[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



Stefan Zweig e Robert Musil,
chave para compreender a Europa

  
Muitas vezes, quer no ‘Jornal de Sintra’ quer neste mural do facebook e no meu blogue www.sintradoavesso.blogspot.com, porque faz parte da «minha família mais chegada» de grandes mestres da escrita, tenho eu publicado artigos maiores e menores acerca da personalidade e obra de Stefan Zweig.

Sabem os meus habituais leitores do apreço q
ue, ao longo de anos, tenho manifestado por este autor austríaco, que, entre outros lugares de grande fascínio, também viveu na sua e minha querida Salzburg, aliás, bem perto da casa onde me costumo alojar durante as minhas estadas. Peregrino pelos seus cantos e recantos, coincido nas suas predilecções e fastios, cultivo a condição gémea de uma definitiva afinidade.

Não raro, recorro a “O Mundo de Ontem, Memórias de um Europeu” para oferecer àqueles dos meus amigos que, nessa leitura, encontrarão o lastro indispensável ao sistematizar de ideias avulsas acerca de uma especial Europa onde, tão insensata quanto «compreensivelmente», se gerou e fermentou a guerra, por duas vezes, na primeira metade do século vinte.

Através destas notas dos parágrafos anteriores, ao corre da pena e de uma cumplicidade electiva, compreenderão como tão sensibilizado fiquei ao ler o artigo “Agosto de 1914:’Finis Europae’…”, do meu amigo Viriato Soromenho-Marques, publicado no número 1066 da Revista ‘Visão’ do passado dia 8 do corrente. Logo a abrir VS-M escreve: “(…) Se quisermos compreender a Europa de 1914, é indispensável ler o ensaio de memórias do escritor judeu-austríaco Stefan Zweig, ‘O Mundo de Ontem’ (Die Welt von Gestern, tradução portuguesa Assírio & Alvim, 2005) (…)”.

Não duvidando minimamente de que assim é, tenho-o dito, escrito e repetido. Nesse sentido, à escala da minha reduzida capacidade de intervenção, vou fazendo o possível e o impossível pela divulgação desta obra tão crucial. Faço-o, tão somente, na perspectiva do «taxista virtual», figura que vos propus num texto aqui publicado há um mês, transcrição de um artigo publicado na edição do ‘Jornal de Sintra’ do dia 12 de Julho de 2013, para o qual me permito voltar a chamar a vossa atenção através da publicação de novo «post» dentro de momentos.

Se bem se lembram, a figura do «taxista virtual» aplicava-a eu a mim próprio e a todos os que, através do facebook, blogues e similares, vamos fazendo de conta que somos opinion makers… Fazemos de conta, repito, e afirmamo-lo com este desassombro, porque fazemos o possível por não perder uma certa lucidez, que tanto nos custa manter, e não temos a veleidade de que somos comunicadores de referência, nem sequer da comunidade a que pertencemos.

É que os verdadeiros, os grandes comunicadores – caso do Viriato Soromenho-Marques, João Duque, José Gomes Ferreira, Nicolau Santos, Boaventura de Sousa Santos, Medina Carreira, José Gil, Clara Ferreira Alves, Miguel Sousa Távares, Henrique Monteiro, Daniel Oliveira, entre outros – esses escrevem nos jornais diários de maior circulação, são entrevistados nas televisões e nas estações de rádio.

Fecho o parêntesis, aproveitando ainda a oportunidade para vos propor outra obra, absolutamente fundamental na biblioteca de qualquer amante das grandes Letras e da melhor Literatura de todos os tempos, onde encontrarão, entre outros factores de interesse excepcional, também a frequência de meios e gentes, de um tempo germânico coincidente com o da obra precedente.

Refiro-me a “O Homem sem Qualidades” [Der Mann ohne Eingeshaften], de Robert Musil (1880-1942), numa tradução portentosa do Prof. João Barrento, edição da Dom Quixote. Trata-se de mil oitocentas e trinta páginas, de tal modo imperdíveis, que as alinho com o melhor que escreveram Joyce, Tolstoi ou Proust.

Deixem-me que, a propósito, a finalizar, e em jeito de lamento, vos lembre a cena recorrente dos comboios suburbanos, quando deparamos com gente a perder o seu precioso tempo – escrevo-o sem qualquer pudor – às voltas com a «literatura» de Dan Brown, Rodrigues dos Santos e quejandos. Ainda bem que estão a ler. Mas, santo Deus, o que ganhariam tais leitores se, em vez de tais subprodutos, fossem devidamente sensibilizados e motivados para o acesso às obras cujas referências hoje vos trouxe!...

 
 

Sem comentários: