[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 31 de maio de 2011

Autoridade democrática,
exercício ou demissão


O exercício da autoridade democrática apenas pressupõe uma indubitável assertividade, sem quaisquer artifícios ou paninhos quentes, instrumentos afins dos discursos passivos, agressivos e manipuladores. A autoridade democrática compreende a tolerância mas não pode continuar a admitir o nacional porreirismo cujo mais visível resultado é a horrível e perniciosa cultura do desleixo que, infelizmente, parece nada incomodar o cidadão comum.

A demissão do exercício da autoridade democrática constitui uma perversidade absoluta porque a Democracia só sobrevive quando, em todas as instâncias, se exerce a autoridade que, por definição, ela encerra. Cada vez que alguém se demite do exercício da autoridade democrática que lhe foi outorgada está a trair a própria democracia.


Na Educação, por exemplo...


Pensemos, por exemplo, numa qualquer comunidade escolar, portanto, espaço escola onde desenvolvem actividade os corpos docente e discente, para além de todo o pessoal de apoio educativo. Se, perante um problema que pode resolver – caso de quebra ou de ofensa da disciplina objecto do Regulamento da Escola – em que é suposta a sua intervenção, um cidadão professor ou assistente operacional se subtrair, de facto, ao exercício da autoridade democrática de que está investido, estará a pôr em causa os objectivos do programa sócio educativo daquela específica comunidade escolar e, também, os propósitos da comunidade educativa em que está inserida.

Na realidade, basta que algum daqueles membros da comunidade escolar, não actue, como deveria, para que, imediata e automaticamente, tudo fique em causa. Exercer a autoridade é ser autor e, em simultâneo, actor da atitude que se impõe concretizar. Se tal não acontecer, o problema detectado não será resolvido e passará a fazer parte de um acumulado de factos análogos, não resolvidos, que constituem o mais negativo património de uma casa de Educação.

...e, em geral

Este exercício de sumaríssima análise, que acabamos de aplicar ao sector onde se processam as práticas do ensino e da aprendizagem das crianças e jovens, pode alargar-se a todos os sistemas através dos quais se organiza a comunidade nacional, Saúde, Defesa, Segurança, Trânsito, etc. Daí que nos sintamos autorizados a uma conclusão muito mais abrangente., em relação ao governo resultante das próximas eleições. Ou exercerá, de facto, a autoridade democrática outorgada pela delegação de poder transferida pelos eleitores na votação ou, se assim não for, com a tendência do portuguesinho para desenrascar, comprometer-se-á o alcance dos objectivos impostos pela adversa situação em que nos encontramos.

É tão simples como isto. Não consigo concluir sem articular esta reflexão com a enorme percentagem de analfabetismo e de iliteracia, característicos da nefasta realidade lusitana que, constantemente, tenho apontado como factores primordialis afectando, tão negativamente, o resultado de todos os projectos em que nós, portugueses, nos envolvemos. Trata-se de mais elementos explosivos que teremos de saber trabalhar, com pinças, se quisermos ser capazes de exercer a autoridade democrática, no Estado Democrático de Direito que decidimos reconquistar em Abril de setenta e quatro. Caso contrário, a coisa pode mesmo explodir...

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NB: já no próximo texto voltarei ao ciclo dos artigos que estou a dedicar à Condessa d'Edla, por ocasião da reabertura do Chalet.



8 comentários:

Carlos Sousa disse...

Bom dia João Cachado,
Completamente de acordo. Confunde-se autoridade democrática com autoritarismo e depois não se exerce. Como muito bem aponta, a assertividade é muito necessária mas, infelizmente não é característica portuguesa e o grande problema é esse. Os portugueses sãomuito à imagem do Sócrates, habilidosos, nada directos e cheios de hipocrisias.
Estamos nesta miséria por isto tudo e pelo analfabetismo, etc.
É muito complicado.
Carlos Sousa

Anónimo disse...

Em Portugal não há hipótese, como a maioria se demite não admira o ponto que chegámos. Raros são os que exercem qualquer autoridade e por isso é um país tão castigado e desleixado.
Ruben

Anónimo disse...

Se o actual governo usasse autoridade democrática que teve para governar em condições, não tínhamos chegado à miséria em que estamos. Sem dúvida nenhuma.

Sílvia Caldas disse...

Caro Prof. João Cachado,
No estado actual só mesmo a autoridade democrática, sem autoritarismo, pode salvar Portugal. Mas o governo futuro deve ser de muito humildade, mostrar pobreza porque o país e os portugueses são pobres.
Sílvia Caldas

Elvira S. disse...

Viva Professor,
Como não me sinto representada por nenhum dos que se propõem governar este país vou votar em branco. O prof. ainda mais me ajuda com o seu texto. Nenhum dos lideres é capaz de exercer a autoridade pois estão cheios de tiques de autoritarismo. Vai mesmo ser em branco. Obrigada,
Elvira S.

Elvira S. disse...

Viva Professor,
Como não me sinto representada por nenhum dos que se propõem governar este país vou votar em branco. O prof. ainda mais me ajuda com o seu texto. Nenhum dos lideres é capaz de exercer a autoridade pois estão cheios de tiques de autoritarismo. Vai mesmo ser em branco. Obrigada,
Elvira S.

Manuela Pinto disse...

Há quem diga que votar em branco é votar na direita. Sinceramente não percebo como se pode chegar a essa conclusão. Votar em branco é dizer que não prestam os que se apresentam para nos representarem. Eu acho que não prestam e por isso votarei em branco. Parece que com o Saramago e Jorge Miranda estou bem acompanhada...
Manuela Pinto

Anónimo disse...

Cara Manuela Pinto, posso tentar explicar-lhe porque votar em branco consequentemente é votar na direita. O seu pensamento está correcto, que não prestam os que se apresentam é um facto, só que como as sondagens indicam a direita irá, eventualmente ganhar as eleições. Se não votarmos em quem lhes possa ganhar, efectivamente ganham. Por isso pergunto, devemos dar á direita a vitória de mão beijada? Se vivesse-mos outra situação, claro que o voto em branco, a meu ver faria todo o sentido, assim parece-me, hoje ser necessário engolir o "sapo". Com todo o respeito por todas as opiniões, aqui fica esta que é a minha. Posso estar muito errado.