[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013



[Outra atitude de comemoração do aniversário de Dona Olga Marquesa de Cadaval. Transcrição do artigo publicado na edição de hoje, 18 de Janeiro de 2013, do Jornal de Sintra, aqui ilustrada com aproposta de audição de uma obra de Benjamin Britten dedicada a quem estamos a homenagear durante esta semana em Sintra]

Dona Olga, Marquesa de Cadaval,
mais um aniversário



Dona Olga Maria Nicolis di Robilant Álvares Pereira de Melo (Cadaval), nasceu em Torino, aos 17 de Janeiro de 1900 e morreu em Lisboa, no dia 21 de Dezembro de 1996. Foi exemplar figura de grande senhora da Cultura Europeia, protectora da Música e de muitos músicos, através de meritória actividade mecenática que beneficiou Portugal, seu país de adopção.

É uma figura absolutamente fascinante que, em diferentes oportunidades, me tem levado a dedicar-lhe trabalho de imenso prazer. Tal é o caso da concepção de um documentário sobre a sua riquíssima biografia, projecto de equipa em que me incluo, ao lado de bons amigos, como Mário João Machado, ex Presidente do Conselho de Administração da SintraQuorum (Centro Cultural Olga Cadaval), João Pereira Bastos, ex director do Teatro São Carlos e da RDP Antena Dois, João Santa Clara, realizador de cinema e Vitor Beja, produtor.

O filme que faltava

Os cenários são os mais diversos, desde Sintra e a Quinta da Piedade, à herdade de Muge com as suas actividades agrícola e pecuária, e, como não podia deixar de ser, Veneza com o palácio no Grande Canal, casa da sua família materna, dos célebres Mocenigo, família que deu sete doges à cidade, palácio onde, em 1624, na sequência de encomenda de Girolano Mocenigo a Claudio Monteverdi, «só» foi estreada "Il Combattimento di Tancredi e Clorinda", importantíssimo marco da História da Música europeia.

Temos horas e horas de excepcional material recolhido em entrevistas, quer com alguns dos beneficiários directos do seu mecenato, tais como Daniel Barenboim, Nelson Freire, Olga Prats, Stephan Bishop-Kovacevitch, quer com seus amigos como Nella Maisa, os Engºs João Paes Freitas Branco ou Luís Santos Ferro, Maria Germana Tânger, Maria Barroso Soares ou Jorge Sampaio, com os Presidentes da Câmara Municipal de Sintra Edite Estrela e Fernando Seara, bem como com os seus netos, condes de Schönborn- Wiesentheid, e muitas mais pessoas.

Como não recordar, dentre a galeria dos amigos, os mais destacados dos mundos cultural, político, religioso, seus íntimos, desde Marinetti, Gabriele d'Annnunzio, Graham Greene, Saul Bellow, C. Chanel, Maeterlinck, Louise de Vilmorin, Francisco José - a quem a Marquesa se referia como «Il Kaiserone – Pio XII, Frau Cosima (filha de Liszt e viúva de Wagner) a Princesa de Polignac, Kenneth Clark, Marconi, a Duse, René Huyghe, para mencionar, desordenadamente, apenas alguns dos estrangeiros e não músicos?... Enfim, muitas, muitas histórias a contar acerca da vida desta senhora.

Prevê-se que, já no próximo Verão, no âmbito da 48ª edição do Festival de Sintra, este documentário seja publicamente apresentado. Trata-se de um filme cujos direitos de reprodução já foram assegurados pelo segundo canal da RTP, documento aquele que, estou em crer, poderá contribuir decisivamente para uma divulgação mais sistemática, tanto a nível nacional como internacional desta grande senhora da cultura europeia do século vinte.

Reparem que Dona Olga, senhora da mais alta linhagem da aristocracia europeia – que, além dos referidos doges venezianos, também conta com directos ascendentes em Frederico II da Prússia ou Catarina II da Rússia – se estabeleceu em Portugal, no princípio dos anos trinta, após o casamento com Dom António Caetano Álvares Pereira de Melo, Marquês de Cadaval, tornando-se notável o modo como se soube colocar à disposição de todos com quem se cruzou.

