[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Mozartwoche 2013
- Wagner em Salzburg


Há uns dias, quando regressei de Salzburg, já tinha resolvido a questão da encomenda dos bilhetes de 2013. Isto mesmo, que todos os anos se repete, apenas é possível porque a eficiente organização – que já conta com a experiência acumulada de cinquenta e seis edições do mais alto gabarito – ao programar com dois, três e, por vezes, quatro anos de antecedência, consegue disponibilizar toda a documentação, neste caso, referente à Mozartwoche 2013, precisamente um ano antes da realização do primeiro evento do festival de 2012…

Portanto, neste momento, sem dificuldade de qualquer natureza, já tenho a cabeça totalmente arrumada em relação ao que me espera, quer ao nível dos custos quer relativamente ao programa das três dezenas de eventos. Aliás, só com base no modelo de trabalho a que me reporto, é possível assegurar a proverbial alta qualidade de todos os grandes festivais que frequento. Entre nós, só no Arquipélago da Cultura que é a Fundação Calouste Gulbenkian temos sistema coincidente.

Permitam que aborde dois casos, portanto, relativos à futura edição da Mozartwoche. Quanto ao primeiro, não deixa de ser curioso que o único evento a destoar do fascinante ramalhete do próximo ano, seja o de um dos quatro concertos com a Orquestra Filarmónica de Viena, exactamente no dia 26 de Janeiro, pelas 19,30, no Grosses Festspielhaus, em que Maria João Pires será a solista de serviço, tocando o Concerto KV 466 de Mozart, sob a direcção de Gustavo Dudamel. Como adivinho a vossa reacção, melhor será avisar não ser caso para já quererem saber onde é o meu caixote do lixo…

Claro que não passa de opinião muito pessoal e explica-se rapidamente. É que, da estirpe de MJP, pelo menos, há uns cinquenta e sete pianistas – que, lá por tocarem em Salzburg, não acrescentam nada de especialmente assinalável à pianística dos nossos dias – acerca dos quais a História da Música nada registará. Quanto a GD, na realidade, não aprecio aquela perfeitamente evitável exuberância. Faz parte de um fogacho de maestros cujas leituras das peças que dirigem também nada de novo trouxeram à interpretação das mesmas.

A propósito, o gabarito de qualquer maestro não se mede pela exuberância da linguagem gestual, no momento do concerto, que o público não conhecedor considera ser muito importante mas, isso sim, pelo trabalho de bastidores, nos ensaios, onde revela a sua capacidade de liderança, demonstrando se tem originalidade e se sabe solicitar aos músicos aquilo que eles até poderão dar se forem devidamente motivados.

Ou seja, como estou habituado ao excepcional, dispenso perfeitamente o trivial… Em relação ao segundo caso, pois desde já poderei garantir que nada de trivial acontecerá. Na realidade, um concerto com Les Musiciens du Louvre-Grenoble, pois é disso que se trata, dirigido por Marc Minkowski será sempre um acontecimento excepcional. Tal como no exemplo anterior, não descerei ao pormenor do programa senão para confirmar a raridade da abordagem de uma das peças.

Trata-se da Sinfonia em Dó Maior WWV 29, de Richard Wagner, obra de juventude, composta aos dezanove anos, que os wagnerianos conhecem, mas ignorada pela maior parte do público que frequenta as salas de concerto, quanto mais não seja, também porque é rarissimamente interpretada. Não vamos afirmar que se trata de uma obra prima. No entanto, está longe de se justificar ter sido tão votada ao esquecimento, aliás como a sua outra sinfonia em Mi Maior.

Como decidi proporcionar-vos a sua audição, hão-de reparar como é notória uma certa influência de Beethoven e, em particular da Sétima Sinfonia. De qualquer modo, reparem como já se vislumbram certas soluções que prenunciam uma oficina, de facto, muito mais vocacionada para outros domínios musicais, em especial, o da ópera em que Wagner pontificou como um dos mais sérios casos da nossa cultura.

Aí tendes, um bom registo do primeiro andamento, Sostenuto e maestoso, Allegro con brio, na leitura do maestro Heinz Rögner, à frente da Orquestra Sinfónica da Rádio Berlin.

Como não consegui uma gravação sem imagens, fica a advertência para que não se distraiam com os retratos de Wagner. Como adivinho que a maior parte dos leitores nunca terá ouvido esta obra, há mesmo que ter a noção de se tratar de um momento raro.


Boa audição!

http://youtu.be/nAvhVNfMf60

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