[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 4 de dezembro de 2011



Patricia Petibon,
Rosso


Rosso é o mote do recital que Patricia Petibon ontem trouxe à Gulbenkian, acompanhada pela Venice Baroque Orchestra. Este é apenas um exemplo, por acaso, o da última peça* que cantou, confirmando a extraordinária capacidade expressiva desta voz de soprano que habita uma mulher absolutamente fascinante. Quem não conhecia senão, eventualmente, de gravações e ontem assistiu, confirmou em absoluto a correcção da minha avaliação.

Tenho acompanhado a sua carreira, desde 1997 e, em Salzburg, não costumo perder uma oportunidade de verificar o cuidado com que tem sabido gerir a bela voz, ao serviço de uma carreira que contempla a ópera barroca, Mozart e Alban Berg, por exemplo. Muito ligada a Harnoncourt, e, por isso, às iniciativas do maestro em Graz, Viena e Salzburg, ocasiões não lhe faltam para espalhar o benefício das suas notáveis capacidades vocais e histriónicas já que é um incrível
animal de palco.

Quanto ao modo como a Petibon aborda as peças, há uma saudável heterodoxia a que só os grandes intérpretes se podem permitir. Entra em terrenos cuja única defesa é a que resulta de uma ousadia totalmente controlada, jamais permitindo ultrapassar os limites de uma sofisticação onde aspectos de cena, de marcação, de figurino, ditam uma atitude que sempre surpreende.

Não se espere de Petibon o repouso em receitas consabidas. Ontem, nesta mesma peça, por exemplo, os sinais de sedução, de sensualidade, não podiam ser, a um tempo, mais evidentes e insinuados. De facto, quem não foi – e o Grande Auditório estaria a três quartos da lotação – nem sabe o que perdeu… Palavra de honra que gostaria de saber o que, em alternativa à presença neste evento, estariam fazendo, à mesma hora, aqueles que se dizem melómanos…

_____________________________________

*Georg Friedrich Händel
Da ópera
Giulio Cesare in Egitto

Quando voglio

Quando voglio, con un vezzo
so piagar, chi mi rimira,
ed al brio d'un mio disprezzo
ha un gran cor, chi non sospira.

Quando voglio, con un riso
saettar so, chi mi guarda,
ed al moto del mio viso
non v'è seno, che non arda.

[Quando quero

Quando quero, por um capricho,
sei ferir quem me contempla,
e o meu desprezo é tão forte
que tem um bravo coração quem não suspira.

Quando quero, com um sorriso
sei seduzir quem me olha,
e à expressão do meu rosto
não há coração que não se inflame.]


http://youtu.be/MxzCnNqcWnA

Sem comentários: