Escolher bem
[texto publicado no facebook em 20 de Setembro]
Mesmo nada tendo a ver com a vida do partido da São Caetano à Lapa, como vivemos num Estado Democrático de Direito, sempre que há eleições legislativas, é o Presidente do PSD que teremos de aceitar como Primeiro-Ministro se a maioria dos votos apontar nesse sentido.
Ora bem, perante o descalabro da liderança de Pedro Passos Coelho, muito bom será – e já vai sendo tempo que assim aconteça – que os militantes do PSD aproveitem a oportunidade e percebam como é vital distinguir os reais méritos de quem se perfila como candidato à presidência do seu partido.
Se quaisquer dúvidas subsistissem, esta actual e tão grave crise em que estamos mergulhados, suscitada por tanta incompetência pessoal, em todos os domínios, vem demonstrar aos portugueses, em geral e aos militantes do PSD, em particular, que saber escolher um presidente de partido não é bem a mesma coisa que decidir por este ou aquele detergente.
Fez muito mal o PSD que teve oportunidade mas decidiu não considerar a hipótese de ser liderado por alguém com muito melhores créditos e evidente gabarito. Naturalmente, refiro-me a Paulo Rangel.
Conheci o professor João de
Oliveira Cachado a 17 de Novembro de 2006, quando a ainda jovem Alagamares
entendeu empreender uma campanha pelo restauro do então abandonado Chalé da
Condessa d’Edla, no Parque da Pena. Técnico de educação e pedagogo, ligado
anteriormente também à Escola Profissional de Recuperação do Património de
Sintra, dele pudemos então escutar valiosas informações sobre o trabalho de
campo já executado por essa escola em prol da reabilitação do local, e as suas
ponderadas e fundamentadas palavras denotadoras dum vasto conhecimento das
patologias e carências na recuperação da jóia da coroa, sangrando esfaqueada por
supostos guardiães usurpadores e acossada pela incúria, para muitos
provavelmente “romântica” até.
Desde essa noite, nasceu e
consolidou-se um sentimento de respeito e consideração que nos aproximou civica
e intelectualmente, tendo desde então mantido contactos regulares que se
traduziram no acompanhamento das iniciativas tendentes ao restauro do chalé (e
de que destaco, entre várias, a jornada cívica de 4 de Março de 2008, com a
visita não autorizada de um punhado de sintrenses ao local ainda em ruínas, à
cabeça dos quais se destacou Maria Almira Medina, foto abaixo) e posteriormente
as denúncias em torno da usurpação dos jardins de Seteais durante o período de
obras que afrontou a carta de aforamento de 1801, entre outras causas.
Presença frequente na
imprensa local e na blogosfera, dele se ouviram e ouvem avisadas palavras e
opiniões denunciando ou contestando a perpretação de atentados ou desatenções do
poder em temas como o tanque de Seteais e as construções ali erigidas em zona
sensível, a frustrada aquisição da Quinta do Relógio, o caravanismo selvagem no
Rio do Porto, a falta de legendas explicativas em muitos dos locais simbólicos
de Sintra ou a limpeza e falta de civismo que a consciência de todos convoca,
como cidadãos, munícipes e sintrenses.
Melómano inveterado,
entusiasta militante da Mozartwoche de Salzburgo, que nunca perde, perdendo-se
no perfume inebriante da sua música, pedonal caminheiro dos “seis quilómetros à
hora”, como a si próprio se define, Sintra habitou-se há muito à sua voz
independente, construtiva, e acima de tudo, cidadã, duma estirpe que hoje vai
rareando e nos relembra emocionados um José Alfredo ou um Francisco Costa,
guerreiros da pena e príncipes da palavra, D.Fernando ou o Carvalho da Pena, os
jardineiros de Deus.
No próximo dia 28 de
Setembro, no momento em que a brisa da tarde e um derradeiro ressoar de cascos
de cavalo quebrar o torpor e os silêncios da serra sagrada, regressando à vila,
os homens, finitos e tangíveis, tratarão de se reconciliar exorcizando o
Silêncio e saudando o Homem, momento em que a edilidade de Sintra irá
homenageá-lo na Quinta da Regaleira, num merecido acto simbólico, felizmente
certeiro, no espaço e no tempo. Escreveu ele de si
próprio:
“Sem dar muito pelo
tempo que passa, a verdade é que há cinquenta anos que celebro a música
constantemente, em directo, em Portugal e por essa Europa fora, especialmente,
em Salzburg onde, há muito tempo, fiquei preso, perfeitamente cativo. De facto,
tenho o incrível privilégio e o invejável poder de marcar a agenda da minha vida
a partir dos compromissos musicais.
(…)No meu caso pessoal, não será preciso fazer um grande esforço para perceber como o melómano se confunde com o diletante, com o viajante, e, em certos casos, com o de peregrino, como acontece com Salzburg (tão especialmente, no Inverno, por altura da Mozartwoche) ou Bayreuth, sempre em busca do instantâneo momento em que Arte, Beleza e a centelha do Divino acontecem”.
