Esotérico, exotérico, isotérico
[com fim musical]
[com fim musical]
Na semana passada, ao ler um texto que já não consigo identificar, porque não o registei devidamente, verifiquei que o autor fazia uma confusão cuja frequência me impõe a necessidade de a esclarecer. Para o efeito, recorro ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, permanente e eficaz muleta nestas andanças à volta das palavras.
Pois, então, tratava-se do adjectivo esotérico. Do verbete do dicionário, passo a citar: “(…) 1 diz-se do ensino que, em certas escolas da Grécia antiga, destinado a discípulos particularmente qualificados, completava e aprofundava a doutrina (…) 2 diz-se de todo o ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes (…) 4 compreensível apenas por poucos, hermético.
Provindo do grego esoterikós, em suma, significa oculto, misterioso, em relação íntima com esoterismo, ou seja, uma doutrina à qual têm acesso os iniciados. Eis um exemplo de correcto uso do adjectivo: Na Maçonaria, os Irmãos acedem a um saber esotérico.
Agora, no que respeita a outro adjectivo exotérico teremos: “(…) 1 possível de ser ministrado ao grande público e não somente a um grupo selecto de alunos (…) 3 diz-se dos ensinamentos e doutrinas que, nas escolas da antiguidade grega, eram transmitidos em público 3.1 p. ext. comum, vulgar, trivial. Portanto, com aquele prefixo «ex» inicial (movimento para fora), significa o que é do conhecimento geral, acessível, aberto ao público.
Finalmente isotérico, termo que não aparece registado no Houaiss. Perante a surpresa, pego no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa. “(…) diz-se da linha que une pontos em que a densidade do ar é a mesma”. Portanto, ainda que possa suscitar e confusão com as anteriores, nada tem a ver com elas já que, muito especificamente, apenas se confina aos domínios da Física e da Meteorologia.
No tal texto a que aludi inicialmente, o autor acabou por escrever isotérico embora pretendesse esotérico. Como, em termos ortográficos, isotérico estava correctamente escrito, o corrector do programa do computador, muito naturalmente, nada lhe assinalou. E, como os jornais deixaram de ter homens, profissionais, desempenhando tal tarefa de controlo de qualidade, o resultado é o que se vê…
A propósito de esotérico, conhecem esta versão que vos proponho de um tema de Gilberto Gil? Gal Costa e Maria Bethânia cantam. E o próprio Gilberto Gil está no violão. Primeiro, o poema:
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu prá você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar (não adianta não)
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim
e, por fim, a peça.
Boa audição!
Pois, então, tratava-se do adjectivo esotérico. Do verbete do dicionário, passo a citar: “(…) 1 diz-se do ensino que, em certas escolas da Grécia antiga, destinado a discípulos particularmente qualificados, completava e aprofundava a doutrina (…) 2 diz-se de todo o ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes (…) 4 compreensível apenas por poucos, hermético.
Provindo do grego esoterikós, em suma, significa oculto, misterioso, em relação íntima com esoterismo, ou seja, uma doutrina à qual têm acesso os iniciados. Eis um exemplo de correcto uso do adjectivo: Na Maçonaria, os Irmãos acedem a um saber esotérico.
Agora, no que respeita a outro adjectivo exotérico teremos: “(…) 1 possível de ser ministrado ao grande público e não somente a um grupo selecto de alunos (…) 3 diz-se dos ensinamentos e doutrinas que, nas escolas da antiguidade grega, eram transmitidos em público 3.1 p. ext. comum, vulgar, trivial. Portanto, com aquele prefixo «ex» inicial (movimento para fora), significa o que é do conhecimento geral, acessível, aberto ao público.
Finalmente isotérico, termo que não aparece registado no Houaiss. Perante a surpresa, pego no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa. “(…) diz-se da linha que une pontos em que a densidade do ar é a mesma”. Portanto, ainda que possa suscitar e confusão com as anteriores, nada tem a ver com elas já que, muito especificamente, apenas se confina aos domínios da Física e da Meteorologia.
No tal texto a que aludi inicialmente, o autor acabou por escrever isotérico embora pretendesse esotérico. Como, em termos ortográficos, isotérico estava correctamente escrito, o corrector do programa do computador, muito naturalmente, nada lhe assinalou. E, como os jornais deixaram de ter homens, profissionais, desempenhando tal tarefa de controlo de qualidade, o resultado é o que se vê…
A propósito de esotérico, conhecem esta versão que vos proponho de um tema de Gilberto Gil? Gal Costa e Maria Bethânia cantam. E o próprio Gilberto Gil está no violão. Primeiro, o poema:
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu prá você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar (não adianta não)
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim
e, por fim, a peça.
Boa audição!
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