Um homem e uma mulher…
AT: Texto publicado no facebook em 25 de Agosto
É inegável que, no cômputo geral da sua actividade política, Francisco Louçã averba muito mais momentos de êxito do que de insucesso. De qualquer modo, como qualquer mortal, o ainda coordenador do Bloco de Esquerda tem protagonizado alguns episódios menos positivos para o seu currículo de líder de um partido que, em 1999, tendo começado com uma representação parlamentar de dois deputados, dez anos passados, ultrapassava o PCP, alcançando dezasseis representantes do povo no hemiciclo.
Entre as atitudes mais censuráveis que lhe têm sido apontadas, avulta a acusação de se ter aliado à direita para derrubar o PEC IV e a resolução de não ter negociado directamente com a troika, cuja avaliação por parte do seu potencial eleitorado, tão significativa terá sido que – parcialmente, é certo, mas em articulação com outros factores potenciadores do resultado em questão – contribuiria, nas últimas eleições legislativas, para a perda de metade da bancada, reduzindo a oito os mandatos no Parlamento.
Mais recentemente, gerando a maior controvérsia, eis que avançou com a sua proposta de liderança bicéfala do partido, especificamente a partilhar por um homem e uma mulher. A primeira e anedótica conotação que a coisa logo me sugeriu foi aquela pirosice do filme do Lelouche “Un homme et une femme”, que antes do Maio de 68, fez as delícias das sopeiras europeias.., Mais seriamente, como exige a situação, o modelo de tal liderança parece-me bizarro quando não susceptível de gerar confusões evitáveis.
Esta é daquelas ideias que, por analogia com a das quotas, tentam impor, à força, a presença das mulheres na vida política, como se elas não tivessem argumentos bastantes para, quando quiserem, através da qualidade do seu empenho e trabalho, acabarem por fazerem vencer a solução que mais lhes convém. Aliás, ao contrário do que a proposta de Louçã pretende, arrisca-se a suscitar reacções menos convenientes entre a camada mais esclarecida do eleitorado da esquerda que, discretamente, isso sim, luta por atenuar as diferenças de género em todas as instâncias e, principalmente, na vida político-partidária.
Não assumir que a bicefalia de uma tal liderança, tão reveladoramente forçada – tão, tão imposta que até se permitiu indicar quem seriam os seus substitutos!... – é coisa demasiado incauta e, como está a verificar-se, só pode gerar anticorpos, inclusive, no próprio partido. Ou muito me engano ou esta é outra das propostas menos felizes de Louçã. Se fosse avante, resultaria numa mais que previsível inoperacionalidade e, cumulativamente, ainda mais razões forneceria àqueles que consideram pretender o BE jamais afirmar-se como força partidária credível para alternar em soluções de governação.
De qualquer modo, a concretizar-se, tenho a impressão de que, em vez do grupo parlamentar actual, que já cabe numa carrinha das grandes, muito rapidamente, o BE voltará aos primórdios, bastando-lhe uma moto para as deslocações…
E, a propósito de dislates, finalmente, deixem que brinque um pouco propondo-vos a tal xaropada do Lelouch, através do tema musical do referido filme. Para que conste, os anos sessenta também tiveram deslizes que tais...
http://youtu.be/2bYBn5VJ-ko
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