[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014



Meditando


Aí mesmo à nossa frente, sobre a esquerda média*, o grande «empreendedor» Miguel Pais do Amaral ergueu uma mansão que, aproveitando as fraquezas do «sistema», é prova acabada e cabal da nossa incapacidade cívica de intervenção contra os desmandos de quem, apenas pensando nos seus interesses pessoais, consegue passar por cima dos da colectividade.

Enfim, com o parecer favorável de entidades que era suposto pronunciarem-se, lá se construiu o monstro. Há tanto tempo quanto lá vai o ano de 2008, denunciei o caso em primeira mão, Luís Filipe Sebastião levou o assunto às páginas centrais do jornal 'Público', o assunto seguiu para o Tribunal Administrativo de Sintra...

A poucos metros do Palácio de Seteais, a uma cota mais elevada que a do próprio monumento, arrasou a legibilidade da página de Os Maias em que Eça descreve o cenário que se apresenta a quem, descendo a rampa do belvedere, um pouco antes de passar sob o arco de triunfo, se lhe depara o espectáculo inolvidável.

Sintra perdeu, todos perdemos um património que, em princípio, deveria ter sido respeitado. Mas o grande empreendedor Pais do Amaral ganhou. Levou a sua avante. Uma lição para os sintrenses? Não, de modo algum o creio.

Aliás, a provar que o crime compensa mesmo e, igualmente perante a nossa incapacidade de organização cívica consequente - sem que as denúncias no Jornal de Sintra no meu blogue sintradoavesso, cartas ao IPPAR, idas a reuniões públicas da CMS e Assembleia Municipal tivessem obtido qualquer resultado - o concessionário do hotel, outro «grande empreendedor», do grupo Espírito Santo, consumou a destruição do tanque, travestindo-o em prosaica casa de máquinas, como podem constatar sempre que passarem pelo local que era canto de lazer, profundamente radicado no espírito do lugar.

Para que se não perca a memória ou, se preferirem, para memória futura. E, aproveitando a sugestão de meditação, detenhamo-nos na escuta de Im Treibhaus, uma peça excelente, terceira canção do ciclo Wesendonck Lieder de Richard Wagner, aqui numa gravação datada de 1962, interpretada por Christa Ludwig sob a direcção de Otto Klemperer.

Boa audição!

*At. Não me refiro à pequena construção que se vê na foto.
http://youtu.be/FwZlPGQZ6Fc
 
 
 
 
 
 

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