[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 15 de setembro de 2013



Bocage


Nasceu em 15 de Setembro de 1765 (m. 1805) o autor da peça que passo a partilhar convosco, interessante fábula sobre o poder que, hoje em dia e sempre, me parece muito a propósito

Com o objectivo de se poderem situar em relação à obra geral do poeta (na minha edição, seis volumes*), cumpre esclarecer que este texto é um dos Apólogos ou Fábulas Morais, pertence à Segunda série de fábulas or
iginais, inserindo-se nas Quinze Últimas Fábulas.


 O Leão e o Porco


O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

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*[Eis as coordenadas da edição a que me refiro: Bocage, Opera Omnia, Vol. IV, Dir. Hernâni Cidade, Prep. texto e Notas de António Salgado Júnior, Livraria Bertrand, SARL ed., Lisboa, 1969]
 
 

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