[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 20 de agosto de 2013



Um avô determinante


O avô era um esteta, um diletante, que soube viver a Arte de maneira muito sábia, como parte indissociável do ritmo dos seus dias. Trabalhava, trabalhava a fotografia e, embora não fizesse o trabalho de laboratório, sabia imenso acerca do assunto e, portanto, como pedir os efeitos que desejava. Fazia parte de um pequeno grupo de amigos com quem se reunia, ali ao Corpo Santo, em regime de tertúlia, grupo do qual fez parte o grande Augusto Cabrita.

Lia, estudava, comparava, concorria imenso e teve a glória de lhe ter sido atribuído um grande prémio Kodak na Feira Mundial de Nova Iorque, para além de inúmeros, a nível nacional e europeu. E, discreto, discretíssimo, austero de princípios e de hábitos, entre o piano, a fotografia, a pintura e trabalhos em madeira, senhor de uma Fé absolutamente comovente, o avô Albano de Sousa é uma referência incontornável da minha vida e completamente decisivo para os interesses culturais que fui manifestando desde garoto.

Ia eu nos meus quinze anos quando, tendo ele verificado que, de facto, era enorme o meu interesse pela História da Música, me ofereceu a sua belíssima colecção de biografias dos grandes músicos. Essa atitude foi absolutamente decisiva para o resto da minha vida, não só porque passei a beneficiar de leituras de excelentes biógrafos - como Romain Rolland, Guy de Portalés, Camille Mauclair, René Brancour, Paul de Stöcklin, René Dumesnil, Charles Gounod, Willibald Nagel, Henri de Curzon, Henri Opienski, Gustave Doret, Alfred Cortot, etc, - mas também por compreender e concluir que, de algum modo, aquela incrível oferta era o reconhecimento de uma vocação em que valia a pena investir, tanto mais que eu apenas era um dos seus quinze netos, alguns dos quais com bons dotes musicais...

Agora, referência à foto. É do avô Albano de Sousa Cachado. Conviveu intimamente com José Relvas em cuja 'Casa dos Patudos', em Alpiarça, viveu durante alguns dos seus mais importantes anos de juventude. Aprendeu a arte da fotografia, directamente, nem mais nem menos, do que com o próprio Carlos Relvas, grande pioneiro português da fotografia Arte.

A qualidade da reprodução não faz jus à peça original. Por isso, com a ajuda de quem sabe tirar partido do fb, em futuras oportunidades, tentarei partilhar outras peças com melhor definição.

Finalizando, a música que se impõe quando lembro o avô. Neste caso, a memória da sua saleta da casa de Belém, onde imperava o belo e raro piano Gotrian Steinweg, (antecedente dos Steinway) um orgulho da família. Ainda sinto o odor estupendo que se soltava do teclado quando, ao abrir a tampa, se retirava o feltro. E, depois de rápidos exercícios para os dedos, atacava uma peça de Chopin. Por exemplo, esta Ballade de Chopin.

Boa audição!




http://youtu.be/w5uyd4jYEaw







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