Cursos profissionais
At: Texto publicado no facebook em 22 de Agosto
Entre Maio e Junho de 2006, portanto, há cerca de seis anos, publiquei no ‘Jornal de Sintra’ alguns artigos acerca de um assunto cuja pertinência, precisamente a partir de hoje, veio ocupar as primeiras páginas dos órgãos de comunicação social. Prende-se a matéria com a declaração do Prof. Nuno Crato, Ministro da Educação e Ciência, relativa ao projecto de promover a inscrição, no ensino profissional, de cerca de 50% dos alunos que terminam o 9º ano de escolaridade.
Tratando-se de uma questão que, entre mais algumas, me preocupou bastante como Técnico de Educação e professor, durante mais de trinta anos, não posso deixar de lamentar que praticamente nada se tenha avançado desde fins da década de setenta do século passado. Por isso, não admira que os artigos sobre o assunto se mantenham actuais e pertinentes.
Nestes termos, gostaria de partilhar convosco as referidas reflexões. Oxalá nelas encontrem algum préstimo e, eventualmente, que possam suscitar mais uma oportunidade de debate. Como se trata de uma série, numerá-los-ei com o objectivo de poderem lhes poderem aceder, em qualquer altura, sempre com um guia da ordem por que foram publicados.
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I.
Quem tem medo
dos cursos profissionais?
Basta olhar para o quadro estatístico seguinte para, de imediato, perceber como Portugal é um país com o futuro comprometido. Trata-se de números recentes, referentes ao ano lectivo de 2004/05, recolhidos e publicados pelo GIASE (Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo) do próprio Ministério da Educação:
Percentagem dos alunos matriculados, no Ensino Secundário, por tipologias de formação:
Ensino Regular: 70,8%
Ensino Recorrente: 18,7%
Ensino Profissional: 9,6%
Outro Ensino Profissional: 0,2%
Ensino Artístico Especializado (regime integrado): 0,7%
Maioritária e tão expressivamente que não pode deixar de causar tremenda preocupação, os jovens portugueses matriculam-se em modalidades do Ensino Secundário que apenas os habilitam a prosseguir estudos no Ensino Superior, não chegando a dez por cento o total da procura de cursos profissionais que habilitam à imediata inserção no mercado do trabalho. No conjunto de países da União Europeia em que o nosso se integra e fazendo parte da zona de moeda única, não há situação tão aflitiva que se lhe possa comparar.
As faces da moeda
Por um lado, em termos gerais, não há empreendedor que decida montar uma unidade comercial, industrial ou do sector dos serviços, moderna e competitiva, que não encontre a maior dificuldade no recrutamento de mão de obra jovem, devidamente habilitada, aberta à mudança, capaz de responder aos reptos constantemente lançados pela competitividade, no quadro de uma globalização cujos contornos, causas e consequências ainda muito mal são equacionados.
Em contrapartida, por outro, ano após ano, tanto as Escolas Secundárias como a universidade e o politécnico vão devolvendo à comunidade um desproporcionado conjunto de cidadãos – cerca de quarenta por cento dos candidatos - que, tendo começado a frequentar os níveis de ensino em referência, os abandonam sem qualquer habilitação que, minimamente, permita uma adequada integração no mercado de trabalho.
Tão grave ou ainda mais do que esta situação de abandono, sem qualquer qualificação, é a daqueles que, pura e simplesmente, não encontram colocação no mercado de trabalho embora tenham conseguido terminar a sua licenciatura. Nesta situação, Portugal tem mais de quarenta mil jovens licenciados, desempregados, à procura do primeiro emprego.
A miragem do «dr»
Na ânsia da obtenção de um «dê erre» a qualquer preço ou, melhor, mediante um preço que confira estatuto social, nem os jovens nem as famílias perceberam que estavam a hipotecar o futuro pela miragem do horizonte do sucesso através de um canudo entendido como lâmpada de Aladino… Na realidade, hoje em dia, o ambicionado canudo não abre as portas que outrora franqueava e, não raro, transformou-se num peso morto e apenas mero símbolo das renúncias e sacrifícios a que a sua obtenção obrigou.
Entretanto, em consequência desta distorção, não existe a mão de obra qualificada que a escolaridade de doze anos deveria ter produzido se, na sequência dos nove anos de Ensino Básico, muitos jovens tivessem enveredado pelas modalidades do Ensino Secundário com vertente profissional que permitem imediato acesso ao mercado de trabalho sem jamais comprometer o acesso ao Ensino Superior.
