“Vathek”,
de Freitas Branco a Beckford, via Byron (1)
Ontem, a propósito do centésimo septuagésimo aniversário de Antero de Quental, transcrevi o soneto ‘Solemnia Verba’ que inspirou o compositor Luís de Freitas Branco à composição d...e um homónimo poema sinfónico.
Hoje, mantendo-me ainda em sintonia com Luís Freitas Branco, apetecia lembrar algumas memórias pessoais acerca desta figura incontornável da Cultura Portuguesa de todos os tempos. De memórias pessoais, na realidade, teria de alimentar tal escrito já que meu pai, seu aluno de Composição, no Curso de Ciências Musicais do Conservatório de Lisboa, foi quem me passou a riquíssima informação que retenho.
São episódios interessantes, não só decorrentes das suas relações com o mestre e amigo, mas também fruto da frequência do meio musical de Lisboa, de serões em casas onde se praticava boa música e da amizade com o filho João de Freitas Branco*, José Manuel Joly de Braga Santos, Luís Villas Boas, João Sassetti, Ramada Curto e outros.
São histórias que mantêm a enorme vivacidade da inesgotável verve do meu pai que, na realidade, carecem de divulgação. Considero, no entanto, ser trabalho de maior fôlego, que reservarei para um artigo a publicar oportunamente.
Ainda a propósito da inegável importância cultural de Freitas Branco para a compreensão do século vinte português, há sete anos, por ocasião da passagem de meio século sobre a data do seu falecimento, cheguei a julgar estarem reunidas condições para se concretizar a divulgação da sua excepcional, ecléctica e compósita obra, bem como de uma biografia que lhe fizesse a devida justiça. É inegável que muito se fez mas ainda não foi o que podia ter sido e deveria ter acontecido.
Entretanto, preciso é manter a atitude de divulgação permanente das suas composições. Volto ao segundo parágrafo deste escrito, em que vos escrevia sobre a minha ‘sintonia’ para vos propor a audição de “Vatek”, datada de 1913**, outro poema sinfónico que, como poderão verificar encerra belíssimas páginas de música que, lamentavelmente, permanecem desconhecidas ou apenas acessíveis aos ‘iniciados’.
Como sabem, escrito por William Beckford em 1786, “Vatek” é um romance de recorte gótico, cujo ambiente radica num certo pendor orientalizante da cultura europeia de fins do século dezoito, privilegiando enquadramentos de cunho sobrenatural. Em Vathek, Beckford mistura um cómico grotesco com aspectos desconcertantes, cultivando o horror, enquanto relata as bizarras aventuras do Califa.
Não deixa de ser interessante referir que, em 1809, na sua brevíssima passagem por Sintra, deslocando-se a Monserrate, Lord Byron recolhe elementos que introduz em duas estâncias de “Chide Harold’s Pilgrimage”. Dirigindo-se e a ‘Vathek’, num vocativo que coincide com o do autor da gótica obra, conta-lhe do estado de ruína em que foi encontrar a quinta e palácio que William Beckford alugara, por dois períodos descontínuos, entre 1794 e 1799…
Mas esta é matéria que também poderá ficar em carteira para outro escrito. Tantos são os cruzamentos dos fios deste infindável novelo de referências, que bem necessário é o discernimento para gerir tamanha informação. Para já, isso sim, a vossa atenção para a já anunciada proposta de hoje.
Boa audição!
*Luís de Freitas Branco era casado com D. Stela de Ávila Sousa mas João de Freitas Branco é filho de uma senhora empregada do Conservatório, portanto, de uma ligação extra-matrimonial.
**Muito supersticioso, avesso ao número 13, o compositor datou a obra de 1914…
de Freitas Branco a Beckford, via Byron (1)
Ontem, a propósito do centésimo septuagésimo aniversário de Antero de Quental, transcrevi o soneto ‘Solemnia Verba’ que inspirou o compositor Luís de Freitas Branco à composição d...e um homónimo poema sinfónico.
