[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 25 de setembro de 2012



[Texto publicado na última edição do 'Jornal de Sintra', 7 de Setembro de 2012]


Sintra,
legendas no património


De acordo com informação que obtive de boa fonte, será necessário consultar estatísticas de há quatorze anos, altura da Expo 98, para encontrar números análogos e tão gratificantes de visitas de turistas a Sintra análogos com os que estão a acontecer neste ano da graça de 2012. Em temp
o de crise tão séria, eis uma notícia extremamente positiva para uma terra cujo perfil de vocação turística é indesmentível.

Precisamente a propósito desta primeira constatação, é de turismo que hoje me ocupo, aliás, como tantas e tantas vezes tenho feito, sempre com o objectivo de avançar com mais uma ou outra sugestão que, uma vez concretizadas, poderão melhorar situações objecto de reparo. E, de facto, como prova cabal do que acabo de escrever, socorrer-me-ei de um artigo que subscrevi há mais de sete anos, publicado nestas páginas do Jornal de Sintra, mais precisamente, na rubrica «Conselho Adiado», em 15 de Abril de 2005.

“Um turismo às claras…” era o título da peça que, entre outras preocupações, maior insistência fazia sobre a absoluta e vital obrigação de veicular toda a informação que é suposto fornecer a quem nos visita, acerca dos bens patrimoniais de inequívoco interesse que, felizmente, em Sintra, não faltam e se deparam a cada passo, instantânea e muito sinteticamente, com a maior eficácia. É a este propósito que reclamo a pertinência do título, uma vez que tal atitude equivale à «legendagem» do património.

Para que não me alongue, passarei já a citar: “(…) Consideremos, por exemplo, três casos paradigmáticos e contíguos: a Quinta da Regaleira, a Quinta do Relógio e o esplêndido monumento vivo que é aquele sobreiro mesmo à beira da estrada, à direita de quem, poucos metros adiante vai iniciar a subida da rampa. Nada, absolutamente nenhuma informação ali existe que esclareça o passante quanto à singularidade dos três manifestos de património.

No pelouro do turismo da autarquia, se confrontados com esta realidade, os responsáveis replicariam que o visitante, turista nacional ou estrangeiro, passa pela delegação do Turismo local onde é apetrechado de folhetos, de mapas e cumulado com documentação de todo o tipo, que lhe facilitará as deslocações, o respectivo esclarecimento. (…)

O mínimo que poderíamos ripostar é que uma coisa não invalida a outra. Pois sim senhor, não só todo o suporte documental de papel impresso mas também a informação que, in loco, deve estar disponível, através de placa ou painel informativo, de reduzidas dimensões, legível à curta distância de cerca de um metro, contendo apenas meia dúzia de frases imprescindíveis à localização da peça no tempo e no espaço, dando conta de qualquer episódio de interesse relevante.

Quanto aos exemplos em referência, cada edifício disporia de uma placa informando sobre a estética revivalista romântica da sua arquitectura, esclarecendo acerca dos proprietários iniciais promotores da construção, dos artistas envolvidos, das curiosidades mais notáveis tais como toda a simbologia maçónica da Regaleira, ou o facto histórico de D. Carlos e D. Amélia terem passado a lua de mel na Quinta do Relógio. A propósito da árvore, para além das referências botânicas identificativas da espécie, importaria divulgar os escritores que a ela se referiram.

Mais casos? Porque não Seteais, a pouca distância? Chegados ao portão de acesso, há placas que identificam o Palácio de Seteais apenas como hotel de luxo de determinada (…) Ali deveria existir informação acerca deste palácio do século XVIII, dos jardins de acesso livre e gratuito, do miradouro do qual se avista uma das mais impressionantes paisagens de Portugal, daquele arco de triunfo e o acontecimento ali celebrado, etc, etc. (…)”

Esta é matéria aliciante mas, como se pode verificar, que nada evidencia de particularmente inovador. Legendar o património, ou seja, disponibilizar uma placa que funcione como «cartão de identidade» da peça patrimonial é coisa perfeitamente corriqueira em todas as comunidades cujos responsáveis pelo turismo e património cultural há muito se renderam a esta prática tão simples mas tão eficaz de divulgação da sua riqueza.

Permitam que continue a citar o que então escrevi porque, infelizmente, as palavras que se seguem não perderam oportunidade.

Circuitos e sugestões

“(…) Outro exemplo, entre tantos referenciáveis. Em pleno coração do centro histórico, justificar-se-ia a existência de informação acerca da zona da Judiaria junto ao arco que lhe dá acesso, à esquerda de quem sobe a rua, a caminho da Periquita. E, em sentido contrário, outra placa ou painel referenciando a Rua do Açougue, remota reminiscência do as-soq árabe, mesmo sob a esplanada do Café Paris. Estas, apenas duas das etapas de passagem de um circuito medieval de Sintra, a promover com outros motivos do maior interesse.

Como não lembrar, igualmente, entre tantas que poderíamos citar, noutra zona da sede do concelho, as obras dos Arquitectos Norte Júnior, Adães Bermudes, Raul Lino, sem qualquer identificação? Naturalmente, a informação a disponibilizar, ainda que significativamente reduzida, obedeceria sempre a um mesmo modelo padrão de painel-placa, talvez com a aposição de um pequeno símbolo cromático, identificador de certo circuito (medieval, romântico, queiroziano ou outros) em coerente articulação com a que aparece nos folhetos turísticos, tanto em termos do estilo informativo como no aspecto gráfico.

Será difícil pôr em marcha semelhante plano de identificação e divulgação de todos os lugares de interesse de Sintra? Será difícil de entender que este tipo de informação é, pelo menos, tão essencial como o dos folhetos e mapas distribuídos pelo Turismo? Não se perceberá que esta também é uma forma de promover a auto-estima dos residentes menos esclarecidos, possibilitando-lhes uma informação sucinta e rápida sobre um património que os forasteiros procuram por razões nem sempre compreensíveis? Muito trabalho? Mas tão aliciante, tão útil, urgente e necessário!”

Acabo de citar. Passados sete anos, não teria trazido, novamente, este assunto à baila se não me parecesse que as medidas sugeridas continuam pertinentes e, mesmo em tempo de crise tão grave, igualmente, por se tratar de um investimento não muito significativo, de inequívoco e positivo retorno. Cada vez mais, com mais turistas, impõe-se uma cada vez mais eficaz atitude de divulgação dos bens que nos são mais caros.

A concluir, até ouso alvitrar o envolvimento da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra que, além das competências trabalhadas nas disciplinas de Português e de História, dispõe de meios afins da concretização de tal projecto, para concepção das placas de identificação, por exemplo, nas especialidades de Azulejaria e Metais se, por suportes azulejares ou metálicos, se optasse para tal efeito.

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]

 
 

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