SALZBURG, 30.01.2014 (2)]
Hoje, de manhã, anunciei o programa das festas, tendo tido o cuidado de salvaguardar que, para já, apenas me referiria ao concerto da noite. Espero compreendam que os eventos musicais e de outra natureza são muitos e variados, apenas sobrando umas migalhas de tempo para pôr umas impressões em comum.
Para que tenham ideia do que me está a acontecer com a disponibilidade
de tempo, em muitos anos de Salzburg, quer na Mozartwoche quer no Festival da Páscoa, este é o primeiro em que não estou a conseguir manter o meu diário actualizado no próprio dia a que me reporto. Isso causa-me algum transtorno porque o diário me exige uma disciplina férrea, uma preocupada gestão do tempo. Muito dado às auto-concessões, com argumentos enroupados da melhor lucidez, com o diário não tenho hipótese. Haja o que houver, o registo é sagrado. Pois bem, em 2014, durante o Festival de Inverno de Salzburg, não está a ser nada fácil…
Grosse Saal do Mozarteum, sala esgotada. Por todo o lado, imensos britânicos, ingleses e escoceses principalmente, que se reconhecem bem pelo ‘accent’. Razão? Tocava a Orquestra de Câmara Escoces sob a direcção de Robin Ticciati, coqueluche dos jovens maestros da actualidade que, com trinta anos, já tem um passado «em cima» que parece impossível.
Haja em consideração que se estreou aqui em Salzburg, precisamente na Mozartwoche, em 2007, três anos apenas depois de ter terminado os estudos. Ora bem, importa salientar que, senhor de um talento e sensibilidade fora do comum, foi um protégé de Sir Collin Davis e de Sir Simon Rattle. Na grande Arte, quando os grandes mestres «protegem» um jovem valor que desponta, é muito bom sinal, o reconhecimento de um talento que deve ser potenciado ao máximo, o que nada tem de pejorativo. Enfim, para os invejosos, coitados, alguma coisa terá. Para esses, infelizmente, não há remédio…
Vai no quinto ano de maestro titular da Scottish Chamber Orchestra e, desde o princípio deste ano, sucedendo a Vladimir Jurowski e Bernard Haitink, é o director do sofisticado Festival de Ópera de Glyndbourne. Tem compromissos com as melhores salas de ópera de todo o mundo, desde La Scala de Milão, Covent Garden, ao Metropolitan de Nova Iorque e ao Festival de Salzburg.
Tivesse eu comigo os exemplares do diário referentes aos meses de Janeiro e de Fevereiro de 2007 e poderia transcrever, nos precisos termos, a belíssima opinião que formulei quando o vi dirigir pela primeira vez, percebendo que tipo de profissional da música ele é, não só ali, no palco, mas, essencialmente, durante os ensaios. Não tem «tiques» especiais, cultiva uma postura muito discreta, diria ‘conservadora’ no melhor sentido, e percebe-se perfeitamente que está empenhado num projecto comum com os «seus» músicos.
Não quereria reduzir os meus comentários ao concerto, referindo-me apenas a Ticciati. Cumpre, naturalmente, ter presente o programa que incluiu ‘Sextett’ (Prelúdio) da Ópera “Capriccio” de Richard Strauss; Concerto em Dó Maior para Piano e Orquestra, KV. 503 de Mozart; “Cantus in Memory of Benjamin Britten” e a Sinfonia No. 5 em Dó menor de Beethoven.
Destacarei, como nota menos positiva o Concerto para Piano que teve em Paul Lewis um intérprete apenas mediano, com um touché demasiado duro, resultando, em geral numa interpretação com alguma falta de souplesse. E, francamente gratificante a interpretação da Quinta Sinfonia de Beethoven em que Ticciati teceu um dos trabalhos mais interessantes a que já assisti no domínio das dinâmicas.
