[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 5 de abril de 2013

 
Gulbenkian,
a propósito do concerto desta noite
 
[publicado no facebook em 04.04.2013]

Hoje à noite, mais um concerto na Gulbenkian a que não assistirei em consequência da perna partida. Tenho muita pena porque a Orquestra da casa vai ser dirigida pelo Maestro David Zinmann, um maestro por quem tenho o maior respeito, não só devido ao seu exemplar trabalho à frente da Tonhalle-Orchester de Zürich, mas também porque, trabalhando com outras orquestras, sempre me proporcionou a confortável certeza de um cuidadoso trabalho de bastidores, afinal o que mais interessa a qualquer apreciador.

Duas grandes obras em programa, o Concerto para Violino, em Ré Maior, Op. 61 de Ludwig van Beethoven e a Sinfonia No. 4, em Mi menor op. 98 de Johannes Brahms. Circunscrever-me-ei à primeira das mencionadas que, como verificarão, já oferece pano para mangas. E a maior parte do ‘tecido’ é fornecida pelo solista, Michael Barenboim. Se querem que vos confesse, apesar dos ‘genes musicais’, o piqueno nunca me impressionou…

Da sua craveira, sei lá, haverá cento e muitos, que, tal como os melhores violinistas seus colegas, até tocam nos melhores auditórios sem que, jamais, venham a atingir o gabarito dos maiores. Tocam correctamente, dão o que os maestros pedem mas, eles próprios, não conseguem apresentar uma leitura personalizada das peças que lhes passam pelas unhas. Até podem tocar num Klotz ou mesmo em Stradivarius ou Guarnerius que, infelizmente, não chegam «lá»…

Como acima referia, genes musicais tem ele. É filho do segundo casamento de Daniel Barenboim com a pianista Elena Bashkirova e neto de Dimitri Bashkirov, conhecido pedagogo e também pianista. Como sabem, Daniel era casado com Jacqueline Du Pré, que foi vitimada por esclerose múltipla. Ainda a violoncelista era viva e o marido já mantinha uma relação com a Bashkirova que, por sua vez, estava em ruptura com o marido, o violinista Gidon Kremer…

Fecho o parêntesis para voltar ao concerto da noite. Esperemos que Michael siga o que Zinmann pretende. Com tal atitude, estou certo, cumprirá e não fará qualquer estrago. Esta obra de Beethoven propicia o ensejo de vos propor uma dupla audição. Em primeiro lugar [primeiro clique], a do primeiro andamento ‘Allegro ma non troppo’ com Seiji Ozawa dirigindo a Sinfónica de Boston e Anne-Sophie Mutter como solista. E, seguidamente, a versão para piano deste mesmo concerto, num arranjo do próprio Beethoven.

Nesta segunda hipótese [segundo clique], poderão ouvir o concerto completo, com Daniel Barenboim a dirigir a English Chamber Orchestra a partir do piano. Sugiro que, além do disfrute da peça, aproveitem para, tal como tenho feito, brincar um pouco com os vossos amigos. Perguntem-lhes que concerto é este de Beethoven. Como, invariavelmente, só têm em consideração os cinco ‘da ordem’, poderão vê-los a ‘patinar’ em alternativas inesperadas…

Boa audição!
 

Sem comentários: