Olimpíadas,
oportunidade perdida
Relativamente à presença dos atletas olímpicos portugueses em Londres, estou em crer que a patológica e prevalecente expectativa de resultados fulgurantes é consequência de uma atitude que certos trabalhadores dos meios de comunicação social [tenho pudor em designá-los como jornalistas...] exploram muito além do que seria justificável, espicaçando a opinião pública, como que em demanda de uma reacção de «justa» revolta perante provas aparentemente «tão modestas».
Mas, afinal, o que é isto? Então o facto de terem sido seleccionados, entre os melhores do mundo, já não é uma honra absolutamente excepcional? Estar lá, em representação das nossas cores, será assim uma coisa tão perfeitamente corriqueira e banal que, em si, já não satisfaça o orgulho nacional? Ou, porque isso pouco vale, suposto é que, afinal, todos sejam «obrigados» a subir ao pódio? Se os portugueses que lá estão, tal como todos os outros atletas de todas as nações, são os melhores do mundo, não estão todos «inter pares» e nas mesmas circunstâncias?
Ou muito enganado estou ou esta atitude se confunde com uma perspectiva muito redutora de valores como o ideal olímpico ou a designada verdade do desporto. Então, por onde andam a vontade de protagonizar a sã competição, o respeito pelas capacidades dos adversários, a humildade e a capacidade de superação perante as adversidades dos momentos críticos que, tanto os próprios desportistas como o público que neles se projecta, sempre devem ter presentes para que aconteça o tão ambicionado enriquecimento pessoal?
Em especial, penso nas crianças e nos jovens para concluir como, neste momento em que o planeta assiste aos Jogos minados por uma global mentira institucionalizada, mais uma vez, se volta a perder a oportunidade de lhes ensinar os citados valores. Pretender-se-á que, em definitivo, concluamos serem uma farsa todas as cerimónias de abertura oficial das olimpíadas? De facto, a resposta só parece ser uma e, repito, a nossa comunicação social, de péssima qualidade, tem uma responsabilidade flagrante na subversão dos mais dignos e implícitos princípios.
O raríssimo privilégio da ‘nyke’ [vitória] olímpica, não pode nem deve ser encarado como o corolário de um percurso de ambições rasteiras, bem evidentes no engano de um público para quem o que parece interessar é lutar pela medalha, esquecendo que a máxima de Juvenal “mens sana in corpore sano” a todos se aplica e, portanto, neste particular caso das olimpíadas, tanto ao cidadão comum que assiste como ao atleta que participa.
Assim sendo, de facto, ou os Jogos Olímpicos, de acordo com Pierre de Coubertain, passam a constituir um momento da mais alta elevação cívica, de encontro e de participação colectiva na experiência das mais nobres virtudes ou, então, nada ou muito pouco valem, não ultrapassando a dimensão de jogos puramente circenses.
À luz dos desígnios de uma sociedade que tudo transacciona como fancaria ordinária, a própria consagração dos verdadeiramente excepcionais, como serão os casos de Phelps ou Bolt, parece não pretender mais do que aproveitar a perfeita oportunidade para os negócios dos artigos de desporto, da venda de imagens à escala global. Se assim for, como não lamentar que, dispondo de tantos meios de informação, deles se faça tão mau uso, em especial, quando a geração mais nova poderia estar a colher um benefício e não um prejuízo?
Finalmente, permitam que vos proponha escutarem esta impressionante interpretação da "Fanfare for the Common Man" de Aaron Copland, pela Orquestra Sinfónica da Rádio de Viena, sob a condução de Dennis Russel Davies - um maestro que admiro imenso, em especial, pelo incrível trabalho desenvolvido com os jovens músicos da Orquestra Sinfónica da Universidade do Mozarteum de Salzburg - celebrando o homem comum, capaz dos mais surpreendentes feitos.
Boa audição!
oportunidade perdida
Relativamente à presença dos atletas olímpicos portugueses em Londres, estou em crer que a patológica e prevalecente expectativa de resultados fulgurantes é consequência de uma atitude que certos trabalhadores dos meios de comunicação social [tenho pudor em designá-los como jornalistas...] exploram muito além do que seria justificável, espicaçando a opinião pública, como que em demanda de uma reacção de «justa» revolta perante provas aparentemente «tão modestas».
Mas, afinal, o que é isto? Então o facto de terem sido seleccionados, entre os melhores do mundo, já não é uma honra absolutamente excepcional? Estar lá, em representação das nossas cores, será assim uma coisa tão perfeitamente corriqueira e banal que, em si, já não satisfaça o orgulho nacional? Ou, porque isso pouco vale, suposto é que, afinal, todos sejam «obrigados» a subir ao pódio? Se os portugueses que lá estão, tal como todos os outros atletas de todas as nações, são os melhores do mundo, não estão todos «inter pares» e nas mesmas circunstâncias?
Ou muito enganado estou ou esta atitude se confunde com uma perspectiva muito redutora de valores como o ideal olímpico ou a designada verdade do desporto. Então, por onde andam a vontade de protagonizar a sã competição, o respeito pelas capacidades dos adversários, a humildade e a capacidade de superação perante as adversidades dos momentos críticos que, tanto os próprios desportistas como o público que neles se projecta, sempre devem ter presentes para que aconteça o tão ambicionado enriquecimento pessoal?
Em especial, penso nas crianças e nos jovens para concluir como, neste momento em que o planeta assiste aos Jogos minados por uma global mentira institucionalizada, mais uma vez, se volta a perder a oportunidade de lhes ensinar os citados valores. Pretender-se-á que, em definitivo, concluamos serem uma farsa todas as cerimónias de abertura oficial das olimpíadas? De facto, a resposta só parece ser uma e, repito, a nossa comunicação social, de péssima qualidade, tem uma responsabilidade flagrante na subversão dos mais dignos e implícitos princípios.
O raríssimo privilégio da ‘nyke’ [vitória] olímpica, não pode nem deve ser encarado como o corolário de um percurso de ambições rasteiras, bem evidentes no engano de um público para quem o que parece interessar é lutar pela medalha, esquecendo que a máxima de Juvenal “mens sana in corpore sano” a todos se aplica e, portanto, neste particular caso das olimpíadas, tanto ao cidadão comum que assiste como ao atleta que participa.
Assim sendo, de facto, ou os Jogos Olímpicos, de acordo com Pierre de Coubertain, passam a constituir um momento da mais alta elevação cívica, de encontro e de participação colectiva na experiência das mais nobres virtudes ou, então, nada ou muito pouco valem, não ultrapassando a dimensão de jogos puramente circenses.
À luz dos desígnios de uma sociedade que tudo transacciona como fancaria ordinária, a própria consagração dos verdadeiramente excepcionais, como serão os casos de Phelps ou Bolt, parece não pretender mais do que aproveitar a perfeita oportunidade para os negócios dos artigos de desporto, da venda de imagens à escala global. Se assim for, como não lamentar que, dispondo de tantos meios de informação, deles se faça tão mau uso, em especial, quando a geração mais nova poderia estar a colher um benefício e não um prejuízo?
Finalmente, permitam que vos proponha escutarem esta impressionante interpretação da "Fanfare for the Common Man" de Aaron Copland, pela Orquestra Sinfónica da Rádio de Viena, sob a condução de Dennis Russel Davies - um maestro que admiro imenso, em especial, pelo incrível trabalho desenvolvido com os jovens músicos da Orquestra Sinfónica da Universidade do Mozarteum de Salzburg - celebrando o homem comum, capaz dos mais surpreendentes feitos.
Boa audição!
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