[sempre de acordo com a antiga ortografia]
segunda-feira, 21 de maio de 2012
'Sonhos' [1]
Como sabem, “Wesendonck Lieder” constituem um ciclo de cinco canções que Richard Wagner compôs com base em poemas de Mathilde Wesendonck. Não, não vou maçá-los com histórias aventando a possibilidade de o compositor ter tido um a...ffaire com a senhora, mulher de Otto Wesendonck, traindo a confiança de quem era seu protector, num período em que se refugiara em Zürich, num pequeno chalet na propriedade daquele casal, quando era alvo de perseguição política.
Tudo isso é secundário, circunstancial e, até, eventualmente redutor, em relação à maravilha destas peças subtituladas e apresentadas como ‘Cinco poemas de Mathilde Wesendonck para voz feminina e piano’. Conheço-as de cor. Ao escutá-las, especialmente em recital, de tão inspiradas, na sua explícita pulsão e elevação espiritual, tenho tido momentos de absoluta revelação, de verdadeira epifania.
Do conjunto da obra, Richard Wagner considerou duas das peças, dentre as quais esta que vos proponho, como ‘estudos’ para “Tristan und Isolde”. E, de facto, quem não reconhece em ‘Träume’ directos vislumbres do dueto de amor do II Acto daquela ópera?
Não me perguntem que razão me levou, precisamente hoje, a propor-vos ‘Sonhos’. O que pode isso interessar-vos? Já quanto à escolha da tradução para Francês, gostaria que soubessem obedecer à conclusão de que tenho muitos leitores, da minha faixa etária, para quem o Francês, muito mais do que o Inglês, continua a ser-lhes mais acessível.
Boa audição!
[Na versão proposta, a voz é de Anne Evans, ao vivo, nos Proms de 1994, a BBC National Orchestra of Wales sob a direcção de Tadaaki Otaka]
Träume
Sag, welch wunderbare Träume
Halten meinen Sinn umfangen,
Daß sie nicht wie leere Schäume
Sind in ödes Nichts vergangen?
Träume, die in jeder Stunde,
Jedem Tage schöner blühn,
Und mit ihrer Himmelskunde
Selig durchs Gemüte ziehn!
Träume, die wie hehre Strahlen
In die Seele sich versenken,
Dort ein ewig Bild zu malen:
Allvergessen, Eingedenken!
Träume, wie wenn Frühlingssonne
Aus dem Schnee die Blüten küßt,
Daß zu nie geahnter Wonne
Sie der neue Tag begrüßt,
Daß sie wachsen, daß sie blühen,
Träumend spenden ihren Duft,
Sanft an deiner Brust verglühen,
Und dann sinken in die Gruft.
Tradução para Francês
Dis, quels rêves merveilleux
Tiennent mon âme prisonnière,
Sans disparaître comme l'écume de la mer
Dans un néant désolé ?
Rêves, qui à chaque heure,
Chaque jour, fleurissent plus beaux
Et qui avec leur annonce du ciel,
Traversent l'air heureux mon esprit ?
Rêves, qui comme des rayons de gloire,
Pénètrent l'âme,
Pour y laisser une image éternelle :
Oubli de tout, souvenir d'un seul.
Rêves, qui comme le soleil du printemps
Baise les fleurs qui sortent de la neige,
Pour qu'avec un ravissement inimaginable
Le nouveau jour puisse les accueillir,
Pour qu'elles croissent et fleurissent,
Répandent leur parfum, dans un rêve,
Doucement se fanent sur ton sein,
Puis s'enfoncent dans la tombe.
[1] Texto inicialmente publicado no facebook no dia 21 do passado mês de Abril
http://youtu.be/cIbuCpjRA_E
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