- Casino prepara acolhimento
Manhã de 25 de Setembro, a escassos metros de minha casa, em
pleno coração do bairro da Estefânea, grande burburinho na Praça Dr. Francisco
Sá Carneiro, com o Centro Cultural Olga Cadaval e Casino de Sintra em destaque.
Também ali, a sede de uma a candidatura que, em véspera de eleições
autárquicas, evidenciava o efémero movimento de ocasiões que tais. Mas o polo
da curiosidade geral nada tinha a ver com a campanha em curso.
De facto, outra era a razão do reboliço. Imaginem uma enorme
grua, de feição muito high tech, a
base amarelo berrante, com um grande braço, em negro contraste, qual pacífico e
telescópico* canhão que, paulatinamente, encolhendo e distendendo os inúmeros
segmentos, ia obedecendo à sofisticada manobra do operador. Mas que volumes
seriam aqueles que já tinham sido retirados do transportador que os trouxera
até ao local? Pois bem, só através dos reclamos estampados na chapa do camion percebi
que se tratava de equipamento de ar condicionado.
A partir de determinada altura, o braço do guindaste começou
a içar as pesadas embalagens, depositando-as no cocuruto do telhado do Casino, para
ali as deixar em seu sossego. E lá estão, mais ou menos à altura de um prédio
de sete andares, aguardando a devida instalação, para cumprimento da missão
indispensável ao funcionamento daquele espaço, como anfitrião de uma grande
colecção de arte contemporânea.
Lembrando…
É neste ponto do relato que, a propósito, lembro o ao dia 4
de Março deste ano, para recuperar as notícias que tanto regozijo trouxeram a
Sintra. Era a possibilidade de o Casino
receber o esplêndido espólio de Bartolomeu Cid dos Santos, contanto que Município
de Sintra assegurasse as condições estabelecidas pelo protocolo
oportunamente celebrado, com o objectivo da sua conservação, guarda, exposição,
divulgação e fácil acesso por parte de estudiosos e artistas.
Enfim, se a partir
dos sinais do reboliço, for permitido concluir que a Câmara Municipal de Sintra
está em vias de concretizar as tais condições que o Protocolo exige, então só
resta o natural regozijo. Na realidade, ar
condicionado, aquecimento, arrefecimento, desumidificação, ou seja, ambiente
rigorosamente controlado, bem como todas as outras condições de estrutura e
infraestrutura que tenho tido ocasião de referir em anteriores artigos, são
indispensáveis ao acolhimento das peças de um espólio artístico, extremamente
cobiçado por entidades nacionais e estrangeiras, que já é o novo orgulho de
Sintra.
Porque esta mais-valia é resultado do empenho de
três protagonistas, primeiramente, destacarei a minha amiga Maria Fernanda dos
Santos, viúva do artista – cuja decisão a favor de Sintra foi absolutamente
capital, já que tinha outras ofertas, verdadeiramente tentadoras, de
enquadramento e destino da Colecção – o
Prof. Fernando Seara e o Dr. Pedro Ventura, respectivamente, Presidente e
Vereador da Câmara Municipal de Sintra, que concretizaram as complexas e longas
negociações com a competência e sofisticada discrição que o assunto exigia.
Se é impressionante, cerca de cinco milhões de
Euros, o valor em vil metal do património artístico em questão, então, de
montante virtual mas equivalente,
deverá ser a correspondente exigência da maior qualidade dos recursos materiais
e humanos que a Câmara Municipal de Sintra é suposto mobilizar para as
inerentes funções de Direcção, enquadramento técnico, disponibilização e acesso
às obras, serviços educativos e animação artística, etc, que o Casino terá de acolher.
De excelência, tudo do maior gabarito!
O
testemunho de Paula Rego
Acerca do amigo Bartolomeu Cid dos Santos, Paula Rego deu emocionado
testemunho telefónico após a sua morte, em Londres. As palavras de Paula Rego
constituem um autorizado reconhecimento da extraordinária obra do grande
artista cujo espólio Sintra terá o privilégio de acolher no Casino.
"Bartolomeu Cid
dos Santos "era uma pessoa única e um fantástico gravador", descreveu
hoje à agência Lusa a pintora e amiga Paula Rego, que estava presente no
momento da morte do artista plástico, que faleceu hoje em Londres, aos 77 anos.
(…) "Eu estava lá", contou a pintora, por telefone, à agência Lusa,
manifestamente triste pela morte do "extraordinário" amigo. (…)
Amigos "há muitos anos", os dois conheceram-se na capital britânica, onde ambos se instalaram nos anos 1950 e estudaram na Slade School of Fine Art, acrescentou Paula Rego.
Mais tarde, prosseguiu, "quando havia a Sociedade dos Gravadores em Lisboa, ele ensinou-me a fazer água forte, a fazer gravuras e água tinta".
O conhecimento "como ninguém" de gravura, técnica "subtil e difícil", levou a que Bartolomeu Cid fosse convidado a ensinar na Slade. (…) "Ele levava os alunos a ver as gravuras no Museu Britânico, onde se pode pedir para tirar as gravuras para fora e estudar, e dava-lhes oportunidade para ver e tocar nos originais de Rembrandt, Goya e outros", relatou Rego. "Isso é algo que é raro os professores fazerem", elogiou.
Sobre a obra de Bartolomeu Cid, Paula Rego afirmou: "O trabalho gráfico dele é único e ficará para sempre, tenho a certeza". (…) Qualificando a globalidade do trabalho como "excepcional", a pintora destaca alguns objectos de gravura mais recentes, nomeadamente "umas caixas muito engraçadas com espírito e uma certa nostalgia".
Amigos "há muitos anos", os dois conheceram-se na capital britânica, onde ambos se instalaram nos anos 1950 e estudaram na Slade School of Fine Art, acrescentou Paula Rego.
Mais tarde, prosseguiu, "quando havia a Sociedade dos Gravadores em Lisboa, ele ensinou-me a fazer água forte, a fazer gravuras e água tinta".
O conhecimento "como ninguém" de gravura, técnica "subtil e difícil", levou a que Bartolomeu Cid fosse convidado a ensinar na Slade. (…) "Ele levava os alunos a ver as gravuras no Museu Britânico, onde se pode pedir para tirar as gravuras para fora e estudar, e dava-lhes oportunidade para ver e tocar nos originais de Rembrandt, Goya e outros", relatou Rego. "Isso é algo que é raro os professores fazerem", elogiou.
Sobre a obra de Bartolomeu Cid, Paula Rego afirmou: "O trabalho gráfico dele é único e ficará para sempre, tenho a certeza". (…) Qualificando a globalidade do trabalho como "excepcional", a pintora destaca alguns objectos de gravura mais recentes, nomeadamente "umas caixas muito engraçadas com espírito e uma certa nostalgia".
Estou em crer que
melhor não poderia ter lido os sinais que
a grua emprestou relativamente ao
futuro próximo do Casino. Se tudo se conjugar a favor dos interesses de Sintra,
outra conclusão não poderei subscrever senão a de que, feliz e inequivocamente,
se confirma a sua flagrante vocação como casa onde a Arte
Contemporânea se tem conjugado com especial pertinência nos últimos anos.
*telescópico – constituído por segmentos que se encaixam uns
nos outros.
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
Sem comentários:
Enviar um comentário