Kierkgard,
divulgação musical...
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É, de facto, um dos pensadores que, há mais tempo, me desafia. Depois de, no fim da adolescência, ter sido desperto para o fascínio de Kierkgard, por José da Felicidade Alves, o prior de Santa Maria de Belém, minha freguesia de origem, e João Resina Rodrigues, um dos seus coadjutores, que mais contribuiu para a minha formação, foi já na Facudade de Letras, em 1965, que o Prof. Padre Manuel Antunes, o grande mestre filólogo, filósofo e saudoso jesuíta, fez o resto do trabalho.
“Em geral, compreendem-me tão mal que nem sequer entendem quando me queixo de ser tão incompreendido”. São palavras do próprio Kierkgard que Manuel Antunes gostava de citar para demonstrar a incompreensão de que era alvo o filósofo. E, se me lembro, de discussões agitadíssimas acerca da contribuição do pensamento de SK para a concepção de obras-primas de realizadores nórdicos, como Ingmar Bergman em ‘O Sétimo selo’ ou em ‘Ordet’ de Carl Dreyer.
A circunstância de interesses familiares na Dinamarca onde o meu pai manteve negócios ao longo de décadas, também contribuiu para que lá me deslocasse muitas vezes. Em Copenhague, um dos melhores amigos da família, o armador e presidente de uma grande cooperativa agrícola, Niels Schmith, iniciou-me em alguns dos terrenos menos frequentados do pensamento de Kierkgard.
O que mais me conveio concluir através dos caminhos que me levaram até SK, foi a confirmação da possibilidade da «festa» do crente na vivência do Evangelho no quotidiano. Não sendo original, impõe-se-me como referência primordial, pela originalidade das vias que conduzem a tal conclusão, numa nórdica latitude que, ao contrário do que muitos latinos desconhecem, é extremamente propícia a percursos congéneres.
Finalmente, muito a propósito, uma notícia do 'The Independent' que, sem tradução, passo a transcrever. Curioso como o texto também refere as palavras que acima citei.
“It sounds like a Monty Python sketch, but a performance dubbed 'Soren Kierkegaard - The Musical' is being used to teach the Danish about one of their most famous, and most misunderstood, exports. Denmark is today celebrating the 200th anniversary of the birth of the philosopher with a range of events across the country.
Although proud of their philosophical giant many Danes struggle with the intricacies of his thought. Kierkegaard himself once noted that: "People understand me so little that they do not even understand when I complain of being misunderstood." One director has, however, grasped the philosophical nettle and brought one of Kierkegaard's most famous works 'Either/Or' to life in a stage version featuring strobe lights, rave music and child-size puppets.
The show, which is being performed in schools across Denmark, attempts to bring the 1843 work - which muses on existence and aesthetic and ethical questions about love - to life. The director Marie Moeller, 28, attempts to cut through the arcane thicket of thought by focusing on a meeting between Kierkegaard and his lover.
The show is not the only attempt to bring the philosopher to a wider audience. According to Associated Press a "Kierkegaard Comedy Show," by 46-year-old actor Claus Damgaard uses the philosopher's thoughts to discuss sex and modern romantic relationships with a mix of humor and lectures.
The show has toured Denmark and has been staged at a former chapel next to the cemetery where Kierkegaard and his contemporary, fairy-tale writer Hans Christian Andersen, are buried. “
“Em geral, compreendem-me tão mal que nem sequer entendem quando me queixo de ser tão incompreendido”. São palavras do próprio Kierkgard que Manuel Antunes gostava de citar para demonstrar a incompreensão de que era alvo o filósofo. E, se me lembro, de discussões agitadíssimas acerca da contribuição do pensamento de SK para a concepção de obras-primas de realizadores nórdicos, como Ingmar Bergman em ‘O Sétimo selo’ ou em ‘Ordet’ de Carl Dreyer.