(…)No meu caso pessoal, não será preciso fazer um grande esforço para perceber como o melómano se confunde com o diletante, com o viajante, e, em certos casos, com o de peregrino, como acontece com Salzburg (tão especialmente, no Inverno, por altura da Mozartwoche) ou Bayreuth, sempre em busca do instantâneo momento em que Arte, Beleza e a centelha do Divino acontecem”.
Como escreveu Oscar Wilde,
“Chamamos Ética ao conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos
estão a olhar. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém olha ou
repara, chamamos Carácter”.
Parabéns e continue, João
Cachado! Sintra ainda tem Memória!
Conheci o professor João de
Oliveira Cachado a 17 de Novembro de 2006, quando a ainda jovem Alagamares
entendeu empreender uma campanha pelo restauro do então abandonado Chalé da
Condessa d’Edla, no Parque da Pena. Técnico de educação e pedagogo, ligado
anteriormente também à Escola Profissional de Recuperação do Património de
Sintra, dele pudemos então escutar valiosas informações sobre o trabalho de
campo já executado por essa escola em prol da reabilitação do local, e as suas
ponderadas e fundamentadas palavras denotadoras dum vasto conhecimento das
patologias e carências na recuperação da jóia da coroa, sangrando esfaqueada por
supostos guardiães usurpadores e acossada pela incúria, para muitos
provavelmente “romântica” até.
Desde essa noite, nasceu e
consolidou-se um sentimento de respeito e consideração que nos aproximou civica
e intelectualmente, tendo desde então mantido contactos regulares que se
traduziram no acompanhamento das iniciativas tendentes ao restauro do chalé (e
de que destaco, entre várias, a jornada cívica de 4 de Março de 2008, com a
visita não autorizada de um punhado de sintrenses ao local ainda em ruínas, à
cabeça dos quais se destacou Maria Almira Medina, foto abaixo) e posteriormente
as denúncias em torno da usurpação dos jardins de Seteais durante o período de
obras que afrontou a carta de aforamento de 1801, entre outras causas.
Presença frequente na
imprensa local e na blogosfera, dele se ouviram e ouvem avisadas palavras e
opiniões denunciando ou contestando a perpretação de atentados ou desatenções do
poder em temas como o tanque de Seteais e as construções ali erigidas em zona
sensível, a frustrada aquisição da Quinta do Relógio, o caravanismo selvagem no
Rio do Porto, a falta de legendas explicativas em muitos dos locais simbólicos
de Sintra ou a limpeza e falta de civismo que a consciência de todos convoca,
como cidadãos, munícipes e sintrenses.
Melómano inveterado,
entusiasta militante da Mozartwoche de Salzburgo, que nunca perde, perdendo-se
no perfume inebriante da sua música, pedonal caminheiro dos “seis quilómetros à
hora”, como a si próprio se define, Sintra habitou-se há muito à sua voz
independente, construtiva, e acima de tudo, cidadã, duma estirpe que hoje vai
rareando e nos relembra emocionados um José Alfredo ou um Francisco Costa,
guerreiros da pena e príncipes da palavra, D.Fernando ou o Carvalho da Pena, os
jardineiros de Deus.
No próximo dia 28 de
Setembro, no momento em que a brisa da tarde e um derradeiro ressoar de cascos
de cavalo quebrar o torpor e os silêncios da serra sagrada, regressando à vila,
os homens, finitos e tangíveis, tratarão de se reconciliar exorcizando o
Silêncio e saudando o Homem, momento em que a edilidade de Sintra irá
homenageá-lo na Quinta da Regaleira, num merecido acto simbólico, felizmente
certeiro, no espaço e no tempo. Escreveu ele de si
próprio:
“Sem dar muito pelo
tempo que passa, a verdade é que há cinquenta anos que celebro a música
constantemente, em directo, em Portugal e por essa Europa fora, especialmente,
em Salzburg onde, há muito tempo, fiquei preso, perfeitamente cativo. De facto,
tenho o incrível privilégio e o invejável poder de marcar a agenda da minha vida
a partir dos compromissos musicais.
(…)No meu caso pessoal, não será preciso fazer um grande esforço para perceber como o melómano se confunde com o diletante, com o viajante, e, em certos casos, com o de peregrino, como acontece com Salzburg (tão especialmente, no Inverno, por altura da Mozartwoche) ou Bayreuth, sempre em busca do instantâneo momento em que Arte, Beleza e a centelha do Divino acontecem”.
(…)No meu caso pessoal, não será preciso fazer um grande esforço para perceber como o melómano se confunde com o diletante, com o viajante, e, em certos casos, com o de peregrino, como acontece com Salzburg (tão especialmente, no Inverno, por altura da Mozartwoche) ou Bayreuth, sempre em busca do instantâneo momento em que Arte, Beleza e a centelha do Divino acontecem”.
Como escreveu Oscar Wilde,
“Chamamos Ética ao conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos
estão a olhar. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém olha ou
repara, chamamos Carácter”.
Parabéns e continue, João
Cachado! Sintra ainda tem Memória!
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