[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 13 de julho de 2013



Eleições,
para quê?


[Facebook, 4 de Julho de 2013]


Não tenho a menor dúvida de que a realização de eleições legislativas antecipadas seria a solução mais conveniente para a situação política que o país enfrenta. No entanto, mantendo-se vigente um dispositivo legislativo desadequado e nada propício à renovação dos eleitos, considero que o resultado da consulta se revelaria perfeitamente irrelevante.

Ao PS interessa que funcion
e a alternância. Fundamentalmente, confia em que, depois tanta asneira do Governo do PSD, o pouco esclarecido eleitorado português votará maioritariamente na alternativa PS. Pois, se é assim que vem acontecendo há uma data de anos, porque haveria agora de ser diferente? Na realidade, de tal ordem foram os desacatos, os disparates, a gritante incompetência, que o tal eleitor médio flutuante, pouco informado, sem vida cívica que ultrapasse umas facílimas idas à «rua», se votou PSD em 2011,agora votaria PS, independentemente deque tal opção pudesse garantir qualquer maioria.

Outro resultado extremamente previsível é que seja a da abstenção a verdadeira maioria. E também estou convencido de que muito significativa seria a percentagem dos votos brancos, do eleitorado mais esclarecido, nomeadamente socialista, de esquerda e que, de modo algum, se tem sentido ou sentirá alguma vez representado pelo PS. Desta feita, com o especial inconveniente da actual liderança de António Seguro, nada credível, frouxa, falha de ideias, sem quaisquer credenciais ideológicas, sem ponta de carisma, afinal, apenas senhor de um discurso aparentemente mais enxuto do incómodo neoliberal, mas saco da mesma «farinha Jota» que Passos Coelho.

Mais concretamente, cumpre perguntar para que poderia servir o sufrágio se, quaisquer que fossem os resultados, se manteria sem a mínima alteração a classe política e, nomeadamente, a enquadrada pelos partidos do designado «arco do poder». Andará muito desatento quem não entender que tais partidos mantêm o poder – e se mantêm no poder – porque, quando se avizinham períodos eleitorais, os respectivos chefes se limitam a replicar o «cozinhado» das candidaturas nos termos de uma receita que obedece ao único e simples objectivo de que os futuros deputados garantam a mais canina das obediências.

Enquanto a Lei Eleitoral não for revista, de tal modo que sejam institucionalizados os círculos eleitorais uninominais e, infelizmente, não há quaisquer indícios de que PS e PSD estejam sequer interessados nessa hipótese, a realização de eleições legislativas sempre resultará na perversão da própria vivência da democracia. O círculo eleitoral uninominal não é a virtude absoluta mas, inquestionavelmente, garante a renovação e a responsabilização directa dos eleitos que ficam sujeitos ao directo escrutínio dos eleitores. Em relação ao quadro agora vigente significaria uma revolucionária alteração.

Entretanto, sem qualquer vislumbre de tal revolução, se a «evolução» dos acontecimentos conduzir à realização de eleições legislativas, sei perfeitamente o que fazer. Branco, inequivocamente branco será o meu voto. Só assim poderei ficar tranquilo. Só assim o meu voto não contribuirá para a manutenção de uma classe política envelhecida, degradada, incompetente, medíocre. Mais «cozinhados»? Tenham dó!...

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