[sempre de acordo com a antiga ortografia]
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Gulbenkian,
Ciclo de Música Antiga
Ontem Balthasar Neumann Choir and Soloists, Balthasar Neumann Ensemble, sob a direcção de Thomas Engelbrock, fizeram a Missa dei filii, ZWV 20, de Jan Dismas Zelenka e o Magnificat, BWV 243a de J. S. Bach. Quem não foi jamais saberá o que perdeu. A sofisticação da Missa de Zelenka, a ingenuidade e simultânea magnificência do Magnificat de Bach, na sua expressão mais limpa, superior, sem quaisquer concessões à facilidade.
Há pouco, Michel Corboz dirigiu o Coro Gulbenkian num programa incluindo Jauchtzet de J. S. Bach, Magnificat, Beatus Vir e Justus ut palma florebit de Francisco António de Almeida e Stabat mater a dez vozes de Domenico Scarlatti. Em formação reduzida, adequada às características das obras, o coro esteve muito bem. Como cantores solistas, Charlotte Müller Perrier, soprano, que não me impressionou especialmente, e Fernando Guimarães, tenor, em grande forma.
Aqui tendes uma excelente interpretação - com os The BBC Singers, Elizabeth Poole, soprano, Neil MacKenzie, tenor, David Miller, teorba, Frances Kelly, harpa e Gary Cooper, órgão - desta última peça que o compositor escreveu em Roma, pouco tempo antes de vir para a corte de Lisboa como mestre da Princesa Maria Bárbara.
http://youtu.be/soz-nsntNQg
Domenico Scarlatti: Stabat Mater I-III www.youtube.com
Agora, atenção ao que aí vem. Um dos melhores momentos deste ciclo de Música Antiga, acontecerá no próximo dia 3 de Dezembro, quando Patricia Petibon, soprano, se apresentar com a Venice Baroque Orchestra, para interpretar peças de Händel, Stradella, A. Scarlatti, Vivaldi, Geminiani, Merula e Sartorio. Não tenho a menor dúvida de que será mesmo um grande acontecimento.
Acerca da minha opinião sobre esta cantora, gostaria de vos contar que, há uns sete ou oito anos, tendo-a já ouvido várias vezes em Salzburg, sempre em programas com o Concentus Musicus e Harnoncourt, o meu parecer já era extremamente positivo. Na altura, tendo tido hipótese de intervir num programa de rádio da RDP2, ao tempo em que Jorge Rodrigues era o responsável pelo programa do fim de tarde, interpelei o Jorge Calado - cuja opinião tenho no maior apreço -acerca do seu parecer sobre a cantora francesa.
Para meu espanto, Calado referiu-se a Petibon como coisa secundária, enfim, pouco digna de reparo. Pois, como veio a verificar-se, quem tinha razão era eu. Confirmo, aliás, que além de voz muito bem trabalhada, tecnicamente irrepreensível, com a extensão necessária ao repertório que mais se lhe adequa, Petibon, ainda acrescenta capacidades histriónicas absolutamente notáveis. É completa, em suma.
Claro que já estou numa enorme expectativa por voltar a vê-la no sábado. Mas, amanhã, noutro contexto, teremos Angela Kirchschlager, num programa completamente diferente, subordinado ao tema Viena-Paris-Broadway, interpretando von Suppé, J. Srauss, Léhar, Heuberger, Offenbach, Bernstein, K. Weill, Gershwin e C. Porter.
Desde sexta-feira passada até ao próximo sábado, terei assistido, sempre na Gulbenkian, a seis concertos absolutamente excepcionais, perfeitamente ao nível do que tenho em Salzburg, Viena ou Luzern mas a preços escandalosamente baixos se comparados com os que me pedem naqueles famosíssimos lugares. Sabem que mais, fico atónito como é possível que, em Lisboa, o auditório da Fundação registe audiências a metade, três quartos. É incrível e demonstra bem o que a casa gasta...
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