Heliodoro Salgado,
ainda por resolver
[Parte II]
[Eis a Parte II do artigo publicado na edição de 23.11.12 do 'Jornal de Sintra'. De tal modo o assunto suscita o interesse local que já se pensa em organizar uma jornada de reflexão a exemplo do que aconteceu em 22 de Março de 2004. Não se pode perder mais tempo.]
"Ainda pior que o quadro precedente é o da Rua Capitão Mário Alberto Soares Pimentel que, para todos os efeitos, também faz parte da denominada zona pedonal da Estefânea. Trata-se de uma via tão inqualificável e já esquecida como afecta a peões, que nem vale a pena prosseguir com qualquer descrição a qual sempre ficaria aquém da dura realidade.
Entretanto, importa ter em consideração que, no âmbito da designada requalificação/reabilitação urbana da Estefânea (Projecto de 1999/2000) a outra parte intervencionada da Avenida Heliodoro Salgado não teve melhor sorte. Embora o paralelepípedo seja solução bem mais interessante que a dos mosaicos cinzentões, mais uma vez se verifica que, em termos técnicos, foi tão mal concretizada que, mesmo após uma tentativa de remediação, prevalece o perfil ondulante do pavimento, com as viaturas a baterem com o chassis na pedra…
Outro é o problema resultante da existência de um separador, entre as faixas ascendente e descendente, cujas dimensões suscitam dificuldades de circulação aos veículos pesados de transporte público. E a rotunda, com um jogo de água tão mal amado, que qualquer tentativa de o fazer funcionar resulta em inesgotável corrente de espuma gerada por detergente estrategicamente adicionado? Não parece, mas foi possível que, no contexto da tal requalificação/reabilitação, não se tivesse aproveitado a oportunidade para: 1. equacionar a hipótese de operacionalizar a articulação do Centro Cultural Olga Cadaval e Casino com o parque de estacionamento adjacente ao edifício do Departamento de Urbanismo da CMS na Portela, a dois minutos de percurso a pé, solução esta que, com a anulação da ponte metálica, tudo comprometeu; 2.dotar o CC Olga Cadaval com o adequado dispositivo de cais de cargas e descargas em falta desde a alteração do edifício; 3. viabilizar um circuito expedito que permitisse o acesso dos veículos pesados transportando boas produções de ópera, bailado, circo, etc, que poderiam promover a viabilização económica do empreendimento.
Enfim, um encadeado de infelizes circunstâncias indissociáveis da análise do caso Heliodoro Salgado. É neste quadro, aliás, que cumpre perceber o que é feito dos veículos que transitavam pela artéria e que passaram a fazer os circuitos alternativos.
A montante e a jusante, onde anda ou pára o trânsito?
Para minha maior surpresa, ainda há quem consiga afirmar que, após o encerramento ao trânsito de viaturas, nunca mais houve as filas intermináveis desde Chão de Meninos até à Estefânea e a caminho da Vila, para aceder ao centro histórico. Mas, pergunto eu, será possível que a tais pessoas escape a evidência daquilo que, actualmente, de acordo com a sazonalidade dos afluxos, está a acontecer?
Abramos o compasso da análise e consideremos o que sucede a quem, vindo de Chão de Meninos, do IC 16 – via Lourel ou Tribunal – ou de Colares, pretenda aceder à Vila, durante os grandes feriados ibéricos, na Semana Santa, no Verão, nos fins de semana em geral e nos dias úteis, em hora de ponta. Comecemos por acompanhar os condutores que descem a estrada até ao Largo Afonso de Albuquerque e deixemo-los aí aguardando pelo nosso regresso, porque, tal como nós, neste exercício de análise que leva algum tempo, também eles vão ser obrigado a esperar.
Entretanto, vamos até à Portela onde, junto ao
jardim, começou a acumular-se o trânsito, com o acréscimo do proveniente de Mem-Martins,
exactamente porque, mais adiante, a rotunda fronteira ao apeadeiro da Portela,
já está entupida de viaturas provenientes do IC16. Então, o que se passa? Neste
local, a fila que, não raro, se inicia a meio da Av. General Firmino Miguel,
vai subir a Av. Desidério Cambournac, descer até à rotunda da fonte
cibernética, voltar a engrossar com o fluxo proveniente das estradas do Lourel
e de Colares, chegando a deter-se na Rua Câmara Pestana, junto ao Centro
Cultural Olga Cadaval.
A partir
deste local, continua-se num pára e arranca, em fila que acrescenta os veículos
provenientes da Rua António Medina Júnior, se prolonga pela Correnteza, mais
engrossa no cruzamento com os provenientes de Chão de Meninos. Lembram-se de,
há um par de parágrafos atrás, termos deixado uns desgraçados à espera? Pois é
aqui que voltamos a encontrá-los, engrossando a fila que prossegue pela Alfredo
da Costa, etc, etc.
Stresse institucionalizado
Até este
ponto da Estefânea, já considerámos o que é habitual e comum, tanto nos dias de
lazer como nos de trabalho. Daqui em diante, pensemos apenas nos forasteiros,
turistas e nos condutores da volta dos tristes. Coitados!... Trânsito
totalmente entupido no acesso à Vila, parado, paradíssimo, não conseguindo
avançar na confluência da Visconde de Monserrate – onde quem provém de São
Pedro e Santa Maria já desesperou - e, um pouco adiante do Lawrence's, incapaz
de prosseguir à esquerda, quer para aceder à Pena, quer para continuar para São
Pedro e Chão de Meninos, com os condutores e acompanhantes, nacionais e
estrangeiros, suportando aquilo que não podem nem devem numa latitude
civilizada.
Diariamente?
Quanto desconforto, quanta irritação, dinheiro e tempo perdido, quanta poluição
acrescentada, quanta dificuldade para quem, proveniente de Cascais ou de
Lisboa, pretenda chegar, por exemplo, ao Centro Cultural Olga Cadaval, à igreja
de São Miguel, aceder a Monte Santos, ou à Escola D. Carlos I e Bombeiros,
obrigado a atravessar este labirinto insano?! É tão enovelado o circuito que,
aliás, se torna impossível verbalizá-lo em tempo útil, quando alguém precisa…
Em
conclusão, as filas continuam, e de que maneira! E, já agora, ainda no contexto
da aludida análise sistémica afim do diagnóstico da situação, não é difícil
adiantar que uma das soluções a concretizar, em articulação com a
requalificação das pequenas bolsas de parqueamento e da unidade pesada, prevista para o estacionamento de centenas e
centenas de veículos, adjacente ao edifício
do Departamento do Urbanismo, passará pela cada vez mais inadiável
instalação dos parques periféricos.
De acordo
com aquilo que, durante tantos anos, tenho tido oportunidade de ventilar, urge
implantá-los estrategicamente, junto às três entradas da sede do concelho, em
Chão de Meninos, na Ribeira e no Lourel, dispositivos estes em íntima relação
com os transportes públicos – que, no caso dos dois primeiros referidos,
incluiriam funiculares com linhas complementares para acesso à Pena e regresso -
dali saindo a caminho dos diversos destinos, transportes de tarifa integrada na
verba a cobrar no momento do estacionamento. Sei que se trata de soluções já
equacionadas cuja concretização, muito naturalmente, depende da disponibilidade
financeira.
Lamento profundamente que, ao tempo em que tal disponibilidade se oferecia, os decisores políticos não tivessem estado à altura. Despenderam noutros domínios, porventura não tão estruturantes, as verbas que deveriam ter afectado a um projecto de contornos análogos, tão indutor de uma evidente melhoria da qualidade de vida dos residentes, facilitador dos acessos de visitantes e suscitando as consequentes mais-valias noutros contextos da actividade económica e cultural local. Agora, em tempo de vacas magras, bem pode opinar quem não soube dar resposta aos desafios do tempo.
Lamento profundamente que, ao tempo em que tal disponibilidade se oferecia, os decisores políticos não tivessem estado à altura. Despenderam noutros domínios, porventura não tão estruturantes, as verbas que deveriam ter afectado a um projecto de contornos análogos, tão indutor de uma evidente melhoria da qualidade de vida dos residentes, facilitador dos acessos de visitantes e suscitando as consequentes mais-valias noutros contextos da actividade económica e cultural local. Agora, em tempo de vacas magras, bem pode opinar quem não soube dar resposta aos desafios do tempo.
Há alternativas? Claro que há. E
sempre a favor dos peões. Basta conceber um projecto com todos os implícitos
pressupostos, no qual, desejavelmente, todos possamos participar e intervir, nos
termos do qual nos revejamos, como munícipes sintrenses e fregueses de Santa
Maria e São Miguel, de São Pedro e de São Martinho.
A
exemplo do que aconteceu na Primavera de 2004, parece impor-se a necessidade de
a designada sociedade civil promover
umas novas Jornadas de reflexão sobre problemas da Estefânea em que, para além
do cidadão comum, se possa ouvir a opinião de urbanistas, arquitectos,
sociólogos e outros peritos. Saibamos adquirir as mais correctas noções de
equacionamento das alternativas, sempre na perspectiva de que a Heliodoro
salgado faz parte de um puzzle compósito e complexo, nunca como caso isolado.
Certamente
que, também por essa via, tanto os cidadãos como os próprios decisores
políticos locais, ficarão mais bem preparados para contestar soluções propostas
por qualquer pluridisciplinar e presumida equipa técnica que, ao conceber uma
estratégia de remediação para a situação da Heliodoro Salgado e do labirinto
subsequente, volte a invocar, como patrona, a Nossa Senhora da Asneira de Sintra...
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