Casino de Sintra,
Espólio de Bartolomeu Cid dos Santos [publicado no Jornal de Sintra em 09.03.2013]
A notícia não poderia ser mais auspiciosa e de
maior impacto cultural, não só no que a Sintra respeita mas também, como não é
difícil verificar, a outros níveis mais abrangentes já que Bartolomeu Cid dos
Santos – Barto, como era conhecido nos meios artísticos – é um nome do mais
alto destaque nas artes plásticas contemporâneas.
O grande acontecimento data da passada
segunda-feira, dia 4, quando, por unanimidade, a Câmara Municipal de Sintra
deliberou submeter à aprovação da Assembleia Municipal o protocolo de cedência da
Colecção que Maria Fernanda Oliveira
Paixão dos Santos, viúva do artista, decidiu ceder ao Município de Sintra desde
que, por este, sejam asseguradas as condições estabelecidas pelo protocolo
celebrado entre as partes, com o objectivo da sua conservação e guarda, exposição
e divulgação bem como e fácil acesso à mesma por parte de estudiosos e
artistas.
Antes de circunstanciar alguns detalhes do
referido Protocolo, gostaria de assinalar que, para a decisão de cedência desta
colecção de Arte, contribuiu a especial vinculação a Sintra de Bartolomeu Cid
dos Santos e de sua mulher, Maria Fernanda, lugar onde mantinham residência em
Portugal. Como seu amigo e indefectível admirador da obra, fui testemunha da
relação de perfeito deslumbramento de Bartolomeu por Sintra que, em simultâneo,
também o levava a um empenhado interesse e preocupação pela preservação do
património desta terra, em todas as vertentes.
Com a sua morte, sentidíssima por todos quantos
tiveram o grande privilégio da amizade e companhia tão especiais, ficou-nos um vazio
tão difícil de preencher que, de algum modo, esta notícia vem compensar, em
especial, no alento que a todos determina no saber honrar quem nos cumulou com
este fabuloso presente e quem tanto empenho revelou no sentido de que Sintra
estivesse à altura da distinção.
Posso testemunhar que os grandes artífices
desta autêntica façanha cultural foram o próprio Presidente da Câmara, Prof.
Fernando Seara e o Vereador Dr. Pedro Ventura. Ao longo de muitos meses, envolveram-se nas difíceis e sofisticadas negociações
que, agora, culminaram num sucesso que tanto tem de fulgurante como
determinante para o enriquecimento dos acervos artísticos de Sintra. De facto,
há que considerar tratar-se, sem qualquer margem de dúvida, de um dos maiores
acontecimentos culturais dos últimos anos nesta terra.
Porque assim é, passemos ao detalhe que, desde
já, é possível partilhar. Em primeiro lugar, referirei que o espólio de
Bartolomeu Cid dos Santos é um conjunto do maior interesse artístico cujo valor
material, avaliado em cerca de quatro milhões e meio de Euros, é composto por
cerca de 3.600 obras, entre gravuras, desenhos, aguarelas e guaches, incluindo
uma componente fotográfica de inestimáveis atractivos, além de obras de grandes
artistas amigos deste que foi um dos maiores gravadores, mesmo a nível mundial.Maria Fernanda Paixão dos Santos, cuja atitude nunca será demais enaltecer, cede a Colecção ao Município de Sintra, durante oito anos, renováveis por períodos sucessivos de quatro anos, se nada obstar à continuação da vigência do Protocolo. Naturalmente, terá havido o maior cuidado no sentido de que, de parte a parte, tivessem ficado devidamente definidas mútuas obrigações. E, no que respeita ao Município, elas não são poucas e, de facto, muito expressivas.
Sintra obriga-se à conservação e à guarda, em
condições adequadas, das obras que integrem ou venham a integrar a Colecção, a
qual será disponibilizada num espaço com todas as indispensáveis condições e
características de exposição ao público. Por outro lado, tal espaço ainda
disporá de um arquivo que, concebido pelo próprio Bartolomeu, se designará Centro de Gravura e Desenho Bartolomeu dos
Santos, onde as obras estarão gratuita e permanentemente acessíveis a
estudiosos e artistas, nos termos de um adequado Regulamento Interno.
Muito importante para a concretização do
acolhimento de espólio tão significativo, cuja notícia deverá suscitar as mais
vivas, encomiásticas e entusiásticas reacções dos meios culturais, será o Conselho de Tutela da Colecção. É uma
entidade cujo perfil e objectivos se justificam totalmente, incumbindo-lhe a
escolha do Curador e zelar e acompanhar o cumprimento das condições e encargos
que enquadram a Colecção de modo a não comprometer os seus objectivos.
Ainda mais um motivo de regozijo. Nos termos
do Protocolo celebrado, o espólio será instalado no Casino de Sintra onde,
brevemente, passará a ocupar a quase totalidade das instalações, apenas
restando o espaço bastante para assegurar a montagem de exposições temporárias
de reduzida escala. Na realidade, melhor não poderia ser a solução na medida em
que, além de outros factores extraordinariamente propícios, também assim se
capitaliza a experiência e a referência a um passado recente do Casino que, nos
últimos anos, tem estado exclusivamente afecto à Arte Contemporânea.
Se tivermos em consideração que tanto o
edifício do Centro Cultural Olga Cadaval como o do Casino de Sintra constituem
um conjunto de espaços contíguos e articulados, ambos traçados pelo Arq. Norte
Júnior – dispositivo cultural ímpar na área metropolitana de Lisboa – não
podemos deixar de prever o benefício mútuo e comum e as imensas vantagens para
o público que, assim, também poderá aceder à Colecção em horários que coincidam
com os espectáculos no CCOC. Não esqueçamos que, para todos os efeitos, é a
empresa municipal SintraQuorum a mesma e única entidade à qual compete a gestão
deste conjunto, circunstância que tudo facilita.
Com este tão significativo benefício, Sintra
adquire e vai passar a disponibilizar o fruto desta mais-valia de incontornável
referência da Arte Contemporânea. É altura de nos prepararmos para festejar
condignamente tão grande júbilo. Estamos todos de parabéns e, muito
naturalmente, de parabéns também estão Maria Fernanda dos Santos, por este
testemunho de tão grande apreço por Sintra, bem como o Presidente Fernando
Seara e o Vereador Pedro Ventura que, discretamente, acabam de prestar serviço
tão especial à comunidade.
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