[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 21 de maio de 2012



Sintra Museu de Arte Moderna,
que futuro? (1)


Como não podia deixar de suceder, a eventualidade do encerramento do Sintra Museu de Arte Moderna-Colecção Berardo suscitou alguma perplexidade e natural preocupação. De facto, aparentemente, sem que nada o tivesse justificado, não é fácil entender como deixámos de contar com um d...ispositivo cultural que, inclusive, já fazia parte dos circuitos internacionais como pólo de interesse capaz de trazer a Sintra visitantes expressamente interessados nas suas exposições.

Nem de perto nem de longe será o Jornal de Sintra adequada tribuna à veiculação de especulações a propósito das razões que terão conduzido à actual situação. E, tanto mais assim é, quanto, ao longo de anos, por intermédio do próprio signatário, este mesmo jornal foi dando conta de eventos, invariavelmente de excelente qualidade, que o SMAM-CB promoveu sob a direcção da Dra. Maria Nobre Franco.

Portanto, nada vocacionados para conjecturas mais ou menos estéreis e inconsequentes, estamos preocupados, isso sim, em contribuir com ideias pertinentes e concretizáveis, de tal modo que os decisores políticos locais possam aproveitar para a formulação dos objectivos mais adequados ao futuro de instalações tão dignas e interessantes como as projectadas, para o antigo Casino, pelo saudoso Arquitecto Norte Júnior.
Equacionar um programa

Aquilo que nos permitimos avançar como hipótese de trabalho decorre do princípio de que o SMAM deve preservar a vocação que, no contexto da Arte Contemporânea, conseguiu conquistar a nível nacional e internacional. É que, no passado recente, nesse universo da Arte do nosso tempo, Sintra e o SMAM concretizaram um investimento de tal modo evidente e importante, cujo montante é impossível quantificar, que não podem deixar de aproveitar, retirando os dividendos que for possível.

Contudo, tanto quanto é lícito prever, a Câmara Municipal de Sintra poderá articular os dignos espaços do SMAM com os do CCOC, já de referência nacional, constituindo tal solução uma evidente mais-valia para Sintra. Congressos com horizontes mais abrangentes, a disponibilização de algumas salas para exposições que se enquadrem na específica temática desses mesmos congressos, de outras para a realização de trabalhos em que seja necessário dividir os participantes, tudo isso é possível perspectivar. O leque é muito alargado e o desafio extremamente estimulante.

Será indispensável elaborar um programa, perspectivado a curto, médio e longo prazos, para um, três e cinco anos como respectivos horizontes temporais, cujo cronograma seja efectivamente praticável, em função dos escassíssimos recursos disponíveis, nos tempos de austeridade que atravessamos.

Desconhecendo em que situação estão as relações entre a Câmara Municipal de Sintra e a Colecção Berardo, muito difícil se revela, sequer fazer um exercício de hipóteses. Porém, partindo de uma probabilidade afirmativa, poder-se-ia pensar que, num primeiro ano de trabalho, provavelmente, mais não seria possível fazer do que manter um restrito núcleo «residente» de obras, periodicamente renovável.

Algumas hipóteses
Portanto, à Colecção Berardo «apenas» se solicitaria que mantivesse a vocação do Museu, disponibilizando um conjunto de peças, mediante contrapartida a definir, de tal modo que os custos em presença fossem o mais possível diluídos em operações de publicitação, promoção, divulgação e animação das obras, através de palestras, oficinas, jornadas temáticas, etc, cujos suportes evidenciassem, a título de publicidade, os interesses do coleccionador.

Por outro lado, poder-se-ia equacionar a hipótese de celebrar protocolos com algumas Escolas de Artes Plásticas de manifesto prestígio, públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, com o objectivo de disponibilizar o espaço do Museu de Sintra para a exposição temporária de obras de jovens finalistas premiados, dos cursos das diferentes artes, assim criando um lastro de referência a capitalizar no futuro. Julgo que é muito importante dar a entender que, apesar das sérias restrições actuais, Sintra pretende permanecer como terra profundamente preocupada com o futuro que os jovens representam.

Em simultâneo, e, partindo do princípio de que se torna imprescindível fomentar a interdisciplinaridade cultural – sempre privilegiando esta vertente de aposta nos jovens que revelem inequívocas capacidades artísticas – também seria de articular com as artes performativas, tais como as ministradas nos Conservatórios de Música, Escolas de Teatro, de Bailado, de Cinema, propiciando a realização de eventos, em conjugação de esforços com o CCOC, eventualmente, também por ocasião da edição anual do Festival de Sintra.

Comerciais & afins
Naturalmente, tudo isto seria perfeitamente conjugável com a rendibilização das instalações que, lamentavelmente, têm permanecido desactivadas, com prejuízo evidente do próprio figurino de promoção cultural que o SMAM/CB afirmou como sendo o seu. É neste contesto que deveria promover-se o funcionamento de um restaurante, de inequívoca qualidade, podendo revestir a modalidade do auto serviço, onde também fosse possível divulgar a gastronomia, vinhos e doçaria tradicional do concelho de Sintra. Naturalmente, de igual modo, seria indispensável contar com espaços afectos a cafetaria e loja do Museu.

Ainda neste domínio, não podemos deixar de repegar numa ideia que, já há alguns anos, ventilámos num artigo publicado no Jornal de Sintra. «Esplanada» seria a designação do espaço empedrado fronteiro ao edifício, ao qual se atribuiria o nome da primeira e única Directora do Museu, a Dra. Maria Nobre Franco, a quem Sintra tanto deve. E a Esplanada Dra. Maria Nobre Franco funcionaria mesmo como espaço de lazer, onde os visitantes pudessem usufruir o que é normal em espaços congéneres, com base na adjudicação da exploração da cafetaria.

Outra ideia iria no sentido de recuperar a que, em devido tempo, a própria Dra. Maria Nobre Franco concretizou, ou seja, o café-concerto, com todos os cuidados e pressuposto de animação de um pólo cultural com as características deste, com evidentes normas de segurança, de qualidade, de acesso reservado, etc. Afinal, como se verifica através da referência às iniciativas daquela direcção, nada disto constitui novidade. Basta prosseguir com soluções que, fruto de deficiente avaliação, não deveriam ter sido suspensas.

Finalmente, um «detalhe» absolutamente crucial, a questão do estacionamento. Pensamos que, pelo menos, durante os dias dos eventos, será indispensável reservar uma área adequada, por exemplo, no parque adjacente ao edifício do Departamento de Urbanismo, para onde os veículos particulares seriam canalisados, obviando as situações de confusão que, infelizmente, têm acontecido.
 
(1) Texto do artigo publicado na edição do Jornal de Sintra do passado dia 20 de Abril
 
 
 

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