizados à mercê dos desígnios de certas personagens nada voluntariosas e que, sem ponta de ingenuidade, estarão à espreita da mínima oportunidade para potenciarem qualquer deslize pessoal ou de grupo, seja ele de ordem verbal, gestual ou congénere.

Não, decididamente, a estes jovens prestes a embarcar num embuste de contornos difusos, não concedo a ideia de representarem toda uma juventude que, de facto, está a passar um mau bocado. Por outro lado, muito naturalmente, cumpre que assuma a minha quota parte de responsabilidade pelas atitudes educativas extremamente controversas em que, de algum modo, a minha geração foi fértil, nomeadamente, na prodigalidade de um facilitismo demolidor.

Por fim, inequivocamente, me resta afirmar e confirmar a recusa de pactuar com uma iniciativa como a deste protesto, que, em suma, se me afigura desprovida do discernimento e da lucidez que a todos, jovens e mais velhos, se nos impõe, num momento particularmente complexo da vida da República. Na realidade, é em momentos que tais, quando todo um país está à rasca, que podemos aquilatar como, entre nós, se conjuga Liberdade, Igualdade e Solidariedade, valores máximos da Democracia.



[NB: este texto foi objecto de uma série de comentários inadvertidamente eliminados. Consegui recuperar apenas 15 que já foram republicados no post de dia 18 de Março. O meu pedido de desculpa aos autores]



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