[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 14 de junho de 2011



Civismo ou bandalheira


Passámos por um processo eleitoral que sancionou o governo cessante afastando da ribalta o partido político que o suportava no parlamento. Tal não significa que estejam apuradas a verdade e a responsabilidade que, politicamente, devem ser imputadas e que as instâncias vocacionadas para o efeito - a nível do executivo, do Banco de Portugal, do Treibunal de Contas, etc - agora não devam preocupar-se em devolver ao povo.

A comunidade portuguesa foi abusada através de sistemáticas e sofisticadas manobras de propaganda enganosa, conduzidas ao mais alto nível pelo executivo cessante. A boa fé de muitos cidadãos foi posta em causa. Urge devolver ao povo a confiança abalada. Naturalmente, a questão da responsabilização articula-se com a do apuramento da verdade. E, neste tempo tão difícil, sem que perceba os mecanismos do logro, o povo não se mobilizará.

Para que a cidadania funcione, a única via é a da informação ao serviço da verdade que o povo tem direito. Informação é poder e o poder reside no povo que, através do voto, o delega em cidadãos que o representam no Parlamento. Como houve quebra e abuso de confiança, impôe-se recuperá-la por meio da responsabilização política de quem, perversamente, se aproveitou dos mecanismos do Estado Democrático de Direito.

Tratando-se de uma responsabilização de natureza política - todavia não coincidente com a sanção que o resultado das eleições evidenciou - cumpre não deixar que, numa leviana atitude de relaxamento, se apague a actuação de quem, no governo cessante, é responsável pela tomada de decisões cujas consequências são tão gravosas para a comunidade a curto, médio e longo prazos.

Temos direito a essa verdade. Não se trata de qualquer baixeza revanchista mas de civismo a funcionar. É uma questão de dignidade nacional. Afinal, somos um povo civilizado ou uns bandalhos quaisquer, para quem tanto faz que os decisores políticos, em representação dos eleitores, na gestão da coisa pública, actuem a favor ou em prejuízo dos cidadãos cujos interesses juraram defender?


1 comentário:

Lemos Rodrigues disse...

Caro João Cachado,
Para que a verdade se soubesse era preciso que a cidadania funcionasse, com os cidadãos a exigirem conhecer essa verdade. É uma pescadinha de rabo na boca. Não tenho ilusões embora esteja de acordo consigo.
Lemos Rodrigues