Uma questão de exemplo
[Texto publicado no facebook em 12 de Outubro]
Ao contrário do que algumas pessoas pretendem, o interesse dos cidadãos que discutem a aquisição dos quatro automóveis topo de gama pelo grupo parlamentar do Partido Socialista, com verbas disponibilizadas pelos contribuintes, não se enquadra em qualquer manobra de diversão, com o objectivo de desfocar a atenção de matérias que, supostamente, os deveriam preocupar em exclusivo.
Compreende-se que, muito naturalmente, ao Partido Socialista conviesse propalar tal ideia. Porém, é de tal modo paradigmática a atitude do referido grupo parlamentar que, por mais voltas e reviravoltas que dêem, nunca sairão bem do retrato.
Se não, vejamos. Completamente exaurido, julgava o povo não poder mais com a carga de impostos que tem vindo a suportar e eis que se avizinha um ano inimaginável. Ora bem, é precisamente numa altura como a que estamos a atravessar, com os cidadãos causticado por tantos sacrifícios, que os senhores deputados arranjaram maneira de escandalizar quem está cada vez menos disponível a aturar-lhes a bizarria de quaisquer mordomias.
Muito bom sintoma é este. Muito nos deve animar a circunstância de verificar que o povo se insurge contra tais testemunhos de abuso, que não encontram paralelo em países ricos, como os escandinavos, onde tudo se pauta com uma cuidadosa contenção nos gastos dos dinheiros públicos, exactamente no respeito pelo esforço dos cidadãos na disponibilização das verbas e no sentido de não ferir a sua susceptibilidade.
Se esses senhores – hoje, do grupo parlamentar do PS mas que, amanhã, não tenhamos a mínima dúvida, poderiam ser do PSD – pretendem fazer-se deslocar em viaturas que, enfim, ultrapassem a classe das utilitárias, pois, então, que as adquiram com os seus dinheiros pessoais. Não fariam mais do que, nos tempos da «outra senhora», fazia, por exemplo, o Dr. José Gonçalo Correia de Oliveira, Ministro da Economia e delfim de Salazar, que tinha a mania dos mais sofisticados automóveis, chegando a ter um Aston Regina Marti Evaldin DB6, vários Jaguar de diferentes modelos, Alfa Romeo, Facel Veja e eu sei lá que mais. Mas, atenção, eram pagos com o seu dinheiro, dele que era um homem rico, nascido numa família rica, com suficientes cabedais para sustentar tão requintados gostos.
Nos tempos que correm, como assim não podem fazer, isto é, como não têm de seu para pagar o luxo que julgam ter direito, muitos dos actuais políticos apenas se dão ares… E, portanto, com o dinheiro dos contribuintes, fazem ridículas figuras de papalvos, de pacóvios, protagonizando a atitude dos deslumbrados que, nunca tendo tido acesso a certos meios e a certos bens, se convenceram de que, ao volante dos automóveis em questão, as suas medíocres pessoas beneficiarão do estatuto a que aspiram…
O grande problema é que é gente deste baixo calibre e tanta falta de nível que acaba por ocupar os cargos do poder, delegado pelos eleitores, subvertendo os mecanismos da democracia. Urge não lhes dar descanso, urge desmascará-los, desacreditá-los, ridicularizá-los agora e quando tiverem o descaramento de se apresentarem ao eleitorado.
Não há como não conversar acerca deste assunto com os nossos miúdos, nas escolas, em casa, evidenciando o péssimo exemplo de quem mina a cidadania. Só assim, ajudando a entender e a descodificar comportamentos tão desviantes, talvez possamos ter a dita de nos livrarmos destes videirinhos ordinários.
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