Ora bem, uma das maneiras de assegurar que o nosso seja, cada vez menos, um concelho adiado passa pela capacidade de mobilização para o esclarecimento junto das famílias dos jovens que, neste momento, estão a terminar o 9º ano de escolaridade, ajudando-as a constituírem-se como defensoras da alternativa da modalidade de Ensino Secundário que mais convém tanto aos jovens educandos como ao concelho e ao país.
Informar é o caminho
Assim sendo, impõe-se não admitir que haja sequer uma escola onde um qualquer professor ou funcionário administrativo, por manifesta ignorância ou má fé, se permita fazer passar a ideia, perante alunos e famílias, de que um curso profissional é apenas uma modalidade destinada aos estudantes que não conseguem ter sucesso nos cursos considerados normais.
Os tais cursos normais, do Ensino Regular, estão a montante de situações extremamente preocupantes, discutíveis e controversas. E de tal modo assim é, que se impõe a promoção de reuniões e sessões de informação através das quais todos os intervenientes adquiram os instrumentos adequados à tomada da melhor decisão quanto à modalidade de ensino mais acertada a cada caso em análise.
Há que ter em consideração um facto absolutamente determinante e decisivo para quem, de todo em todo, apesar de pensar num facilitado ingresso no mercado do trabalho, entre os dezoito e os vinte anos, não pretende perder de vista a hipótese de continuar a estudar: é que qualquer das quatro modalidades de Ensino Secundário – cursos Cientifico-Humanísticos, Tecnológicos, Artísticos Especializados, Profissionais – permite o prosseguimento de estudos no Ensino Superior.
De qualquer modo, urge alterar drasticamente a situação de frequência do Ensino Secundário, privilegiando, indiscutivelmente, as propostas profissionalizantes. Para o efeito, há todo um trabalho a desenvolver entre a Escola e a Família, entre professores e representantes das associações de pais, um sério esclarecimento junto dos alunos. Se não há tempo a perder, porque não vemos nós as escolas básicas de 2º e 3º ciclos promovendo tal trabalho de sistemática informação?
Entre Maio e Junho de 2006, portanto, há cerca de seis anos, publiquei no ‘Jornal de Sintra’ alguns artigos acerca de um assunto cuja pertinência, precisamente a partir de hoje, veio ocupar as primeiras páginas dos órgãos de comunicação social. Prende-se a matéria com a declaração do Prof. Nuno Crato, Ministro da Educação e Ciência, relativa ao projecto de promover a inscrição, no ensino profissional, de cerca de 50% dos alunos que terminam o 9º ano de escolaridade.
Tratando-se de uma questão que, entre mais algumas, me preocupou bastante como Técnico de Educação e professor, durante mais de trinta anos, não posso deixar de lamentar que praticamente nada se tenha avançado desde fins da década de setenta do século passado. Por isso, não admira que os artigos sobre o assunto se mantenham actuais e pertinentes.
Nestes termos, gostaria de partilhar convosco as referidas reflexões. Oxalá nelas encontrem algum préstimo e, eventualmente, que possam suscitar mais uma oportunidade de debate. Como se trata de uma série, numerá-los-ei com o objectivo de poderem lhes poderem aceder, em qualquer altura, sempre com um guia da ordem por que foram publicados.
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I.
Quem tem medo
dos cursos profissionais?
Basta olhar para o quadro estatístico seguinte para, de imediato, perceber como Portugal é um país com o futuro comprometido. Trata-se de números recentes, referentes ao ano lectivo de 2004/05, recolhidos e publicados pelo GIASE (Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo) do próprio Ministério da Educação:
Percentagem dos alunos matriculados, no Ensino Secundário, por tipologias de formação:
Ensino Regular: 70,8%
Ensino Recorrente: 18,7%
Ensino Profissional: 9,6%
Outro Ensino Profissional: 0,2%
Ensino Artístico Especializado (regime integrado): 0,7%
Maioritária e tão expressivamente que não pode deixar de causar tremenda preocupação, os jovens portugueses matriculam-se em modalidades do Ensino Secundário que apenas os habilitam a prosseguir estudos no Ensino Superior, não chegando a dez por cento o total da procura de cursos profissionais que habilitam à imediata inserção no mercado do trabalho. No conjunto de países da União Europeia em que o nosso se integra e fazendo parte da zona de moeda única, não há situação tão aflitiva que se lhe possa comparar.
