[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 5 de abril de 2013



Depois do black out, um canto à Vida

[texto publicado no facebook em 03.04.2013]


Ora bem, caros amigos, como sabem, no passado domingo, véspera da operação a que seria submetido no dia seguinte, tive de suspender a regular e habitual publicação de textos já que as circunstâncias não eram favoráveis à manutenção do nosso contacto habitual de há uns anos a esta parte.

Enfim, hoje, já capaz de retomar esta linha aberta de partilha de interesses, primeiramente, gostaria de agradecer, muito, mesmo muito sensibilizado, o interesse que têm manifestado pelo meu estado, na sequência da queda que me vitimou.

Felizmente, a operação, na segunda-feira passada, correu muito bem, pelo que, ainda não tinham passado vinte e quatro horas e logo me informava a médica de que, em presença dos favoráveis factores, me ia dar alta.

Regressei ontem a casa. Na realidade, tenho tido algumas dores mas, creio eu, nada de anormal num caso como este. Estou medicado para todas as eventualidades e, a partir deste momento, vou permanecer com a tala engessada durante quatro a seis semanas, período durante o qual farei pensos e me submeterei a consultas, radiografias, etc.

Tenho sido tratado estupendamente. Não fiz quaisquer pedidos, absolutamente nada. A atenção que me têm dispensado é exactamente igual à que tinham os meus companheiros de enfermaria, ou seja, impecável. Tudo isto mais me determina a continuar a lutar pela manutenção do Serviço Nacional de Saúde, tal como ainda o temos.

Finalmente, a música. Porque, muito dificilmente, haverá qualquer situação na nossa vida de simples mortais que não possa articular-se com algum momento da História da Música, lembrei-me do terceiro andamento do Quarteto de Cordas em Lá menor, o mais fabuloso e brilhante, Op. 132 de Beethoven.

O compositor intitulou-o como “Heiliger Dankgesang eines Genesenen an die Gottheit, in der lydischen Tonart” o que, numa traduçao aproximada, poderei propor como “Canto de Acção de Graças de um Convalescente à Divindade, no modo Lídio”.

Trata-se de uma oferta musical biográfica, uma oração de agradecimento depois de um episódio de doença, através da qual expressa ele a alegria e a gratidão pelo dom da vida. A referência de Beethoven ao modo Lídio tem a ver com o seu pendor à música religiosa antiga.

Este terceiro andamento é considerado um dos máximos expoentes de toda a Música, algo de sublime, que perspectiva uma dimensão outra da Arte, em que o próprio sublime se sublima. Espero não se escandalizem por ter pedido emprestados estes momentos musicais tão especialmente superiores, relacionando-os com a trivialidade de uma perna partida.

Mas, já agora, sempre vos direi que bem posso dar graças a Deus por ainda estar por aqui, porquanto, ao caír daquela maneira desastrada, foi por milímetros que não bati com a cabeça num obstáculo lá presente, com risco da própria vida.

Vamos à música de Beethoven! Boa audição!

http://youtu.be/FXiOrAwLlOA

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