[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 17 de maio de 2013



D. manuel Clemente,
Patriarca de Lisboa

Eis o segmento final do notável discurso que D. Manuel Clemente proferiu aquando da atribuição do Prémio Pessoa, evidenciando o homem de Cultura que é, capaz de radicar um optimismo militante, no conhecimento da realidade de um terreno que lhe é familiar em todas as vertentes:
 
"(...) O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários. Mas existe e por ele mesmo continuamos nós a existir. Apesar de tudo, mas não apesar de nós. Em muitas escolas, estatais ou particulares, em muitos estabelecimentos de saúde, serviços públicos e instituições particulares de solidariedade social, deparamos com abnegações quotidianas e boas vontades que não esmorecem, antes parecem recrudescer no meio das dificuldades. Em muitos jovens licenciados há uma vontade de vencer e convencer, que consegue ultrapassar positivamente a escassez das ofertas de trabalho, criando para si para outros novas oportunidades, por vezes em domínios imprevistos ou pouco explorados. Assim como há empresários e gestores com verdadeiro sentido de missão, que revelam surpreendente capacidade de inovar e conquistar mercados, a par de reais preocupações com a manutenção e a criação dos postos de trabalho dos seus colaboradores.

Estas realidades, verdadeiramente tais, entre os fantasmas da excepcionalidade ou das massas, dão afinal pelo simples nome deste Prémio: referem-se à “pessoa”, a cada pessoa que nós somos, sempre com os outros e por vezes magnificamente. Significando isto cada um de nós, não abstractamente considerado, mas no concreto da sua vida e das suas relações, interpenetradas com as dos outros e com o respectivo meio.

Concluo com a inteira confiança nas pessoas que somos, os portugueses. E com a certeza firme de que, sendo verdadeiro objectivo do Estado e de todos os responsáveis sociais salvaguardar e promover a dignidade da pessoa humana, aumentaremos para isso as possibilidades materiais, culturais e espirituais existentes, que, no conjunto, constituem o nosso bem comum, na subsidiariedade e na solidariedade.

Assim acontecendo, a “história do futuro”, como António Vieira a entreviu, ultrapassará os seus melhores vaticínios. Sem imperialismos serôdios nem injustificáveis desistências, seremos um Portugal à altura de si mesmo, na grande largueza do mundo
.”
 
 

 

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