Émilie, em Lisboa
[Texto publicado no facebook em 18 de Janeiro de 2013]
Ontem, na Gulbenkian assisti à primeira récita de Émilie, monodrama lírico de Kaija Saariaho, que já conhecia parcialmente através de excertos da gravação disponível da Opéra de Lyon.
A música de Kaija Saariaho tem um brilho especialíssimo, muito interpelante, suscitando constantemente a atenção do ouvinte-espectador. Barbara Hannigan está em boa forma, a orquestra sob a direcção de Martinez Izquierdo esteve à altura.
A proposta cénica é que, na concepção de Vasco Araújo e André Teodósio, me pareceu fraquinha, pouco ou nada acrescentando ao substrato musical, nada descodificando ou explicitando, com pobres intervenções de elementos da Companhia Nacional de Bailado.
A não ser, na minha perspectiva, esta componente menos positiva da Émilie de Lisboa, não vislumbro qualquer problema de comparação com o exemplo que ontem apresentei, na referida produção, com Karita Mattila na protagonista, na Opéra National de Lyon.
A propósito
Não poderei deixar de referir que a personagem real, Émilie du Châtelet, na qual se inspirou Amin Maalouf para o libretto, é, verdadeiramente, alguém a redescobrir. Faz-me lembrar imenso outra extraordinária mulher do século XVIII que, curiosamente, também foi amiga de Voltaire (só mesmo amiga, e correspondente em abundante epistolografia), a Princesa Friederike Sofia Wilhelmine da Prússia, irmã mais velha de Frederico o Grande, escritora, compositora, interessada em arquitectura, pintura, construção de jardins, artes decorativas, etc.
As minhas idas a Bayreuth têm contribuído, cada vez mais, para acrescentar fascínio maior por esta princesa, tão independente, culta e erudita que, pelo casamento, se tornou também Margrevina de Brandenburg-Bayreuth, personagem e personalidade absolutamente fascinante por quem me tenho perdido em leituras e outras demandas.
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