[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014



Sintra, dois de Janeiro,
primeiro dia de trabalho?
 



Hoje, primeiro dia de trabalho do ano de 2014, não consigo deixar de pensar nos trabalhadores de Sintra cujo último dia de trabalho ocorreu anteontem, 31 de Dezembro de 2013. Hoje, não podendo voltar aos seus postos, vão iniciar a via sacra das intermináveis filas, por um lado, do Centro de Emprego, por outro, da Segurança Social, além dos contactos com
os potenciais empregadores, envio de CVs, enfim, os costumes.

Entretanto, lamentavelmente «do outro lado da barricada», acolitados por uma comunicação social de muito mau estrato, os péssimos decisores políticos – que vamos ter de suportar enquanto não formos capazes de os substituir – toldados pela cega perspectiva neoliberal, acenam com a sacrossanta solução do empreendedorismo para colmatar os malefícios do desemprego.

Ora bem, mais não fazem do que apresentar uma tão requentada quanto perversa alternativa à sua incapacidade de gerar condições para que os sectores público e privado cumpram o desígnio que lhes compete, ou seja, o de oferecer postos de trabalho correspondentes e proporcionais à procura, gerindo os recursos humanos envolvidos de tal modo que, saudavelmente, possa aumentar a riqueza nacional.

Ora bem, no restrito sentido da capacidade de avançar para a constituição da sua própria empresa, o designado empreendedorismo não é qualidade e, tão somente, característica de algumas personalidades, tal significando que, quem a não tiver, não está diminuído, não é um incapaz de fazer frente à vida.

Aos quarenta anos, ainda são jovens os tais sintrenses que hoje encaram o seu primeiro dia de desemprego. Naturalmente, têm sobejas razões para temerem o que os espera nos tempos mais próximos. Com tal idade e, eventualmente, por não serem «empreendedores», arriscam não encontrar novo posto de trabalho porque, com «tão avançada idade», já são considerados facilmente descartáveis.

O que podemos fazer? Pelo menos, ao assumir as nossas sérias responsabilidades geracionais, por não termos sabido preparar um caminho que tivesse evitado a situação em que permanecemos, oxalá saibamos estar à altura do apoio que é necessário disponibilizar.

Propor apoio é, inquestionavelmente, o que importa manifestar, formal e informalmente, apoio aos níveis individual, familiar e da comunidade civicamente organizada, para que tais desempregados sintam que os fundamentais princípios e valores da nossa cultura ainda são o seu e nosso maior recurso civilizacional. Ora bem, isto não é coisa de somenos.
 
 

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