[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 18 de outubro de 2011



Sintra,
entre Pisões e Regaleira


Quero chamar a sua atenção para o despautério que ocorre a meio caminho, no percurso entre as Quintas dos Pisões e da Regaleira. Acompanhe-me até lá e não se deixe impressionar pelos primeiros passos que, de facto, são muito agradáveis.

Já deixou para trás o Lawrence´s, seguindo pelo passeio da direita, para alcançar a zona do gradeamento. Infelizmente, o empedrado, desnivelado, esburacado, não está melhor do que noutras tão aprazíveis como esta zona de Sintra. Dê-se por muito contente já que, nos últimos tempos, não tem havido mosquedo à volta dos imponentes contentores que, de vez em quando, estão a abarrotar, com embalagens e outro lixo à volta.

Não se adiante. Conceda-se o tempo bastante. A grade convida-o a debruçar-se. Faça-o que não se arrependerá. Durante o tempo que precisar, a vista vai descansar sobre aquele profundo anfiteatro verde, um tanto ou quanto caótico mas muito aprazível. Não raro, com alguma sorte, ouvirá o cantar de uns garnisés que, por ali, são useiros e vezeiros. A passarada é muita pelo que não lhe será difícil ser testemunha de algum recital. Será que o merece?...

Depois da pausa, poderá continuar. Vai passar ao portão de moldura renascentista da Quinta dos Pisões. Quando observar o trabalho de cantaria, não deixe de reparar, à sua esquerda, a média altura, na data de 1533. Este Palácio dos Pisões pertenceu aos Duques de Aveiro, constando que ali se terão reunido alguns dos conspiradores que pretenderam atentar contra o Rei D. José. Mais tarde, veio a fazer parte do vastíssimo património de Miguel David Gallway, o tal que se gabava de poder ir de Sintra a Mafra sempre pisando propriedade sua…

Do outro lado da estrada, a Fonte dos Pisões, ali instalada em 1930, e que nada tem a ver com a primitiva, idêntica à que hoje ainda existe junto ao Convento da Trindade, entre Santa Maria e São Pedro. Como vê, está desbotadíssima, com aquele ocre infestado de líquenes, escurecendo toda uma superfície que teria direito a outro estado se tivesse sido capazmente executada a última obra de limpeza e manutenção. Mas esse é outro peditório para o qual já contribuí devidamente…*

Ora bem, é uns metros mais adiante, mesmo junto a um pequeno portão verde, imediatamente anterior ao recinto da cascata da Regaleira, que pode deparar com o tristíssimo espectáculo que tive o cuidado de avisar logo no primeiro parágrafo deste escrito. Bem lhe disse que a primeira parte, esta que percorreu até agora, até era agradável.

Contudo, como vê, sem qualquer disfarce, essas pedras, aí deixadas de qualquer maneira, com desperdícios outros, a vala que atravessa a estrada, o horror da caixa que foi aberta e depois apenas coberta com saibro, um metro quadrado donde brota água, escorrendo rente ao passeio, são ingredientes de uma cena de terceiro mundo que parece não susceptibilizar seja quem for, tão habituada está a gente a coisas que tais.


Eu vi quando e como a coisa começou, na passada sexta-feira, dia 14, a meio da manhã, pelas mãos de um piquete dos SMAS de Sintra. Nada me surpreendeu por o trabalho estar a ser feito à touxe-mouxe, na altura, sem qualquer sinalização, quando, repare-se, era preciso romper uma vala atravessando o alcatrão da estrada e, do outro lado, abrir a tal referida caixa… Enfim, bem à portuguesa, na variedade sintrense… O que não me passava pela cabeça, apesar de muito causticado por desmandos similares, é que, em primeiro lugar, a coisa fosse assim dada por concluída e que, cinco dias passados, ainda permaneça na mesma.

É uma vergonha! Como verifica, não estou a exagerar seja o que for. Mas os SMAS de Sintra dão-se ao luxo de nos cobrar tarifas absolutamente milionárias, perfeitamente incompatíveis com o cenário em presença. Vergonha seria para quem ainda tenha um pingo da dita. No caso vertente, não sei a quem me queixe. Estou farto de incomodar o Presidente da Câmara que, em última instância… Depois, tenho maior consideração pelo Vereador, Engº Baptista Alves, que também tem as costas muito largas…

Bem, para já, o primeiro manifesto da minha indignação já está apresentado. E você, que foi destinatário e cúmplice deste texto, já pensou a quem vai dirigir-se? Ou vai fazer como sempre, esperando que este ou outros escribas, armados em Don Quixote, tomem as suas dores e o representem nestas instâncias? Não acha que vai sendo tempo de participar nas denúncias e de pôr a funcionar a cidadania? Mexa-se! Valha-o Deus!...


* Ler o texto aqui publicado, em 27 de Agosto de 2009, Às fontes, às fontes, numa pressa...

1 comentário:

Celeste Luíz disse...

Caro Amigo Cachado,
Uma maravilha este seu texto. Por minha parte vou transcrever para um mail e mandar aos SMAS. Obrigado e parabéns. Cumprimentos amigos, Celeste Luíz