Com Jorge Calado,
de braço dado!
Como estive fora uns dias, ainda baralho um pouco as referências a lugares e datas anteriores à minha partida. Isto para vos dizer que, assim, de repente, não consigo lembrar-me se foi no passado fim de semana ou no anterior que acedi à crítica do Jorge Calado, sobre "A Filha do Regimento", que se cantou em São Carlos recentemente.
Coitado do Jorge Calado... De facto, no seu perfeito juízo, só por dever de ofício, algum melómano que se preze, se sujeitaria à experiência que, naturalmente, tão degradante, tão aviltante se adivinhava. No meu caso, se querem saber, nos últimos anos, depois da saída de Pinamonti, contam-se pelos dedos da mão, as vezes que fui a São Carlos para uma récita de ópera. Depois do "Ring" do Graham Vick, tenho a impressão que estive no "Don Carlo"...
Isto, para alguém que, durante quase cinquenta anos era assíduo, de assinatura constante... Enfim, posso ser tudo, mas, graças a Deus, ainda não fui atacado de masoquismo. Deixei de ir. Pura e simplesmente. Basta-me olhar para a programação para nem pensar nisso. E que pena eu tenho! Que pena, por exemplo, não poder começar a iniciar o meu neto mais velho, já com nove anos.
Em São Carlos, aliás, além da péssima qualidade das propostas, inimagináveis no único teatro lírico nacional, um escândalo inqualificável para qualquer Governo, também está por resolver um gravíssimo problema de segurança física das instalações que, em qualquer latitude civilizada, já teria levado a encerrar o edifício.
Mas volto a Jorge Calado. Naturalmente, tanto quanto, por ele e por outros testemunhos fui sabendo, outra coisa não podia deixar de ter escrito no suplemento 'Actual' do "Expresso". Apenas vos deixo com uma reflexão.
Qualquer obra prima - pintura, escultura, peça de teatro, ópera, etc, - sê-lo-á sempre, exigindo sempre a melhor apresentação possível. Tanto, ou até mais do que com as Artes Plásticas, em que as peças foram concebidas, acabadas e apresentadas para todo o sempre, na Música, na Ópera, impõe-se que as obras sejam «feitas em tempo», de cada vez em que são apresentadas.
Pois bem, por assim acontecer, não pode, não deve acontecer qualquer concessão ou perversa «tolerância» a um hipotético abaixamento da qualidade, fruto de circunstancialismos diversos, de ordem política, económica, social, etc, que apouque a obra-prima, ofendendo não só o compositor mas também o público destinatário, este que tem direito a partilhar a obra na plenitude das características que a definem e animam.
É por isso que, ao crítico honesto, conhecedor da obra, intelectualmente bem apetrechado, consabidamente exemplar, geralmente respeitado pelas suas análises, ninguém pode acusar de maldade, crueldade, falta de generosidade e quejandas. Jorge Calado pertence a essa estirpe de virtuosos, que sabe o que escreve, porque muito estudou, porque muito viu, porque tem um discernimento inequívoco.
Vamos ao caso de "A Filha do Regimento", ópera exigentíssima a vários títulos, que, aliás, tal como qualquer outra, não pode subir a palco sem que estejam verificadas condições 'sine quae non'. Há um limite mínimo exigível, a partir do qual, de modo algum, poderá apresentar-se a obra. Em São carlos, esse risco está a ser pisado há demasiado tempo. É uma vergonha filha da mais flagrante ignorância e máxima incompetência.
De braço dado com Jorge Calado, só podemos esperar é que muita gente se nos junte.
de braço dado!
Como estive fora uns dias, ainda baralho um pouco as referências a lugares e datas anteriores à minha partida. Isto para vos dizer que, assim, de repente, não consigo lembrar-me se foi no passado fim de semana ou no anterior que acedi à crítica do Jorge Calado, sobre "A Filha do Regimento", que se cantou em São Carlos recentemente.
Coitado do Jorge Calado... De facto, no seu perfeito juízo, só por dever de ofício, algum melómano que se preze, se sujeitaria à experiência que, naturalmente, tão degradante, tão aviltante se adivinhava. No meu caso, se querem saber, nos últimos anos, depois da saída de Pinamonti, contam-se pelos dedos da mão, as vezes que fui a São Carlos para uma récita de ópera. Depois do "Ring" do Graham Vick, tenho a impressão que estive no "Don Carlo"...
Isto, para alguém que, durante quase cinquenta anos era assíduo, de assinatura constante... Enfim, posso ser tudo, mas, graças a Deus, ainda não fui atacado de masoquismo. Deixei de ir. Pura e simplesmente. Basta-me olhar para a programação para nem pensar nisso. E que pena eu tenho! Que pena, por exemplo, não poder começar a iniciar o meu neto mais velho, já com nove anos.
Em São Carlos, aliás, além da péssima qualidade das propostas, inimagináveis no único teatro lírico nacional, um escândalo inqualificável para qualquer Governo, também está por resolver um gravíssimo problema de segurança física das instalações que, em qualquer latitude civilizada, já teria levado a encerrar o edifício.
Mas volto a Jorge Calado. Naturalmente, tanto quanto, por ele e por outros testemunhos fui sabendo, outra coisa não podia deixar de ter escrito no suplemento 'Actual' do "Expresso". Apenas vos deixo com uma reflexão.
Qualquer obra prima - pintura, escultura, peça de teatro, ópera, etc, - sê-lo-á sempre, exigindo sempre a melhor apresentação possível. Tanto, ou até mais do que com as Artes Plásticas, em que as peças foram concebidas, acabadas e apresentadas para todo o sempre, na Música, na Ópera, impõe-se que as obras sejam «feitas em tempo», de cada vez em que são apresentadas.
Pois bem, por assim acontecer, não pode, não deve acontecer qualquer concessão ou perversa «tolerância» a um hipotético abaixamento da qualidade, fruto de circunstancialismos diversos, de ordem política, económica, social, etc, que apouque a obra-prima, ofendendo não só o compositor mas também o público destinatário, este que tem direito a partilhar a obra na plenitude das características que a definem e animam.
É por isso que, ao crítico honesto, conhecedor da obra, intelectualmente bem apetrechado, consabidamente exemplar, geralmente respeitado pelas suas análises, ninguém pode acusar de maldade, crueldade, falta de generosidade e quejandas. Jorge Calado pertence a essa estirpe de virtuosos, que sabe o que escreve, porque muito estudou, porque muito viu, porque tem um discernimento inequívoco.
Vamos ao caso de "A Filha do Regimento", ópera exigentíssima a vários títulos, que, aliás, tal como qualquer outra, não pode subir a palco sem que estejam verificadas condições 'sine quae non'. Há um limite mínimo exigível, a partir do qual, de modo algum, poderá apresentar-se a obra. Em São carlos, esse risco está a ser pisado há demasiado tempo. É uma vergonha filha da mais flagrante ignorância e máxima incompetência.
De braço dado com Jorge Calado, só podemos esperar é que muita gente se nos junte.
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