[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 13 de julho de 2013


Portugal?
-É assim

[Facebook, 10 de Julho de 2013]


Vasco Graça Moura, autor do poema que reproduzo, não podia ter sido mais lúcido no reconhecimento das vias do nosso desassossego. Reparem como estamos todos, inteiros, nestes versos.

Crónica

eram barcos e barcos que largavam
fez-se dessa matéria a nossa vida
marujos e soldados que embarcavam
e gente que chorava à despedida

ficámos sempre ou quase ou por um triz
correndo atrás das sombras inseguras
sempre a sonhar com índias e brasis
e a descobrir as próprias desventuras

memória avermelhada dos corais
com sangue e sofrimento amalgamados
se rasga escuridões e temporais
traz-nos também nas algas enredados

e ganhou-se e perdeu-se a navegar
por má fortuna e vento repentino
e o tempo foi passando devagar
tão devagar nas rodas do destino

que ou nós nos encontramos ou então
ficamos uma vez mais à deriva
neste canto que é nosso próprio chão
sem que o canto sequer nos sobreviva

Letras do Fado Vulgar

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