[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 21 de agosto de 2013



21 de Agosto,
uma Praga na memória [I]
 
 
 
Lembro-me, perfeitamente, que em 21 de Agosto de 1968, estava em São Matinho do Porto, durante aquele período em que a família saía de Lisboa a meio de Junho para ali permanecer até à primeira semana de Outubro. Depois de terem falado com os pais da Ana, os meus tinham-na convidado para ir passar quinze dias em nossa casa. Era a primeira vez que tal acontecia e, de algum modo, confirmando como a encaravam com seriedade o nosso namoro, quando estávamos prestes a entrar no quarto ano da Faculdade.

Em São Martinho, as manhãs de praia começam invariavelmente muito tarde. As noites longas, por um lado, as neblinas do Oeste, por outro, nunca permitem que se saia de casa antes das onze. Assim também tendo acontecido naquele dia, foi na esplanada do ‘Tábuas’, café há muito desaparecido, que soubemos da notícia.

Por acaso, conservo uma foto desse preciso dia. Minha mãe, uma das minhas irmãs, a Ana e eu, à volta da mesa, bebendo café, acabávamos de saber o que, entretanto, já circulava acerca da invasão da Checoslováquia por vinte mil soldados e cinco mil tanques do Pacto de Varsóvia.

Lembro-me perfeitamente de logo me ter recordado de outro evento semelhante, na Hungria, em 1956, frequentava eu a escola primária. Nessa altura, muitas crianças foram recebidas por famílias portuguesas, como a dos Lino (Vasconcellos e Sousa), meus colegas da escola e amigos, cuja casa, em São Martinho, ficava a escassos metros do café onde nos encontrávamos.

Aos oito anos, um episódio como o da luta nas ruas Budapeste, apesar de não ter tido o mediatismo de eventos posteriores, marcou-me imenso até porque passei a conhecer dois dos garotos recebidos, que estiveram uns dias na nossa escola, e que D. Elisabeth Landeck, a professora, se encarregou de nos apresentar e enquadrar, não escondendo o dramatismo da situação.

Em 1968, nos meus vinte anos, aquele movimento de tropas, que acabou com os «devaneios» da designada ‘Primavera de Praga’, completaram «outros sinais»* que as leituras e contactos universitários, conversas em Paris – nesse mesmo ano, já tinha estado por duas vezes na capital francesa – foram determinantes para que, definitivamente, não mais tapasse o Sol com a peneira que, até então, me toldava o entendimento.
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*«outros sinais» que, amanhã, me levarão à continuação do texto supra.
 
 

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