[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014







Sintra
"Marquesa de Cadaval,
uma vida de cultura"


[Hoje, véspera da antestreia, no Centro Cultural Olga Cadaval, de "Marquesa de Cadaval, uma vida de cultura", passo a transcrever o artigo que subscrevi, publicado na edição do 'Jornal de Sintra' que será posta a circular amanhã. O artigo, a duas páginas, é ilustrado com 17 fotos referentes a todas as personalidades mencionadas, às quais só poderão ace...der amanhã, tanto na edição em papel do JS ou no 'site' do mesmo. Este meu artigo também integra um testemunho de João Santa-Clara, o realizador.

ATENÇÂO: A RTP 2, que adquiriu os direitos de transmissão por cinco anos, vai emitir este documentário no sábado às 21.00 horas.]

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Marquesa de Cadaval,
uma vida de cultura

Neste dezassete de Janeiro, dia do seu aniversário natalício e da habitual homenagem anual de Sintra, eis uma breve introdução ao documentário biográfico sobre a Senhora Marquesa de Cadaval, com cerca de uma hora de duração, subordinado ao título supra, filme que será exibido em antestreia, também hoje mesmo, no Centro Cultural Olga Cadaval.

Acerca da sua génese poderei confirmar que as mais remotas primícias remontam ao ano de 2006, tendo-se concretizado à medida que as circunstâncias o permitiram, de acordo com um cronograma de tal modo flexível que as balizas dos prazos se atenuaram, provavelmente, além do máximo desejável.

De qualquer modo e sem equívocos, cumpre esclarecer jamais ter estado em causa a conclusão do trabalho e sua apresentação, sempre de acordo com a matriz programática inicial. Naturalmente, também neste caso, as proverbiais dificuldades de financiamento condicionaram decisivamente o ritmo da produção e, em simultâneo, contribuíram para o prolongamento no tempo do projecto que, só agora, é possível partilhar.

Quanto aos implícitos constrangimentos, a título de exemplo, refira-se a dificuldade de deslocações ao estrangeiro da equipa de realização, que, apesar da imprescindibilidade da recolha de testemunhos de personalidades cuja biografia, de algum modo, se tivesse cruzado com a da Senhora Marquesa e, em especial, daquelas que teriam beneficiado do seu mecenato, sempre se traduziriam em custos significativos.

Na maior parte das circunstâncias, tais impedimentos foram contornados, muito simplesmente, aguardando-se a passagem por Lisboa de alguns dos intervenientes no documentário, invariavelmente, para concertos ou recitais no auditório da Fundação Gulbenkian ou por ocasião das sucessivas edições do Festival de Sintra para, então, se proceder à gravação das imagens.

Momentos inesquecíveis

Independentemente do mérito do documento que, a partir desta altura, o público reconhecerá ou não, importa que, em primeiro lugar, registe e sublinhe o sentimento que, constantemente, presidiu à sua concepção, ou seja, a verdadeira paixão pela admirável figura da Senhora Marquesa de Cadaval, partilhado por todos os elementos da equipa que se envolveu na concepção – João Pereira Bastos e eu próprio, na condição de coautores – Mário João Machado e Vitor Beja na produção, e João Santa-Clara como realizador.

Da admiração e paixão iniciais, evoluímos para a comum assunção da condição de intermediários de uma permanente homenagem que julgamos ser devida à memória de quem, a um tempo, é tão notável figura da cultura portuguesa como da europeia. Apenas delineámos alguns traços da sua biografia, limitando-nos a facilitar a intervenção esclarecedora de personalidades interessantíssimas, algumas já nossas conhecidas, mas absolutamente indispensáveis, cujo contacto também tanto nos beneficiou e enriqueceu.

Vasta é a galeria dos entrevistados, desde os netos Schönborn, Filipe, Maria e Teresa, a todos quantos tendo sido seus amigos, vão aparecendo em diferentes enquadramentos. São eles alguns notáveis das Artes e das Letras, como Maria Germana Tânger, Nella Maissa ou Maria Barroso Soares e João Paes, o ex- Presidente da República Jorge Sampaio e outros próximos como Luís Santos Ferro ou Luís Pereira Leal e artistas da maior notoriedade no campo da música, a nível mundial, a exemplo de Daniel Barenboim, Nelson Freire ou Stephan Bishop-Kovacevitch.

Noutra plataforma, decorrente do âmbito institucional inerente às funções que desempenhavam, também marcam presença os anteriores Presidentes da Câmara Municipal de Sintra, Edite Estrela e Fernando Seara que, em diferentes circunstâncias, tão bem souberam honrar a memória da Senhora Marquesa.

