[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 30 de março de 2013



Amadora-Sintra,
um caso sério

[publicado no facebook em 28.03.2013]


Na sequência da fatal escorregadela do passado sábado, acidente em consequência do qual parti o perónio da perna esquerda, tendo estado uns dias no Hospital de Portimão, quase a ser transferido para Cascais mas, finalmente, no Amadora-Sintra, eis que considero dever partilhar convosco aquilo que vai sucedendo, já que manifestaram tantas provas de apoio e interesse pelo meu estado, provas às quais não tenho podido corresponder devidamente.

Julgo ser com alguma propriedade que poderei escrever as impressões que se seguem acerca do Hospital Amadora-Sintra onde, actualmente, mais uma vez, estou internado. Desde a sua inauguração e até hoje, é aqui que, tanto eu como todos familiares mais próximos, adultos e crianças, temos acorrido quando algum problema de saúde impõe consultas de urgência, intervenções cirúrgicas, tratamentos mais ou menos prolongados. Ao longo destes anos, portanto, contam-se por muitas dezenas os episódios em que, invariavelmente, contámos com uma assistência de surpreendente qualidade.

Que não vos surpreenda o adjectivo ‘surpreendente’. Justifica-se o seu emprego na medida em que, geralmente, a fama de que disfruta o Hospital Fernando da Fonseca não coincide com esta opinião. E, se tal acontece, é porque, provavelmente, fruto do sobredimensionamento com que está confrontado em relação à proposta inicial de cobertura populacional, muitos utentes terão razões de queixa com tempos de espera que, em várias circunstâncias, consideram exagerados. Daí que, num país onde ainda grassa tanta iliteracia que tolda a capacidade de avaliação, é um pequeno passo até concluírem que tudo é menos positivo ou negativo. Enfim, todos sabemos o que a casa gasta…

De qualquer modo, o que a experiência me diz é que, no nosso caso, nunca a espera foi demasiada, em especial, perante emergências ou urgências flagrantes. Há muitos anos que deixei de ter seguro de saúde, privilegio o serviço público de saúde, lutarei pela inequívoca manutenção do Serviço Nacional de Saúde que o meu amigo António Arnault, em tão boa hora concebeu e apadrinhou, e é nesse contexto que, mais uma vez aqui estou.

Contrariedade

E, meu Deus, desta vez, aparentemente, até teria razões de queixa. Para ontem esteve marcada a minha operação. Passei o dia em jejum total e, pelas seis da tarde, levaram-me até à entrada do bloco operatório onde, naquela expectativa que conhecem todos os meus amigos que já passaram pela situação, permaneci duas horas e um quarto, altura em que um médico e uma enfermeira apareceram a comunicar que a intervenção não se concretizaria… Não é tudo. No período que atravessamos, avizinhando-se o feriado de Sexta Feira Santa e o fim de semana, se calhar só serei operado na próxima segunda-feira…

Certamente, imaginam a frustração. O que não imaginam é o cuidado com que a notícia me foi dada, como estavam penalizados aqueles dois profissionais, exaustos, incapazes de darem mais do que já tinham feito ao longo de tantas horas. Percebo perfeitamente que, em tais circunstâncias, quando se pode começar a pisar o tereno em que, depreendo eu, a própria segurança do doente e a qualidade da intervenção podem ser postas em causa, o melhor é mesmo o que me aconteceu.

Como também me disseram que haveria um remotíssima hipótese de resolver o meu caso ainda antes da Páscoa, vou permanecer nesta situação, aguardando que o melhor acabe por acontecer. Igualmente, na altura do adiamento, me disse o médico que o atraso da operação nada prejudica o sucesso da intervenção nem a posterior recuperação. Como não estou em posição de contrariar a opinião, confio. Exactamente, como sempre tenho confiado nesta boa gente do Hospital Amadora-Sintra.
 
 

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