[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 26 de novembro de 2011


Joseph Haydn,
Die Jahreszeiten [As Estações]

Ontem e hoje na Gulbenkian, Die Jahreszeiten, [As Estações], oratória em quatro partes, Hob.XXI, 3 de Joseph Haydn, com libreto do Barão Gottfried van Switten, segundo um poema de James Thomson, traduzido por Brockes. A obra foi composta entre 1799-1801 e, apesar de o autógrafo ter desaparecido, existe em Viena uma cópia corrigida pelo próprio compositor.

A primeira apresentação aconteceu em privado, no palácio Schwarzenberg, em 24 de Maio de 1801 e a estreia pouco mais de um mês depois, em 29 de Maio, no Burgtheater, ambas em Viena.
Os solistas encarnam três camponeses, Hanne, Lukas e Simon que vivem o desenvolvimento das quatro estações, através das quatro componentes concebidas por Haydn, cada uma das quais precedida por uma introdução sinfónica. Van Switten não foi particularmente feliz com o texto, um mero encadeamento de quatro poemas de cantatas que o compositor considerou «uma vulgaridade à francesa».

Fosse como fosse, Haydn compôs uma peça esplêndida, com uma unidade e um cunho dramático verdadeiramente notáveis, numa sofisticada articulação entre temas populares e eruditos, de canções tradicionais, coro de pastores e de fiadeiras, um compósito mosaico servido por uma partitura ainda mais brilhante que a da Criação, muito embora se tivesse esgotado, com risco da própria saúde.

Sucedem-se os momentos de especial efeito, com grandes frescos corais, como a fuga final da Primavera, a divertida fuga dos vindimadores no Outono ou a grande fuga final do Inverno, considerada por vários musicólogos como uma das mais belas páginas de toda a obra de Haydn. Mas, ainda outras passagens, como a cavatina de Lukasdem druck erliegt die Natur” no Verão, a canção de Hanne, lembrando Papageno, no Inverno ou ainda as grandes peças descritivas, tais como o nascer do Sol e tempestado no erão, hino ao trabalho, caça e vindima no Outono são marcos indeléveis.

Na cena de caça, Haydn introduz fanfarras austríacas e francesas - Le Débuché, Le Vol-ce-l’est, L’Hallali sur pied. Igualmente, insere o tema do segundo andamento da sua Sinfonia no. 94, A Surpresa, sob a forma de ária – Schon eilet froh der Ackersmann.*

Bem pode afirmar-se que As Estações fecham com chave de ouro a carreira de Haydn. Mesmo no início de oitocentos, há quem nela veja a primeira grande obra romântica do século dezanove, prenunciando Freischütz e O Navio Fantasma. Parece-me que afirmá-lo não é grande ousadia.




* Aí tendes uma belíssima interpretação. Boa audição.



Die Jahreszeiten, Aria de Simon da Primavera, direcção de Nikolaus Harnoncourt, Concentus Musicus, Coro Arnold Schönberg, baritono : Christian Gerhaher.

http://youtu.be/JT1Y9s4P6UY







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