[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Natureza-morta,
outras faces da realidade


Ontem, na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian, houve inauguração da exposição A Perspectiva das Coisas, A Natureza-Morta na Europa, Séculos XIX-XX (1840-1955), tratando-se da segunda parte da iniciativa que, entre Fevereiro e Maio de 2010, se subordinou ao mesmo título, abrangendo os séculos XVII e XVIII.

Estamos perante uma organização exemplar, nos termos da qual a exposição funciona mesmo como privilegiado lugar de formação, como gostava de afirmar o meu amigo Christian Carrière, da Peuple et Culture de Paris que, há trinta anos, eu trouxe a Lisboa, ao Museu do Traje, para proferir uma conferência que tinha como tema aquela expressão.

Neste dispositivo, não constitui novidade que haja vários núcleos temáticos, enquadrando um determinado conjunto de peças, que jogam diálogos do maior interesse, cuja lógica interna faz parte do processo de acesso às obras e ao entendimento da proposta dos seus autores, enquanto estetas, manipuladores, transformadores da realidade.

A designação daqueles núcleos logo suscita a vontade de entrar no jogo. Deixo-vos, a título de exemplo, algumas das sugestões. Negociar a tradição: dádivas da natureza e artifícios. Jogos de relações: a natureza-morta enquanto forma. Exílios e outros: política, primitivismo e o eu interior. A essência das coisas: materialidade e imaterialidade. A crise do objecto: sonhos e pesadelos. Da cena de caça ao horror. Da perspectiva das coisas.

Ali se propõe um circuito no tempo, no espaço e, não menos importante, um percurso pelos meandros que cada visitante consigo transporta. É impossível que, no fim da viagem, alguém permaneça igual ao momento em que a iniciou. E, meus senhores, o principal desta mensagem, a raríssima possibilidade de apreciar obras-primas da pintura deste período, vindas das mais prestigiadas colecções, de Manet, Monet, Renoir, Van Gogh, Gauguin, Cezanne, Braque, Picasso, Juan Gris, Dali, Magritte, Matisse.

A exposição abrange um período que termina em 1955, o ano da morte de Calouste Gulbenkian, assinalado por uma natureza-morta de Giorgio Morandi, datada daquele ano. É uma data artificial que, nos termos do prospecto de apresentação, os organizadores consideram “(…) simbólica da sua missão de reflectir e dar a ver a produção artística que interessou ao Coleccionador ou foi sua contemporânea (…)”.

Bem, não sei como a missão poderia ter sido mais bem cumprida… A grande Gulbenkian, de facto, não deixa os créditos por mãos alheias. O que ali está é mesmo do melhor do mundo e vai lá ficar até 8 de Janeiro de 2012, sendo esta uma daquelas exposições que bem merece se faça umas centenas de quilómetros para não perder. Vão por mim...

1 comentário:

Sintra do avesso disse...

A exemplo de dias antyeriores, aí vai a transcrição do facebook:

Isabel Claro
Estou desejosa de ir...... acho um privilégio num espaço tão pequeno ver a obra de tão maravilhosos pintores.
há 8 horas ·

Natalia Carvalho
Tenho pena de estar distante,como já tenho dito; V.N. de Gaia a Lisboa ainda fica distante.aproveito para agradecer todos os seus comentários,em que posso fazer as ilações dentro do positivo,visto vir de alguém como o professor,para dar esclarecimentos;e os seus recadinhos bem mandados,por isso fui ao seu Blog e imprimi tudo para ler com toda a calma. Obrigado Bjs♥
há 7 horas ·

João De Oliveira Cachado
Natália, no período dos próximos três meses, não terá de vir a Lisboa? Se afirmativo, aproveite. No que respeita ao meu texto, olhe que não tem mesmo nada de especial. Foram, muito simplesmente, umas impressões de primeira abordagem. Graças a Deus, tenho a sorte de ir, todas as semanas, três, quatro vezes à Gulbenkian e, como tenho um cartão de assinante (pelo qual só pago € 25.00/ano), tenho acesso livre e grátis às exposições. Neste caso, sei que poderei ir muitas vezes, nos dias de recitais e concertos, expressamente, para, de cada vez, ver uma, duas peças apenas. Ver Arte é algo de muito exigente, não se pode ir numa lufa-lufa. Por vezes reparo em pessoas que estão menos tempo diante de um Gauguin do que na montra de uma lojeca qualquer de roupa... Em relação à informação, deixe lá o meu escrito que foi só chamada de atenção. Muito melhor fará se, através do google, entrar no site da Fundação Gulbenkian onde, certamente, encontrará o que precisa.
há 6 horas

João De Oliveira Cachado
Isabel Claro, eu não costumo ir a vernissages, tipo de mundanice que nada me interessa, embora também seja oportunidade para encontrar pessoas com quem se ganha na conversa. Porém, como sou muito bicho de mato, prefiro nem sequer pôr os pés nessas coisas. Ontem, por acaso, fui 'apanhado'. Ia para o concerto e, como chego sempre muito cedo, deparei com o aparato da inauguração. Estando cheio de curiosidade, lá fui, disposto a ignorar quem pudesse aparecer a chatear. E, de facto, até apareceram pessoas que queriam conversa... Tenho uns truques que dão sempre certo. Aquilo é uma verdadeira festa, uma loucura! Fiquei tão excitado que dei por mim a telefonar para a minha mulher, a partilhar aquela emoção. É, como diz, um grande privilégio. Vá logo que possa mas prepare-se para várias e longas visitas. Abraço e um beijo à Mifá
há 5 horas ·

Fátima Lopes
Amigo João pelo que descreve nas suas simples mas sentidas palavras, entendo que deve ser uma exposição a não perder e uma vez que só termina a 8 de Janeiro de 2012, quando eu me poder mobilizar melhor, farei questão de a ir visitar e rever grandes obras de grandes pintores, e agradeço-lhe toda esta sua magnífica informação.