[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 7 de outubro de 2013



5 de Outubro de 1773
Efeméride mozartiana

Sinfonia no. 25

[Recupero um dos meus quarenta textos de introdução à obra sinfónica completa de Mozart, que publiquei durante todo o ano de 2012. Desta vez, porém, introduzi algumas modificações de pormenor.]

Mozart acabou de compor a "Sinfonia em Sol menor, KV 183/173dB" em 5 de Outubro de 1773, apenas dois dias depois da precedente sinfonia Nº 24 - facto que não está absolutamente comprovado - e pouco tempo após o sucesso obtido pela ópera “Lucio Silla”.

Chamo a vossa atenção logo para os primeiros acordes já que foi esta a peça escolhida por Milos Forman para início do “Amadeus”. A propósito, deixar-me-ão reforçar a ideia de que o filme, de modo algum, corresponde a uma biografia do compositor. Coisa bem diferente é a que se passa, ou seja, liberdade ficcional à solta que, de quando em vez, radica em alguns factos biográficos...

Voltemos à Sinfonia desta efeméride de 5 de Outubro há duzentos e quarenta anos. Recordo-vos que Mozart escreveu duas sinfonias em Sol menor, ou seja, esta – também conhecida como a ‘Sol menor Pequena’ e, muito mais tarde, em 1788, a famosíssima Nº 40, KV 550.

Preciso é ter em consideração que a maioria das sinfonias do século dezoito é composta em tom maior, aparentemente, adequando-se muito mais à optimística grandeza e pomposa solenidade do que aos matizes mais escuros e sentimentos mais apaixonados afins das obras em Sol menor.

Pois bem, é precisamente, um pouco nesta linha que se move uma corrente da musicologia pretendendo descortinar nestas peças a marca de um pré ou proto-romantismo, coincidente com o movimento 'Sturm und Drang'.

Em contraste com as sinfonias da década precedente, estas obras têm em comum um uso muito mais frequente do contraponto, súbitos saltos temáticos, maior utilização das síncopes – ou seja, o recurso ao padrão rítmico em que um som é articulado na parte fraca do tempo ou compasso, prolongando-se pela parte forte seguinte – finais mais prolongados e ocorrência muito mais frequente de segmentos em uníssono.

Ainda a propósito, convirá ter presente que, muito antes de ter composto esta Sinfonia KV. 183, o jovem Mozart conhecia todas estas particularidades. Lembremos o que, já a propósito desta série de artigos introdutórios às sinfonias de Mozart, eu próprio referi quanto à KV. 118, datada de dois anos antes.

E, ainda mais extraordinário, se recuarmos ao período da infância, nomeadamente, a 1764 (nos seus oito anos de idade, durante a estada em Londres), quando esboçou num caderninho de notas uma peça para tecla – precisamente, em Sol menor, KV 15 - em estilo quase orquestral, que já captava o carácter tempestuoso que tem sido erroneamente proclamado como original de um período posterior.

A obra desenvolve-se de acordo com a estrutura clássica de quatro andamentos ,1. Allegro con brio, 4/4 em Sol menor, 2. Andante, 2/4 em Mi bemol Maior, 3. Menuetto /Trio, 3/4 em Sol menor e Trio em Sol Maior e, finalmente, 4. Allegro, 4/4 em Sol menor. Ainda de assinalar que haverá influências da Sinfonia No. 39 de Joseph Haydn, que também obedece à tonalidade de Sol menor.

Mais uma magnífica interpretação da Mozart Akademie Amsterdam sob a direcção de Jaap Ter Linden.

Boa audição!

http://youtu.be/kbNl7di8a-A
 

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