Concerto Gulbenkian,
CCB, 28 de Novembro de 2013
CCB, 28 de Novembro de 2013
Regressando ontem de uma curta viagem, mal tive tempo de deixar as malas em casa para ir até ao CCB assistir ao concerto da noite. Como sabia o que me esperava, não queria perder. É de Salzburg que conheço ambos os solistas, Henning Kraggerud e Benjamin Schmid, o primeiro, violinista e violetista dotadíssimo, como membro destacado da Kremerata Baltica de Gidon Kremer, o segundo como professor de violino do Mozarteum, violinista absolutamente excepcional a quem, no ano Mozart de 2006, a cidade de Salzburg atibuiu o Prémio Internacional para a Arte e Cultura.
Solistas excepcionais, uma orquestra Gulbenkian em perfeita sintonia com o seu novo maestro titular, um Paul McCreesh que sabe pedir e exigir aos músicos o que o Mozart deixou escrito – ou seja, partituras desinfectadas dos «rodriguinhos» e ademanes romantizados em que grande maioria de maestros caiem sistematicamente – eis ingredientes inquestionáveis que mereciam qualquer sacrifício, mesmo comprometendo o descanso depois de cansativa deslocação a Itália.
Como, tanto aos Concertos para Violino e Orquestra Nºs 4 e 5, respectivamente, em Ré Maior KV. 218 e em Lá Maior KV. 219, como à Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra, em Mi bemol Maior, KV. 364 de Mozart, já dediquei textos de enquadramento e de análise que podem encontrar no arquivo do blogue sintradoavesso, dispenso-me de o repetir. Tão somente gostaria de sublinhar o alto nível das interpretações que o público do CCB teve acesso na noite de ontem e, creio bem, igualmente, na tarde de hoje.
Uma coisa tenho de partilhar convosco acerca da reacção da audiência. Para uma esmagadora maioria dos presentes nos concertos da Gulbenkian, tanto faz assistir a uma interpretação canónica, do alto gabarito da de ontem, como escutar as mesmas peças dirigidas por Lawrence Foster… A exemplo do que, diferentes vezes ouvi Nikolaus Harnoncourt afirmar, aquela estirpe de maestros que, com as suas concessões à facilidade e desrespeito pelas obras, propalam a convicção falsíssima de que a música de Mozart é óptima para fazer uma boa digestão…
Ontem, na primeira parte do concerto no CCB, deixaram solistas e maestro recolher aos bastidores sem qualquer aplauso que os fizesse regressar ao palco. E, na segunda parte, no final da interpretação da Sinfonia Concertante, porque se ouviram repetidos «Bravo», intérpretes e maestro lá tiveram oportunidade de se regozijarem com a orquestra. Ontem ouvimos Mozart «a sério», coisa pouco frequente em Lisboa. Estou certo de que tal vai passar a acontecer, mais frequentemente, com McCreesh que, não sendo um mozartiano incontornável, é suficientemente sério para que Amadé seja servido como merece.
PS:
Para que não fiquem com a ideia de que só em Lisboa acontecem desacatos que vitimam a obra de Mozart, saibam que, mesmo em Salzburg, no santo dos santos, quer na Grosse Saal do Mozarteum quer na Grosses Festspielhaus, já tenho assistido a verdadeiros desaires. Por exemplo, na interpretação da Sinfonia Concertante em apreço, certa vez, com a Camerata Salzburg, dirigida por Sir Roger Norrington, tendo os «galácticos» Gidon Kremer e Yuri Bashmet como solistas, ouvimos as notas todas mas Mozart não esteve lá, cada um tocando para seu lado, certamente por falta de trabalho de ensaios. Enfim, a excepção que confirma a regra.
Gostaria de vos propor uma interpretação paradigmática da Sinfonia Concertante KV 364, com a Filarmónica de Viena, precisamente, sob a direcção de Harnoncourt, com Gidon Kremer e Kim Kashkashian como solistas.
Boa audição!
http://youtu.be/kTa_3JXpIBM
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