As faces da moeda
Por um lado, em termos gerais, não há empreendedor que decida montar uma unidade comercial, industrial ou do sector dos serviços, moderna e competitiva, que não encontre a maior dificuldade no recrutamento de mão de obra jovem, devidamente habilitada, aberta à mudança, capaz de responder aos reptos constantemente lançados pela competitividade, no quadro de uma globalização cujos contornos, causas e consequências ainda muito mal são equacionados.
Em contrapartida, por outro, ano após ano, tanto as Escolas Secundárias como a universidade e o politécnico vão devolvendo à comunidade um desproporcionado conjunto de cidadãos – cerca de quarenta por cento dos candidatos - que, tendo começado a frequentar os níveis de ensino em referência, os abandonam sem qualquer habilitação que, minimamente, permita uma adequada integração no mercado de trabalho.
Tão grave ou ainda mais do que esta situação de abandono, sem qualquer qualificação, é a daqueles que, pura e simplesmente, não encontram colocação no mercado de trabalho embora tenham conseguido terminar a sua licenciatura. Nesta situação, Portugal tem mais de quarenta mil jovens licenciados, desempregados, à procura do primeiro emprego.
A miragem do «dr»
Na ânsia da obtenção de um «dê erre» a qualquer preço ou, melhor, mediante um preço que confira estatuto social, nem os jovens nem as famílias perceberam que estavam a hipotecar o futuro pela miragem do horizonte do sucesso através de um canudo entendido como lâmpada de Aladino… Na realidade, hoje em dia, o ambicionado canudo não abre as portas que outrora franqueava e, não raro, transformou-se num peso morto e apenas mero símbolo das renúncias e sacrifícios a que a sua obtenção obrigou.
Entretanto, em consequência desta distorção, não existe a mão de obra qualificada que a escolaridade de doze anos deveria ter produzido se, na sequência dos nove anos de Ensino Básico, muitos jovens tivessem enveredado pelas modalidades do Ensino Secundário com vertente profissional que permitem imediato acesso ao mercado de trabalho sem jamais comprometer o acesso ao Ensino Superior.
Ora bem, uma das maneiras de assegurar que o nosso seja, cada vez menos, um concelho adiado passa pela capacidade de mobilização para o esclarecimento junto das famílias dos jovens que, neste momento, estão a terminar o 9º ano de escolaridade, ajudando-as a constituírem-se como defensoras da alternativa da modalidade de Ensino Secundário que mais convém tanto aos jovens educandos como ao concelho e ao país.
Informar é o caminho
Assim sendo, impõe-se não admitir que haja sequer uma escola onde um qualquer professor ou funcionário administrativo, por manifesta ignorância ou má fé, se permita fazer passar a ideia, perante alunos e famílias, de que um curso profissional é apenas uma modalidade destinada aos estudantes que não conseguem ter sucesso nos cursos considerados normais.
Os tais cursos normais, do Ensino Regular, estão a montante de situações extremamente preocupantes, discutíveis e controversas. E de tal modo assim é, que se impõe a promoção de reuniões e sessões de informação através das quais todos os intervenientes adquiram os instrumentos adequados à tomada da melhor decisão quanto à modalidade de ensino mais acertada a cada caso em análise.
Há que ter em consideração um facto absolutamente determinante e decisivo para quem, de todo em todo, apesar de pensar num facilitado ingresso no mercado do trabalho, entre os dezoito e os vinte anos, não pretende perder de vista a hipótese de continuar a estudar: é que qualquer das quatro modalidades de Ensino Secundário – cursos Cientifico-Humanísticos, Tecnológicos, Artísticos Especializados, Profissionais – permite o prosseguimento de estudos no Ensino Superior.
De qualquer modo, urge alterar drasticamente a situação de frequência do Ensino Secundário, privilegiando, indiscutivelmente, as propostas profissionalizantes. Para o efeito, há todo um trabalho a desenvolver entre a Escola e a Família, entre professores e representantes das associações de pais, um sério esclarecimento junto dos alunos. Se não há tempo a perder, porque não vemos nós as escolas básicas de 2º e 3º ciclos promovendo tal trabalho de sistemática informação?
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