[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014




Sintra,
Casino anima opiniões


Para entenderem os textos que se seguem, deverão aceder, novamente, àqueles que os precedem. Para vossa comodidade, foram publicados, aqui mesmo, no sintradoavesso, no passado dia 27 de Janeiro, subordinado ao título "Sintra, novamente o velho Casino", em transcrição do meu artigo publicado no 'Jornal de Sintra', última edição de 24 de Janeiro.

Nestes termos, por ordem cronológica, passo a reproduzir, do meu mural do facebook, o texto I, subscrito por João de Mello Alvim e, seguidamente, o texto II, com a minha réplica. 



Texto I

Pois João, (de Oliveira Cachado)depois de te (re)ler e esperar que mais alguém expusesse argumentos, mantenho o conteúdo dos “três parágrafos”, http://tresparagrafossegundaedicao.wordpress.com/tag/casino/,
mas acrescento três notas para tentar esclarecer melhor o que então escrevi:

1º A instalação no primeiro andar (?) do Casino de parte da obra do Bartolomeu Cid (que tanto me ensinou enquanto jovem estudante de Belas-Artes), um criador dentro de uma área tão específica das artes plásticas, como é a gravura, não me parece uma prioridade no actual estado da oferta artística em Sintra. Prioritário é a existência de equipamentos para a realização de congressos e conferências, assim como a criação de um polo dinâmico destinado à criação e à oferta cruzada e permanente (artes plásticas contemporâneas, performativas e escrita) privilegiando, criteriosamente, jovens criadores, tanto de Sintra como de fora, nacionais e internacionais, de forma a potenciar públicos para outras iniciativas mais exigentes em termos de leitura (porque os gostos discutem-se, se tivermos conhecimentos para o fazer) numa dinâmica de oferta em rede com os outros equipamentos culturais daquela zona da Estefânia;

2º Exemplo do que não deve ser uma estratégia de direcção de um museu dos nossos dias foi a usada pela (estimável) Maria Nobre Franco enquanto esteve à frente do Sintra-Museu – e esta não é a primeira vez que o digo. A colecção (importante) era de arte contemporânea, a estratégia museológica seguida foi do século XIX, ou seja, o museu imóvel, não activo no catalisar de novos públicos (veja-se, com as devidas distância, o que faz a Tate Modem, o MAC de São Paulo, ou mesmo, desde que rompeu com os conceitos museológicos do passado, o MNAC, Museu do Chiado). Tu falas dos estrangeiros que bateram com o nariz na porta no verão passado, eu estou mais preocupado com os níveis gerais de afluência que esta estratégia gerou, nomeadamente junto dos munícipes não iniciados, e mesmo dos iniciados, mas também dos nacionais e de todos os que têm uma ideia distorcida do que são as artes plásticas, do impressionismo para a frente. Sobre o Protocolo que vigorou, prefiro não falar…;

3º É um facto a existência naquela zona da Estefânia de equipamentos vocacionados para a oferta cultural. Curiosamente – e já que nomeaste esta associação cultural - o Chão de Oliva (CO) já lá estava (ou tinha passado e voltado), antes do Olga Cadaval, do Sintra-Museu e da Vila Alda. Como tal o CO vai, previsivelmente, continuar a desenvolver a sua actividade em rede, ou sem rede (acho que está mais habituado, literalmente, a esta situação…). Mas, como munícipe e elemento do CO, lamento a não articulação da oferta nesta zona, a sobreposição de actividades, a ausência de espaços para novos criadores, o desperdiçar dos dinheiros públicos de forma tão gritantemente desequilibrada, em nome de pretensiosos elitismos que não geram, nem estão interessados em gerar, correntes de público, porque o “público”, são eles. (Declaração de interesses antes do abraço amigo: nunca me passou pela cabeça ser responsável, por um equipamento municipal vocacionado para a oferta artística).






Texto II




Meu caro João De Mello Alvim, muito obrigado pela tua reflexão. Estou como tu, sem motivos para alterar a minha posição. E, muito sinceramente, não percebo a tua insistência no Casino. Trata-se de um espaço reservado, que tem estado a ser beneficiado com equipamento indispensável e obras que a Câmara Municipal de Sintra se comprometeu concretizar no sentido de acolher a Colecção de BCS, na sequência de um Protocolo celebrado com a Cedente, viúva do artista.

O assunto está em andamento, não está esquecido, palavras do próprio Presidente da Câmara Municipal de Sintra, perante minha pergunta na reunião da Assembleia Municipal do dia 27 de Dezembro do ano findo. Quanto ao Protocolo, há uma ou outra alteração em estudo, cláusulas a dirimir entre as partes que se comprometeram em sessão pública da assinatura à qual eu também assisti.


A propósito das tuas palavras supra, ocorreu-me a sua articulação com o projecto geral do actual Vice-Presidente e Vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Sintra, Rui Pereira, que assina um verdadeiro «caderno de intenções» para o sector durante o seu mandato, nos termos subscritos na Agenda Cultural no. 97, Janeiro de 2014. No contexto a que te reportas, chama ele a atenção para a necessidade de aproveitar e potenciar uma série de espaços devolutos que, ao fim e ao cabo, com maiores ou menores dimensões, existem em todas as freguesias, desde escolas, instalações desportivas, espaços fabris, etc.

 
Parece-me que o Vice-Presidente tem toda a razão. Deve ter em mente, e com extrema oportunidade, figurinos afins e/ou idênticos ao da LX Factory de Alcântara. Trata-se de uma perspectiva de trabalho com o maior interesse que, como o próprio Rui Pereira muito bem sabe, e certamente melhor do que qualquer de nós, não tem qualquer pertinência em relação ao Casino, uma vez que, como é público, notório e patente, aquele se trata de um edifício definitivamente comprometido para a concretização de uma iniciativa cultural que, ao contrário da tua opinião, considero da máxima importância para Sintra, pelas razões que tive oportunidade de expor.


Além das capacidades por explorar do Centro Cultural Olga Cadaval, que, em termos da programação, tem «vazios» de espaço e de tempo disponíveis que são um desafio aliciante à argúcia e capacidade de negociação dos agentes culturais da zona de Estefânea com a SintraQuorum, Empresa Municipal, o que não faltam na zona são edifícios efectivamente devolutos, à espera de aproveitamento, tanto do património municipal como particular.


Para já, finalmente – como sabes estou em Salzburg e sem qualquer disponibilidade – um pequeno apontamento em relação à pretensa falta de dinâmica do Sintra Museu de Arte Moderna. Acompanhei de muito perto a actividade da Direcção de Maria Nobre Franco que, com os meios de que dispunha, não podia ter feito mais. E foi muito, geralmente reconhecido como tal. Basta consultar os registos das visitas às exposições para verificar que públicos, escolares de todo o concelho e de todos os níveis de ensino, de idosos e outros foram desafiados às visitas. E os ateliês, os pequenos cursos e outras iniciativas de animação e partilha das condições existentes. Mas, repito, com os meios que foram colocados à sua disposição.



Ainda a rematar e, a propósito dos estrangeiros que «bateram com o nariz na porta», julgo teres entendido mal. De facto, também eu não estou nada preocupado com eles. O episódio, apenas um entre muitos semelhantes, é que confirma como o Casino tem continuado a ser procurado como espaço afim da Arte Moderna, em consequência de uma afinidade com a Arte Moderna e Contemporânea e por ter entrado e nos circuitos.

Quando regressar a Sintra, dentro de uma semana, não faltarão oportunidades para continuar a debater estas questões. Um forte abraço




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