[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014



Concerto Gulbenkian
16.02.14, reabertura do auditório
 
[facebook, 16.02.2014]


No dia em que a programação da Temporada 2013/14 da Fundação Calouste Gulbenkian nos propõe a audição do “Requiem” de Fauré – que coincide, não esqueçamos, com a reabertura do Grande Auditório da Av. De Berne, depois de
oito meses de profundas obras de remodelação - venho propor-vos que, à guisa de preparação para o concerto desta tarde, ouçamos essa belíssima peça.

Se me permitirem a ousadia, convidar-vos-ia a reflectir sobre a Morte, com o objectivo de que assumamos a vida como fugaz e efémera passagem, o mais possível libertos da matéria, libertos do «ter» e a caminho do «ser». Como crente católico e maçon, não posso estar mais de acordo com a convicção de que a Morte é «a grande amiga» – como afirmava o também católico e maçon Mozart – que abre a porta a uma dimensão de vida outra.

Após a ousadia do convite, lembraria que, dos compositores que conhecemos, nenhum ignora esta perspectiva na sua Missa dos Mortos. Naturalmente, também isso se passa com a obra que vos trago, na sua terceira versão, o "Requiem em Ré menor", op. 48 de Gabriel Fauré (1845-1924). Datada de Paris, aos 12 de Julho de 1900, é a segunda versão, em reorquestração para grande orquestra que, tal como na primeira versão, preserva, contudo, uma sobriedade notável e absoluta «limpidez».

Foi o compositor quem selecionou os textos. O 'Benedictus' é substituído pelo 'Pie Jesu', enquanto que os dois últimos versículos da Sequência dos Mortos e a antífona 'In Paradisum' bem como o responso 'Libera me' pertencem à liturgia da Sepultura. Acerca do ‘Pie Jesu’ deste Requiem disse Saint-Saëns ao seu aluno Fauré: ”Ton Pie Jesu est le SEUL Pie Jesu, comme l’Ave verum de Mozart est le SEUL Ave verum’’. Que palavras tão pertinentes !... Não conheço outro Requiem que suscite uma consolação mais serena, nenhum que apresente assim a morte, como desfecho muito mais feliz do que doloroso.

Ainda que pretendamos alhear-nos das circunstâncias próximas da composição, não podemos deixar de ter em conta que Fauré escreve esta obra entre crises de depressão, na sequência da morte do pai e da iminente morte da mãe. Também é interessante ter em consideração que a estreia aconteceu em 16 de Janeiro de 1888, na igreja de La Madeleine, em Paris e que, precisamente um século mais tarde, Philippe Herreweghe assegurou a primeira execução pública da terceira versão, dirigindo La Chapelle Royale, no mesmo conhecido templo da capital francesa.

Nesta gravação, colhida ao vivo na sala do Concertgebouw de Amsterdam em 23 10/1997, as vozes solistas são de Sibylla Rubens (soprano) e Detlef Roth (barítono), canta o Netherlands Kamerkoor e toca a Royal Concertgebouw Orchestra, nem mais nem menos do que sob a direcção de Philippe Herreweghe.

Boa audição!
http://youtu.be/Rv8oOIV7QEw
 
 

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