A circunstância de interesses familiares na Dinamarca onde o meu pai manteve negócios ao longo de décadas, também contribuiu para que lá me deslocasse muitas vezes. Em Copenhague, um dos melhores amigos da família, o armador e presidente de uma grande cooperativa agrícola, Niels Schmith, iniciou-me em alguns dos terrenos menos frequentados do pensamento de Kierkgard.
O que mais me conveio concluir através dos caminhos que me levaram até SK, foi a confirmação da possibilidade da «festa» do crente na vivência do Evangelho no quotidiano. Não sendo original, impõe-se-me como referência primordial, pela originalidade das vias que conduzem a tal conclusão, numa nórdica latitude que, ao contrário do que muitos latinos desconhecem, é extremamente propícia a percursos congéneres.
Finalmente, muito a propósito, uma notícia do 'The Independent' que, sem tradução, passo a transcrever. Curioso como o texto também refere as palavras que acima citei.
“It sounds like a Monty Python sketch, but a performance dubbed 'Soren Kierkegaard - The Musical' is being used to teach the Danish about one of their most famous, and most misunderstood, exports. Denmark is today celebrating the 200th anniversary of the birth of the philosopher with a range of events across the country.
Although proud of their philosophical giant many Danes struggle with the intricacies of his thought. Kierkegaard himself once noted that: "People understand me so little that they do not even understand when I complain of being misunderstood." One director has, however, grasped the philosophical nettle and brought one of Kierkegaard's most famous works 'Either/Or' to life in a stage version featuring strobe lights, rave music and child-size puppets.
The show, which is being performed in schools across Denmark, attempts to bring the 1843 work - which muses on existence and aesthetic and ethical questions about love - to life. The director Marie Moeller, 28, attempts to cut through the arcane thicket of thought by focusing on a meeting between Kierkegaard and his lover.
The show is not the only attempt to bring the philosopher to a wider audience. According to Associated Press a "Kierkegaard Comedy Show," by 46-year-old actor Claus Damgaard uses the philosopher's thoughts to discuss sex and modern romantic relationships with a mix of humor and lectures.
The show has toured Denmark and has been staged at a former chapel next to the cemetery where Kierkegaard and his contemporary, fairy-tale writer Hans Christian Andersen, are buried. “
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A propósito do Padre Manuel Antunes, também gostaria de reproduzir o comentário que, acerca do texto inicial, escrevi no facebook:
"Os de germânicas apanhavam Manuel Antunes logo no primeiro ano, em Cultura Clássica. Que maravilha, o seu Latim restaurado... O magistério de MA, (...) , não acontecia apenas nas aulas. Também não me lembro de ele falar de Kierkegard nas aulas mas, isso sim, em conversas com a JUC, a que eu pertencia - nesse contexto conheci o Ruy Belo, uns bons anos mais velho - malta que se juntava à volta do jornal 'Encontro', em conversas com gente afecta a 'O Tempo e o Modo', em especial com o Alçada Baptista e João Bénard da Costa. Se quiser ter a paciência de ler os meus textos sobre o João Bénard da Costa no blogue sintradoavesso, lá encontrará referências a Manuel Antunes. Aproveito a oportunidade para lhe aconselhar, o mais vivamente possível, um texto de João Bénard da Costa sobre o Padre Manuel Antunes, onde ele cita Kierkegard e a sua 'Alternativa', texto esse subordinado ao título "A casa encantada. O Padre Manuel Antunes: o lugar do saber" que, na minha modesta opinião, é só o melhor «retrato» desse grande senhor da Cultura Portuguesa. Depois de ter tido o privilégio de ser seu aluno, bem posso dizê-lo, passei a ser outra pessoa, a minha cabeça passou a exigir uma outra 'arrumação' dos fenómenos culturais, incompreensíveis se não pressupuserem a semiogonia e semiologia, marcos essenciais da abordagem antuniana. (...) Para aceder ao texto que aconselhei, entre outras alternativas, poderá ir ao google, escrever o título que ele aparecerá no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura."
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