Episódios há, registados neste filme com novos elementos – por exemplo, como o da vinda a Lisboa da diva Maria Callas ou o do solidário apoio ao grande compositor português Fernando Lopes Graça, este emotivamente partilhado por Olga Prats,– que agora podem perdurar na plenitude da sua singularidade, como momentos tão significativos, embora distintos, da intervenção mecenática de Dona Olga Cadaval.

Importa referir que a conclusão deste documentário biográfico não teria sido possível sem as decisivas intervenções da Rádio e Televisão de Portugal, RTP 2, que o adquiriu, assegurando os direitos de exibição pelo período de cinco anos, e da Câmara Municipal de Sintra, através do patrocínio financeiro, atitudes cujo recorte é justo salientar num momento em que tão importante como difícil se revela a aposta neste tipo de produto cultural.

O futuro do filme

Que foi uma grande senhora da cultura europeia, disso jamais nós tivemos a menor dúvida. No entanto, aquilo que, durante os seus anos de actividade mecenática, foi tão evidente em determinados meios mais ou menos restritos, preciso é que seja cada vez mais publicamente reconhecido, não só neste país, que tanto lhe deve, mas também noutras paragens onde o documentário puder chegar.

E, para que conste, não haverá perda de tempo. Por isso, à antestreia do filme seguir-se-á, logo no imediato dia 18, a sua emissão, pelas 21.00 horas, no segundo canal da RTP, portanto, na primeira das transmissões televisivas através das quais se vai concretizar um percurso de divulgação nacional e internacional da figura da Senhora Marquesa de Cadaval.

Se, inicialmente, circulará via TV, igualmente está prevista a disponibilização em suporte DVD, incluindo uma edição destinada ao trabalho nas escolas, com recurso a um guião de exploração pedagógica já em adiantada fase de elaboração. De algum modo, a apresentação do filme, quer pela televisão quer naqueloutra modalidade, constitui não o fim seja do que for mas o prelúdio de uma nova fase de trabalho em que se impõe a animação do documento.

Finalmente, permitam que convosco partilhe uma impressão tão franca como sincera. Perante o desafio da participação num trabalho cujo objecto é a fascinante personalidade da Senhora Marquesa de Cadaval, fica-me a dúvida de ter estado à altura. Sei, isso sim, que será sempre possível fazer mais e melhor.

Estou em crer que, futuramente, não faltarão escritores, cineastas, músicos que, na sequência de Marquesa de Cadaval, uma vida de cultura, ainda mais interpelados se sentirão no sentido de produzirem artefactos dignos da Senhora Dona Olga, comigo coincidindo nesta atitude da mais justificada humildade.

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]


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João Santa-Clara, realizador

Se assinei Marquesa de Cadaval, uma vida de cultura como realizador, tal não significa que este não seja um trabalho resultante de um certo tipo de artesanato em que todos os elementos da equipa que o concretizou intervieram nos vários domínios independentemente da sua especial afectação a este ou àquele sector.

O grande factor aglutinador é a própria figura da Senhora Marquesa. Por ela, todos temos um carinho, uma admiração, uma verdadeira paixão, que nunca pensei pudesse acontecer em circunstâncias análogas. Porém, julgo que posso ter ficado muito aquém do que a Senhora Marquesa de Cadaval mereceria.

Ela é tão especial, tão sofisticada, que sempre me senti a tratá-la com pinças, à distância respeitável devida a quem, tendo sido tão acessível e prestável durante a vida, permanece longínqua, paradigma da aristocracia na melhor perspectiva, isto é, assumindo os privilégios do nascimento como responsabilidade de se traduzirem num constante serviço aos outros.

A propósito deste trabalho, apetece-me glosar as palavras do cineasta chileno Patrizio Guzmán que, em recente passagem por Lisboa, afirmou que “(…) o documentário é a música de câmara do cinema (…)”. Trata-se de expressão muito feliz que bem se aplica a este nosso modesto artefacto. E, afinal, de certo modo, também tivemos a Senhora Marquesa de Cadaval como nossa mecenas… Sob o seu patrocínio, com este concerto de música de câmara, ficámos pessoas algo diferentes, enriquecidas, melhores.

1 comentário:

Carlota disse...

A eloquência da narrativa é evidente e fascinante, mas porque não ir um pouco mais além e não deixar de revelar todo o retrato na tela magnífica que tão bem sabe compor.