[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 25 de maio de 2013



Gulbenkian,
uma nota absolutamente «vital»...


Ontem, durante o primeiro dos dois intervalos da récita de Falstaff, depois de ter estado com o meu amigo José Ferreira, o grande mestre das operações da Gulbenkian, que toda a gente conhece dos dias de concerto - desdobrando-se em atitudes discretas que fazem toda a diferença, em prol da qualidade do bem estar naquela casa de privilégio - fui até a
o jardim.

Como me desloco muito lenta e cautelosamente, saí a porta e voltei imediatamente à direita, na direcção do Museu. Ouvi um som que logo me encantou e, ainda que muito sumido, identifiquei em alvoroço. De facto, não me enganara. Meia dúzia de patinhos recém nascidos, dando que dando freneticamente com suas patinhas, evoluiam atrás de casais adultos, não percebendo eu, certamente por falta de discernimento, quem pertencia a quem...

Que bem tinha eu decidid! A exemplo do que costumo fazer sempre que posso, como detesto os intervalos, ontem, com um lindíssimo fim de tarde, também me escapei. Não hesitei diante do convite da luz das oito horas, muito coada. Que calma e beleza, no canto da urbe, que o bom gosto e saber de Gonçalo Ribeiro Telles ali nos comula.

Lá dentro, Falstaff, em versão concertante, não estava a honrar a grandeza dos autores, desde Shakespeare a Verdi e Boito. Mas, cá fora, a poucos metros do grande auditório, outra música era meu privilégio. Ninguém, absolutamente ninguém gozando cena de vida tão comovente e excitante.

Pouco depois, já dentro da sala, ao sentar-me, uma amiga veio saudar-me. Contei-lhe da cena dos patinhos. Perguntou-me se não tinha feito uma foto. Acreditem que me apeteceu bater-lhe com uma das minhas canadianas que ainda estava mesmo a jeito. Passou-me lá pela cabeça, perante encanto que tal, pegar no telemóvel para registar!...

Retive e retenho aquele momento «vital», de vida palpitante, de promessa, de música. Com estes gadgets da treta à mão, as pessoas só pensam em utilizar a própria poesia para fins mais ou menos mercantis, mesmo que não passem de tráfico para consumo pessoal. Que lástima!!...
 
 

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