[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 9 de junho de 2013



Benemérito?


Página 12 do primeiro caderno, i.e., o corpo principal do semanário Expresso na sua edição de ontem. A sexta coluna, a toda a altura da página, sobre fundo verde seco, é subordinada ao título «Breves». A meio, a notícia Movimento exige referendo à Saúde, informa que “(…) O bispo benemérito de Setúbal D. Manuel Martins (…)” é uma das personalidades envolvida na iniciativa.

Bispo «
benemérito»? Valha-nos Deus! E, está claro, não houve alma caridosa que reparasse no disparate… O redactor, coitado, ficou-se pela terminação. Bem tinha ouvido ele qualquer coisa terminada em «érito», referente ao Senhor D. Manuel Martins, Bispo de Setúbal, algo que, afinal, foi muitíssimo divulgado porque também se aplica à situação do Papa Bento XVI depois da sua recente resignação.

Pois, «e-mé-ri-to». Embora possamos considerar outras acepções, fiquemo-nos apenas pela que mais convém ao enquadramento em apreço, referindo-se à condição de alguém que se aposentou e desfruta das honras e rendimentos do cargo que ocupava.

A santa ignorância e a pressa, por um lado e, por outro, a falta de correctores – referindo-me eu a pessoas, não aos programas informáticos porquanto não reconhecem erros que tais e, tão somente, os ortográficos – resultam nestes e quejandos disparates. Em geral, hoje em dia, os jovens estudantes saem das escolas de jornalismo, não como profissionais capazes de escrever textos escorreitos, mas alinhavando umas coisas com a falta de qualidade que, infelizmente, nos confronta a todo o momento.

Se há coisa que o designado ‘caderno de estilo’, jamais evitará é a ignoranciazinha do escrevinhador, escriba, ou lá o que quiserem designar quando estão a pensar na pessoa que trabalha na Redacção de determinado órgão de comunicação social. Tão habituados estávamos a fazer coincidir tal pessoa com a do jornalista que ainda nos custa admitir que, actualmente, assim não aconteça. Jornalistas? Claro que há alguns, mas apenas casos esporádicos

Perante resultados que tais, não sei se os jornais não perdem mais do que ganham por não contarem com a tranquilizadora presença do corrector, que se permitiram dispensar na presunção de que a poupança resulta em benefício. Por outro lado, porque tão frequentes são os pontapés na gramática, , não percebo como não se organizam acções de formação destinadas, precisamente, ao despiste, análise e correcção das faltas mais frequentes.

Que bom seria se, no meio da proverbial cultura de desleixo em que vivemos, aparecesse algum «benemérito» a patrocinar as estratégias de remediação que se impõem…
 
 

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