[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 17 de novembro de 2011



Morte,
a melhor amiga

No dia 17 de Novembro de 1785, apresentação da peça de Mozart Maurerische Trauermusik em Dó, KV 477 (Música Maçónica Fúnebre), escrita para uma cerimónia de pêsames, na Loja Zur gekrönten Hoffnung (Esperança Coroada) em honra do Conde Franz Esterházy von Galantha e do Duque Georg August von Meklenburg-Strelitz, recentemente falecidos.

A maior parte da grande componente de instrumentos de sopro foi acrescentada à última hora. Mozart incorpora o tónus peregrinus, com referência aos cantos de endoenças usados durante a Semana Santa, bem como o Miserere da cerimónia de Requiem.

A. Philippe Autexier, em 1984/5, alvitrou a hipótese de que a obra tenha sido composta em três versões sucessivas, a saber: 1. para a Iniciação de um candidato à Loja Zur Wahren Eintracht (Verdadeira Concórdia), em 12 de Agosto de 1785; 2. como versão instrumental, por ocasião de uma cerimónia de pêsames, que teve lugar em 17 de Novembro; 3. versão instrumental alargada, provavelmente apresentada em 9 de Dezembro de 1785.

Fosse como fosse, a verdade é que não é possível dissociar o carácter e a índole específica da peça daquilo que Mozart viria a confessar ao pai numa célebre carta datada de 4 de Abril de 1787: “(…) E dou graças ao meu Deus por me ter concedido a graça de aproveitar a oportunidade (o pai entende o significado destas palavras)* para me familiarizar com a ’chave’ da nossa verdadeira felicidade (…)”

É forçoso termos o teor desta carta em consideração quando escutamos a obra. Provavelmente, nunca antes, a visão da morte fora expressa e vivida com tanta sinceridade, ou seja, a concepção da Morte como a nossa verdadeira felicidade. Trazendo a morte ao seu quotidiano, Mozart acolhe-a sem angústia, trata-a com a maior simplicidade.
 
A sua crença Maçónica, aliada à Fé, transcendiam a Morte na Luz e Ressurreição que o ritual do terceiro grau de Mestre Maçon trouxeram à vida do iniciado e que o esplendoroso acorde final proclamaram na Mauerische Trauermusik.

Ouçam atentamente. Compreender os mais íntimos propósitos de Amadé passa por ouvir esta obra, tão entranhadamente voltada para o que está além desta nossa limitadíssima existência física. Mozart, o fervoroso crente católico, apostólico romano, Mozart, o Mestre Maçon, aqui unificados, numa obra sublime da literatura musical, não só do último quartel do século dezoito mas, certamente, de todos os tempos.

Morte, a melhor amiga de Mozart. E, para que conste: Morte, também a  melhor amiga de quem subscreve e convosco partilha estas palavras. Ouçam, concordem ou não connosco, portanto, com Mozart e comigo.

Boa audição!

http://youtu.be/DyT6fEhXL9w

* Gostaria de chamar a vossa atenção para o seguinte: quando, na carta dirigida ao pai, Wolfgang Mozart faz este parêntesis, dando a entender que o pai estava no segredo de qualquer coisa, é preciso ter em consideração que Leopold Mozart entrou para a Augusta Ordem Maçónica com o patrocínio do próprio filho. O entendimentio a que Wolfgang se refere, tem a ver com o modo como se processa a relação dos Maçons com a realidade da Morte.




1 comentário:

Anónimo disse...

Até pode ser a melhor amiga mas eu prefiro essa companhia quanto mais tarde melhor...