Muito especialmente, exerceu o mais desinteressado dos mecenatos, a favor de uma plêiade de jovens músicos, cujo extremo talento ela soube reconhecer e que se tornaram nos galácticos nomes que, hoje em dia, brilham ao mais alto nível nas salas de concerto, como os já mencionados Nelson Freire, Martha Argerich ou Daniel Barenboim. Passou a vida a dizer ao mundo como eram excelentes os jovens artistas que patrocinava e como, ao fim e ao cabo, todos se deviam render aos seus excepcionais dotes. Em troca, como afirmava, recebeu muito mais, ou seja, a Arte que serviam com o seu génio de extraordinários intérpretes.

Comemorações 2013

Durante esta semana, Sintra comemora o aniversário do nascimento de quem é a patrona do seu Centro Cultural. A meio da manhã do dia 17, alunos do segundo ciclo do Ensino Básico da vizinha Escola D. Fernando II, irão prestar-lhe homenagem, depositando flores junto ao seu busto, no átrio do referido edifício. Escrevo estas palavras na véspera deste evento que, na sua singeleza, se adivinha cheio de significado.

No dia seguinte, pelas dez da noite, o habitual concerto, também no mesmo Centro Cultural, desta vez, com a Orquestra de Câmara Cascais Oeiras, cuja ligação à Casa Cadaval é conhecida por ter sido na Quinta da Piedade, que foram dados os primeiros passos do agrupamento. Aliás, Dona Teresa, Condessa de Schönborn-Wiesentheid, neta da Senhora Marquesa, é membro fundador da Associação que, actualmente, dirige a instituição.

Do programa do concerto, sob a direcção do Maestro NiKolay Lalov, constam obras de Ottorino Respighi, Claude Debussy, José Viana de Motta e Benjamin Britten, compositores com evidentes traços de união à homenageada. Também na RDP, Antena Dois, tanto Paulo Alves Guerra, no «Império dos Sentidos», como André Cunha Leal, nas suas intervenções destes dias, incluindo a ocasião da transmissão do MET, em conversa com Ana Paula Russo, farão as referências que consideram mais pertinentes à memória de Dona Olga, Marquesa de Cadaval.

Sem grande hipótese de induzir em erro seja quem for, julgo estar em posição de poder afirmar que 2013 será um ano muito auspicioso para a preservação da sua memória, já que uma outra circunstância concorre para que assim seja. Como já sabem, entre outras grandes efemérides, vai comemorar-se o centenário do nascimento de Benjamin Britten. Ora bem, em Portugal e em Sintra, este evento virá sublinhar a articulação com a Senhora Marquesa Olga de Cadaval, precisamente por ter sido ela a dedicatária da Cantata “Curlew River”, datada de 1964, tendo ficado indissociavelmente ligada à história de mais uma peça importante na História da Música contemporânea.

Como sonhar ainda é possível, termino estas palavras de um texto que, naturalmente, faz parte da minha singela homenagem que se reparte por estes dias, alimentando a esperança de que, lá mais para o fim do ano – 22 de Novembro é a data do aniversário do grande compositor inglês - possamos ter a dita de assistir a uma récita de apresentação da referida obra.

[João cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]

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>O artigo supra está ilustrado com um retrato da Senhora Marquesa cuja reprodução, neste momento, não me é possível. De qualquer modo, no Google, encontrarão uma boa galeria de fotos.
>Neste suporte do facebook, como posso propor a partilha de música, julgo vir a propósito recomendar-vos, mais uma vez, o excerto da Cantata “Curlew River” que já tive oportunidade de indicar aquando do último aniversário de Benjamin Britten, portanto, em 22 de Novembro de 2012.

Trata-se de uma aclamadíssima produção de Graham Vick – lembram-se do encenador do último “Ring” de Wagner em São Carlos? – que foi à cena, em 2004, por ocasião dos BBC Proms, no Royal Albert Hall em Londres. Se quiserem refrescar as notas de enquadramento desta peça tão especial no quadro de toda a obra do compositor, mais não têm do que consultar o arquivo.

Boa audição!

http://www.youtube.com/watch?v=JDPsoJZBPpw&feature=share&list=PLA393D79883D4C185

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