Hoje, mantendo-me ainda em sintonia com Luís Freitas Branco, apetecia lembrar algumas memórias pessoais acerca desta figura incontornável da Cultura Portuguesa de todos os tempos. De memórias pessoais, na realidade, teria de alimentar tal escrito já que meu pai, seu aluno de Composição, no Curso de Ciências Musicais do Conservatório de Lisboa, foi quem me passou a riquíssima informação que retenho.
São episódios interessantes, não só decorrentes das suas relações com o mestre e amigo, mas também fruto da frequência do meio musical de Lisboa, de serões em casas onde se praticava boa música e da amizade com o filho João de Freitas Branco*, José Manuel Joly de Braga Santos, Luís Villas Boas, João Sassetti, Ramada Curto e outros.
São histórias que mantêm a enorme vivacidade da inesgotável verve do meu pai que, na realidade, carecem de divulgação. Considero, no entanto, ser trabalho de maior fôlego, que reservarei para um artigo a publicar oportunamente.
Ainda a propósito da inegável importância cultural de Freitas Branco para a compreensão do século vinte português, há sete anos, por ocasião da passagem de meio século sobre a data do seu falecimento, cheguei a julgar estarem reunidas condições para se concretizar a divulgação da sua excepcional, ecléctica e compósita obra, bem como de uma biografia que lhe fizesse a devida justiça. É inegável que muito se fez mas ainda não foi o que podia ter sido e deveria ter acontecido.
Entretanto, preciso é manter a atitude de divulgação permanente das suas composições. Volto ao segundo parágrafo deste escrito, em que vos escrevia sobre a minha ‘sintonia’ para vos propor a audição de “Vatek”, datada de 1913**, outro poema sinfónico que, como poderão verificar encerra belíssimas páginas de música que, lamentavelmente, permanecem desconhecidas ou apenas acessíveis aos ‘iniciados’.
Como sabem, escrito por William Beckford em 1786, “Vatek” é um romance de recorte gótico, cujo ambiente radica num certo pendor orientalizante da cultura europeia de fins do século dezoito, privilegiando enquadramentos de cunho sobrenatural. Em Vathek, Beckford mistura um cómico grotesco com aspectos desconcertantes, cultivando o horror, enquanto relata as bizarras aventuras do Califa.
Não deixa de ser interessante referir que, em 1809, na sua brevíssima passagem por Sintra, deslocando-se a Monserrate, Lord Byron recolhe elementos que introduz em duas estâncias de “Chide Harold’s Pilgrimage”. Dirigindo-se e a ‘Vathek’, num vocativo que coincide com o do autor da gótica obra, conta-lhe do estado de ruína em que foi encontrar a quinta e palácio que William Beckford alugara, por dois períodos descontínuos, entre 1794 e 1799…
Mas esta é matéria que também poderá ficar em carteira para outro escrito. Tantos são os cruzamentos dos fios deste infindável novelo de referências, que bem necessário é o discernimento para gerir tamanha informação. Para já, isso sim, a vossa atenção para a já anunciada proposta de hoje.
Boa audição!
*Luís de Freitas Branco era casado com D. Stela de Ávila Sousa mas João de Freitas Branco é filho de uma senhora empregada do Conservatório, portanto, de uma ligação extra-matrimonial.
**Muito supersticioso, avesso ao número 13, o compositor datou a obra de 1914…
(1) Texto publicado no facebook no dia 19 do passado mês de Abril
http://youtu.be/-DSgY29dSdA
Luís de Freitas Branco | Vathek (2/3)Variações II, III e IV Fotografias de Monserrate (José Lima, António José Ribeiro e Nuno de Sousa, in olhares.aeiou.pt)
Luís de Freitas Branco | Vathek (2/3)Variações II, III e IV Fotografias de Monserrate (José Lima, António José Ribeiro e Nuno de Sousa, in olhares.aeiou.pt)
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