[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


Mozart,

paradigma do génio


No dia em que se recorda a morte de Mozart, que ocorreu há precisamente duzentos e vinte anos, deixem-me que vos proponha uma fuga. Não me refiro à forma musical que ele dominava magistralmente, mas, neste dia, fuga ao hábito de muito falar acerca do Requiem que, como sabem, deixou inacabado, exactamente no oitavo compasso do Lacrimosa. Porém, não confundam. Deus me livre impedir-vos de ouvir uma boa gravação da peça terminada por Süssmayr!

Se assim o fizerem, optem por uma das alternativas que passo a recomendar. Como registos audio, a gravação histórica, ao vivo, em Viena, na Catedral de Sto. Estêvão, em 5 de Dezembro de 1991, etiqueta Decca, com a Filarmónica de Viena, o Wiener Staatsopernchor, Cecilia Bartoli, Arleen Auger, Vinson Cole e René Pape, sob a direcção do saudoso Sir Georg Solti.

Outra, da Philips, é a que reuniu Barbara Bonney, Anne Sofie von Otter, Hans Peter Blochwitz , Sir Willard White, Monteverdi Choir e os English Baroque Soloists sob direcção de Sir John Eliot Gardiner.

Em DVD, da Arthaus Musik, gravado na Catedral de Salzburg, ao vivo, em 16 de Julho de 1999, por ocasião dos dez anos do falecimento de Herbert von Karajan, reunindo Karita Mattila, Rachel Hamisch, Bryn Terfel, a Filarmónica de Berlin e o Swedish Radio Choir, sob a direcção de Claudio Abbado. Como estive lá, posso afirmar, na primeira pessoa, que foi foi um evento inesquecível.

A fuga que comecei por anunciar também tem a ver com a peça que hoje vos proponho que escutem. Tem a particularidade de também considerar o mesmo dia, 5 de Dezembro, mas de 1786, data em que o próprio compositor estreou o seu Concerto para Piano e Orquestra K. 503 em Dó Maior, no. 25, obra que entrara no seu catálogo manuscrito na véspera, dia 4.

Dá-se o facto de se tratar do mais longo dos concertos de piano de Mozart, em três andamentos, Allegro maestoso, Andante e Allegretto em que, só o primeiro, tem 432 compassos, pressupondo um tempo de interpretação de mais ou menos dezassete minutos, para um total de trinta e cinco da obra completa. Acontece ainda a curiosidade de o acorde da mão esquerda, no compasso 60 do terceiro andamento, dever ser corrigido já que entra em conflito com a orquestra…

A gravação proposta, de um excerto do Allegro maestoso, tem Gulda como solista. Peço-vos a maior atenção para 1:15, momento em que o primeiro violino, segundos violinos, contrabaixos e sopros estão todos tocando melodias diferentes... É quase impossível que o humano se possa concentrar, ao mesmo tempo, em cinco melodias diferentes. Pois é, mas, por essas e por outras, é que Mozart estava, nitidamente, além do humano. Por isso, nele, celebramos o paradigma do génio. Hoje e sempre…

http://youtu.be/FO2_MwAf40E

Mozart K.503 Piano Concerto #25 in C 1st mov. Allegro maestoso : Part 1
http://www.youtube.com/

2 comentários:

Sintra do avesso disse...

Transcrições de comentários do facebook:

José Manuel Anes e 2 outras pessoas gostam disto..1 partilha
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José Manuel Anes

Muito obrigado, caro e sábio amigo! um abraço fraterno!há 19 horas ·

José Manuel Anes

‎...além de que com Gulda ao piano e Abado a dirigir a Filarmóniva de Viena, o que se poderá pedir mais?há 19 horas ·

João De Oliveira Cachado

Já não é a primeira vez que o meu amigo me cumula com o epíteto de sábio. Sê-lo-ei tanto como o você também o é em diferentes domínios? Certamente que não. Para nós, como sabe, a Sabedoria, como parte da tríade que compõe com a Força e a Beleza, é objecto de trabalho permanente. Isso sim, admito, o trabalho, em busca dos desafios que Amadé nos lançou e deixou por desvendar. É tão desconhecido e tanta gente há que julga conhecê-lo. Por exemplo, acerca do seu carácter, há que ter presente a opinião do seu cunhado Lange, o pintor que deixou o célebre retrato por acabar. Dizia ele que Wolfgang, fora do contacto social, era extremamente reservado, mesmo melancólico. É nesse constante balanço entreas duas atitudes que me parece que estamos obrigados a entender o génio de Mozart.Ver maishá 19 horas

João De Oliveira Cachado

Aí está, Gulda, precipitadamente entendido como um excêntrico... Que estupendo Músico, assim mesmo, escrito à alemã, com a maiúscula inicial do substantivo. Gulda é senhor de máxima substância, substantivo, de facto, sábio - esse sim - tal como Abbado que, a Mozart, tudo tem dado, em qualidade superlativa.há 19 horas ·
2José Manuel Anes e Natalia Carvalho gostam disto..

Natalia Carvalho Se o Professor João Cachado fosse meu professor;ou aprendia muito, ou ficaria lorpa toda a vida,que devo mais comentar,agradecer ao Professor Anes a gentileza de postar a musica deste grande Senhor Mozart♥

Sintra do avesso disse...

Outra ainda do fb:

Isabel Claro, António Filipe, Rita Avila Cachado e 2 outras pessoas gostam disto..


Miguel S Martins

O Génnio tem de ser recordado sempre!!!há 23 horas ·