[sempre de acordo com a antiga ortografia]
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Salzburg, 1 de Fevereiro
Mozartwoche, 2012
Grosses Festspielhaus,
19,30 Orquestra Filarmónica de Viena,
Maestro Ivan Fischer,
Radu Lupu, pianista
O segundo dos quatro concertos da Orquestra Filarmónica de Viena durante a Mozartwoche, desta vez exclusivamente dedicado a obras de Mozart, contou com leituras absolutamente canónicas de peças subordinadas à mesma tonalidade, sempre em Ré Maior, a Serenata KV 239, Serenata Nocturna e Sinfonia KV 504, Praga, além da breve Marcha KV 335. Apenas comentarei a outra peça que não faz parte deste conjunto.
A única obra em presença divergente no tom foi o Concerto em Si Maior para Piano e Orquestra, KV 595, datado de Viena, aos 5 de Janeiro de 1791, o último dos vinte e sete concertos para este instrumento, neste ano em que o compositor acabaria por falecer tão precocemente. Como solista, no seu estilo tão peculiar e eficacíssimo, um Radu Lupu, com mais de quarenta anos de carreira brilhante, cada vez mais sábio, sóbrio, em primorosa articulação com uma orquestra que bem conhece.
Foi um Radu Lupu igual a si próprio, sempre com aquela atitude aparentemente distante e que, estou em crer, apenas corresponde a um mecanismo de defesa pessoal, evidente na necessidade de não dispersar emoções. Tudo quanto nele possa ser do domínio do não racional se concentra na relação com o compositor, no intermédio de serviço à obra, sem gestos supérfluos, sem qualquer nota de intimidade com o público na sala. O resultado da sua arte, no máximo respeito pela obra, a sua singular interpretação, esses sim, os ingredientes que mais lhe interessam sejam acolhidos pelo público presente.
E o público presente, pelo menos o mais conhecedor, soube como reconhecer a superior capacidade do pianista romeno de devolver uma estética mozartiana que, tão difícil e estranhamente se revela, nos seus contornos tão desafiantes, como neste concerto em que, longe de adivinhar que seria final, o compositor apresenta uma proposta de serenidade, tão definitiva, que não há comentador que não ceda à tentação de o considerar na acepção de testamento pianístico.
[Dois parágrafos finais a pensar no Prof. Fernando Seara e no Dr. João trindade Duro]
Numa noite muito fria, rondando os treze graus negativos, saí do Grosses Festspielhaus para casa, o mais rapidamente possível, já que não tinha qualquer encontro marcado com amigos ou conhecidos. O caminho mais directo é o que sempre me leva a passar pela rua que, tão acertadamente, foi baptizada com o nome de Wiener Philharmoniker, em homenagem a esta fabulosa orquestra à qual Salzburg tanto deve.
Apesar da baixa temperatura, ao chegar à Universitätsplatz - que, à noite, é um dos meus lugares fétiche - não resisto a parar, olhando a formidável mole barroca da fachada da Kollegienkirche de Fischer von Erlach. Por um lado, não resisto e, por outro, não consigo deixar de articular esta força estética com o privilégio que tinha acabado de viver, já que faz parte de um todo coerente, qual seja o do supremo privilégio da vida, do usufruto da Arte, da partilha de uma cultura que um europeu tanto pode orgulhar-se.
Finalmente, como ilustração, um excerto do Allegro do KV 595, com uma leitura igualmente muito fiel de Friedrich Gulda, o grande pianista já falecido há uns bons anos, tão frequente em Salzburg, que tantas vezes 'me levou' até Amadé...
Boa audição!
http://youtu.be/4Y-AiesUhrk
Mozart K.595 Piano Concerto #27 in B-flat 1st mov. Allegro : Part 1
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