[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 19 de junho de 2013



PPP,
exercício de lucidez 


O deputado relator da Comissão Parlamentar de Inquérito às Parcerias Público Privadas apresentou o resultado do trabalho de uma série de deputados que investigaram o que quiseram e puderam, com mais de duzentas e cinquenta horas de audições. A partir do que, tem sido possível conhecer, era inevitável concluir que os governantes directamente implicados naquele horror, que o Juiz jubilado do Tribunal de Contas Carlos Moreno tão bem desmontou (vd. Como o Estado gasta o nosso dinheiro) deveriam ser indiciados por flagrantes irregularidades de actuação como gestores da coisa pública.

Também a propósito deste assunto, José Gomes Ferreira, há poucos minutos, no Telejornal da SIC, manifestava publicamente aquilo que é preciso que todos assumamos, no sentido de que actuemos em conformidade e não nos envergonhemos por pecado de omissão da atitude cívica que se impõe. Ou conseguimos mobilizar-nos, para que as instituições funcionem regularmente ou, então, mais mês menos mês, aí vai novamente a malta para a rua convencida de que resolve seja o que for, num lugar onde, afinal, mais não se pode fazer do que enviar sinais da incomodidade reinante.

É por demais evidente que os políticos dos dois governos que precederam o actual estarão metidos até ao pescoço nesta história. Mas, naturalmente, outros anteriores, também se terão comprometido. TGV, que ainda foi possível suster, pelo menos na exclusiva modalidade de transporte de passageiros, auto-estradas sem tráfego e não sei que mais quejandos projectos, traduziram-se num brutal e incomportável agravamento da dívida pública, que nós mesmos, nossos filhos e netos teremos de pagar, estando provado à saciedade que tais investimentos apenas se justificaram porque sustentados em estudos encomendados por tais governantes, que acabaram por decidir a partir de dados viciados por si próprios…

Isto é horroroso. Doa a quem doer, esta gente dos partidos do arco do poder tem de ser devidamente responsabilizada. Estamos a sofrer as consequências de práticas que envolvem dolo, lesivas do interesse nacional por oportunistas que abusaram do povo após juramento de lealdade e empenho. São sacripantas, inqualificáveis traficantes de influências, praticantes confessos de todo o tipo de nepotismo, que se perpetuam no poder no quadro de uma Lei Eleitoral propiciadora do cozinhado de listas de deputados caninamente obedientes dos oligarcas mascarados de grandes democratas.

Hoje foi um daqueles dias em que a trampa veio ao cimo da cloaca. Estou nauseado ou, melhor, ando nauseado com o lixo infecto das perversidades de que está sendo alvo a Democracia. Com o meu e o vosso silêncio estamos a desonrar-nos. É escusado usar eufemismos. Esta é a náusea da desonra colectiva. Chegámos a um ponto em que não estamos a ser dignos do momento e, afinal, coniventes com os biltres e porcalhões hoje acusados pelo Relatório de uma Comissão Parlamentar.

Bem sei que somos cidadãos anónimos, reduzidos à liberdade de expressão de suas queixas através das redes sociais, conseguindo veiculá-las em pequeníssima escala mas convencidos da condição de grandes comunicadores que influenciam seja quem for… Pelo menos, por mais nada que façamos, tenhamos como objectivo a capacidade de luta pela luz do entendimento, pela lucidez que, sendo a mais amarga das conquistas, também é a que maior satisfação concede. É que, uma vez nesse caminho, apenas cumpre esperar pela oportunidade de actuar.
 
 

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