Registei verdadeiras «inovações» de leitura que deixaram alguns espectadores à minha volta com olhar algo perplexo mas que, na altura de s manifestarem a avaliação, não regatearam os mais efusivos aplausos e, significativamente, como melhor sinal, uma valentíssima pateada. Verdadeiramente excepcional, aliás, como tem sido geralmente considerada esta proposta sob a direção do jovem maestro, com a qual a SCO tem feito tourné por ocasião do seu 40º aniversário.
Como Arvo Pärt e Richard Strauss também mereceram exemplar trabalho da orquestra, posso concluir, apesar daquela nota menos interessante relativa a Lewis, ter sido mais um momento alto da Mozartwoche.
[Salzburg, 30.01.2014(1)]
1.Agora, às 11,00, Recital de Daniel Barenboim na Grosse Saal do Mozarteum. Vai interpretar, de Mozart, o ‘Adagio em Si menor’ KV. 540, o ‘Menuett em Ré Maior’ KV 355, a ’Gigue em Sol Maior’, KV. 574; de Richard Strauss “Stimmungsbilder” op. 9 –TrV 127 e, de Schubert, a Sonata em Ré Maior op.53 – D 850 ‘Gasteiner’. Como ainda o verei, mas como Maestro, no próximo grande concerto da Orquestra Filarmónica de Viena, então, farei uma súmula da sua actuação durante a Mozartwoche.
Logo à tarde, na Aula Magna da Universidade, o segundo recital de Besuidenhout, em pianoforte, para a execução de mais um conjunto de sonatas de Mozart, pianista de cujo sucesso, no mesmo local, vos dei conta anteontem.
À noite, na Grosse Saal do Mozarteum, a Scottish Chamber Orchestra, sob a direcção de Robin Ticciati, um dos mais promissores jovens maestros da actualidade. Como vêem, «não estamos nada ‘mal servidos»…l numa interpretação com alguma falta de souplesse. E, francamente gratificante a interpretação da Quinta Sinfonia de Beethoven em que Ticciati teceu um dos trabalhos mais interessantes a que já assisti no domínio das dinâmicas.
Registei verdadeiras «inovações» de leitura que deixaram alguns espectadores à minha volta com olhar algo perplexo mas que, na altura de s manifestarem a avaliação, não regatearam os mais efusivos aplausos e, significativamente, como melhor sinal, uma valentíssima pateada. Verdadeiramente excepcional, aliás, como tem sido geralmente considerada esta proposta sob a direção do jovem maestro, com a qual a SCO tem feito tourné por ocasião do seu 40º aniversário.
Como Arvo Pärt e Richard Strauss também mereceram exemplar trabalho da orquestra, posso concluir, apesar daquela nota menos interessante relativa a Lewis, ter sido mais um momento alto da Mozartwoche.
Logo à tarde, na Aula Magna da Universidade, o segundo recital de Besuidenhout, em pianoforte, para a execução de mais um conjunto de sonatas de Mozart, pianista de cujo sucesso, no mesmo local, vos dei conta anteontem.
À noite, na Grosse Saal do Mozarteum, a Scottish Chamber Orchestra, sob a direcção de Robin Ticciati, um dos mais promissores jovens maestros da actualidade. Como vêem, «não estamos nada ‘mal servidos»…l numa interpretação com alguma falta de souplesse. E, francamente gratificante a interpretação da Quinta Sinfonia de Beethoven em que Ticciati teceu um dos trabalhos mais interessantes a que já assisti no domínio das dinâmicas.
Registei verdadeiras «inovações» de leitura que deixaram alguns espectadores à minha volta com olhar algo perplexo mas que, na altura de s manifestarem a avaliação, não regatearam os mais efusivos aplausos e, significativamente, como melhor sinal, uma valentíssima pateada. Verdadeiramente excepcional, aliás, como tem sido geralmente considerada esta proposta sob a direção do jovem maestro, com a qual a SCO tem feito tourné por ocasião do seu 40º aniversário.
Como Arvo Pärt e Richard Strauss também mereceram exemplar trabalho da orquestra, posso concluir, apesar daquela nota menos interessante relativa a Lewis, ter sido mais um momento alto da Mozartwoche.
Sem comentários:
Enviar um comentário